Para quem estava começando, até que estava indo bem. Consegui utilizar um pouco de minha inteligência - e lógica - e meus poderes como semideus para neutralizar o ataque de minha oponente. Quando nos preparávamos para engajar novamente o combate, fomos surpreendidos com uma voz bizarra que eu não sabia se estava no ambiente ou se tinha se projetado na minha mente. A julgar pelo olhar no rosto de minha inimiga, parecia que ela também tinha escutado. Hesitei em atacá-la, então vimos algo que parecia ser uma mulher cruzando o céu e caindo ao sul. Pelo pouco que pude ver, ela não portava nenhuma arma ou armadura, o que dada a ocasião, era bem estranho. Também não parecia estar vestida como os curandeiros, então o que diabos alguém desarmado estaria fazendo no meio de uma mini guerra como aquela?
— Trégua? Eu acho que tem alguma coisa errada.
Eu disse, me movimentando lentamente em direção a onde a menina deveria ter caído, sem dar as costas para Queen.

Resolvi acreditar que a garota não iria me trair enquanto estivéssemos nessa trégua, então resolvi abaixar a guarda um pouco em relação a ela. A situação estava mudando e de fato não parecia muito prudente atacar a única pessoa que poderia me ajudar ali caso algo acontecesse.
Meu pai sempre me dissera para não correr com facas ou garfos na mão, mas naquela hora eu provavelmente tinha esquecido disso. Corremos brevemente até onde seria o local de impacto da mulher e o tempo todo eu segurava firmemente o cabo de Wasaki. De repente, eu me sentia como se estivesse no submundo. Não que eu estivera lá alguma vez, mas era o que aquele cheiro de podridão me fazia pensar. Romanos. disse uma voz macabra. Quando viramos o rosto para ver quem chamava, nem mesmo a frieza de um filho de Quione impediu meus pelos dos braços de se eriçarem. A primeira vista, pensei que pudesse ser uma deusa ou algo do tipo. Pela aparência, chutaria que fosse uma deusa menor filha de Plutão ou coisa assim. Olhei para Queen.
— Acho que devemos... — Sussurrei para ela, colocando a espada para trás e fazendo uma breve reverência à mulher, por mais bizarra que fosse. Estávamos no acampamento, as chances de um monstro estar ali eram baixas.
— Senhora...? — disse enquanto fazia a reverência, com a mão esquerda sobre o estômago e a direita esticada de modo que minha espada ficasse apontada para trás de meu corpo.

A mulher se aproximou de nós e levou nossa intimidade para o próximo nível ao percorrer nossos cabelos com o dedo. Em situações comuns eu teria achado ousadia demais, mas dado o fato de que ela parecia divina, decidi não mostrar insatisfação. Sem me dar muito mais tempo para pensar em qualquer outra coisa, seu toque nos envolveu em uma espécie de transe e, de repente, estávamos flutuando acima de uma ilha. Espera, flutuando? Infelizmente (ou felizmente?) eu não tinha controle sobre meu corpo, então o máximo que eu podia fazer era olhar para baixo e, bem, entrar em desespero. Após sermos informados sobre uma missão, podíamos falar novamente, mas antes que eu pudesse abrir a boca, pensar sobre a missão ou me dar um crédito por ter acertado que a mulher era uma deusa, não que tivesse sido difícil, começamos a cair. Foi horrível. A sensação era como se eu estivesse sonhando, confortavelmente na minha cama, com a diferença de que eu não podia acordar. Acho que nunca tinha gritado tanto na minha vida até agora e estava muito feliz de ter compartilhado esse momento com alguém. No fim da queda, podia jurar que tinha quebrado todos os ossos do meu corpo e rompido cada fibra, mas não foi o que aconteceu. Não senti nada além da areia fofa sob meu corpo. Me levantei, olhando ao redor e principalmente para a placa que sinalizava onde estávamos.
— Que droga foi essa? — Perguntei, ainda assustado. — Não podíamos ter vindo de avião?
Chequei pelos itens que havia levado para os jogos, que felizmente ainda estavam comigo. Suspirei aliviado e me virei para a menina que me acompanhava. Parece que agora definitivamente não seríamos inimigos.
— Você está bem? Que lugar é esse, México?

Pela expressão no rosto da garota, ela devia estar amando estar ali. Claro, quem não amaria? Uma praia linda como aquela, o calor que só o mar podia amenizar. Para mim, um filho de Quione, aquele não era um dos melhores cenários para mim mas não ia reclamar. O que é aquilo que dizem, carpe...? Tateei o cabo de minha espada, um pouco preocupado com o que os mortais estariam vendo. Certamente não veriam um adolescente com uma espada gélida, mas não seria muito melhor se me vissem carregando uma espingarda.
— Brasil, é? Parece bem legal, devo dizer. — Sorri de canto, me virando para ela novamente. — Parece que você acabou de entrar no paraíso. E se procurássemos alguém que anda esquisito com chapéu? Se ele está no meio dos turistas, então precisaria se disfarçar. E a propósito, meu nome é Kyle.