A dor do macaco preenche a filha de Ceres com agonia e raiva. A sede por vingança falou mais alto. Ninguém faria aquilo com George e sairia ileso. Ninguém. A centuriã entrega a criatura ferida ao sátiro, que segurou trêmulo e com medo, olhando com uma expressão de surpresa. Era curioso como o sátiro não havia farejado o vampiro ou alertado a menina. Mesmo assim, não havia tempo para pensar. Aurora promete a Salvatore um acerto de contas e aguarda a vinda da criatura.

O vampiro se adianta, gingando para o lado no instante em que uma lança se materializa e vai em direção ao seu peito. A camisa a qual ele vestia se rasga com o ouro imperial e um corte se abre em seu peito, manchando o metal em um sangue azulado e viscoso. O bonitão tenta se aproximar, abrindo a boca e recebendo algo que não esperava. Folhas voam na direção do seu rosto e, embora fosse rápido, o ataque surpresa havia o pego. As lâminas atingiram suas bochechas e se fincaram na carne, fazendo com que ele urrasse de dor e as expulsasse com as mãos. Se afastou, com o nariz e boca tremendo em meio à raiva. O ferimento no peito borbulhou e pouco a pouco não passou de uma mancha na pele, cicatrizado. O rosto no entanto, permanecia ferido. Ele estava a 3m.

- Cansei de brincar-

A filha de Deméter pega um dos morangos em seu bolso e arremessa quando o vampiro já estava em meio ao seu avanço. Já atento a arremessos, ele salta para o lado. Contudo, não eram lâminas. Ramos partem das sementes, se enrolando em seus braços e pernas em meio ao ar e se enrolando ao seu redor. A garota havia entendido que ao feri-lo, ele regeneraria. Mas preso ele nada podia fazer.

- Vou caçar você - Prometeu ele. A menina retira a jaqueta da criatura e sai com o sátiro do estabelecimento. Correndo e ouvindo as gritarias logo atrás, provavelmente das garçonetes. Lanchonete Orip Mav. Vampiro ao contrário.

Um carro amarelo encostou ao lado, buzinando e sinalizando para a menina entrar. Aparentemente tinha o design de um táxi comum, embora os dizeres estivessem em outro idioma. A garota entra pelo banco traseiro e o motorista olha surpreso para o macaco ferido e o homem bode sem camisa, o que certamente pareceria um homem pelado para a reação dele. Começou a gritar perguntas em outro idioma e apontar tanto pro rabo ensanguentado do animalzinho quanto pra parte inferior do rapaz, virando os olhos como se fosse algo obsceno. Eles estavam parado não muito longe da lanchonete e se permanecessem ali por muito tempo, seriam alcançados. Theo olhava para a menina tremendo, sem saber o que fazer. Era como se quisesse falar algo, mas diante da tensão estivesse paralisado. Mesmo que Aurora o perguntasse algo agora, certamente ele não teria condições de dar uma resposta concisa.

Aurora tenta dialogar com o motorista, que compreende o destino e, uma vez pago com o dinheiro de salvatore, nada reclama e segue viagem. Aurora pega um pouco do seu cantil de cura e goteja no ferimento. O animal se agarra nela, apertando com força os braços e gritando alto, fazendo o motorista falar alto algo que certamente seria um xingamento em português. Não era uma erva apropriada, mas parecia ter ajudado.

Theo olha para a menina e dá um suspiro. O sátiro encosta as mãos na cabeça de George, que para de tremer por alguns segundos, como se tivesse uma momentânea paz. O ferimento havia parado de sangrar e, por mais que não estivesse nos seus 100% aquilo havia sido o suficiente.

- Eu sinto algo de diferente, Aurora. É mais poderoso do que eu esperava. Meu pai... ele é mais forte do que eu. Só de estar aqui meu corpo já está sentindo os efeitos. - Confessou, talvez tentando se justificar pela lerdeza desde o momento em que chegaram à Salvador. Após alguns minutos, eles chegam ao aeroporto. Haviam pessoas e saindo com frequência, talvez pelo horário movimentado naquela manhã. Apesar de não conhecer bem o local, as placas de indicação estavam tanto em português tanto em inglês, sinal de que os profissionais do lugar teriam como ajudar a menina em seu idioma nativo. O taxista para o carro, aguardando que eles saiam e gritando "fuck tu porra", seja lá o que isso significasse.

Aurora mostra compreensão com o sátiro e compaixão com o macaco e, sem perder tempo, entra no aeroporto e compra roupas para o sátiro, usando o cartão de Salvatore. Agora devidamente trajado, o homem bode seguia Aurora com certa agonia, como se não estivesse acostumado a usar calças e isso o incomodasse, mas aceitando mesmo assim. Ao chegar no guichê, ela compra as passagens e a mulher fala que o próximo vôo sairá em uma hora. Ela então é encaminhada para a área de espera, onde em meia hora passará pela revista das bagagens. Lá, uma das funcionárias da empresa se aproxima e a avisa a respeito de George.

- Senhora, não pode embarcar com ele. Sinto muito - Disse, se retirando antes que arrumasse encrenca. Eram normas da empresa. Mesmo com esse empecilho, a prole de Ceres conseguia perceber algo estranho mais adiante. Dois homens falavam no telefone e vez ou outra encaravam o sacerdote ao lado da legionária, sussurrando algo como se claramente estivessem conversando um com o outro. Estão a mais de 15m, sentados lado a lado em uma das cadeiras do aeroporto.

Aurora opta por não esperar ou tentar argumentar. A centuriã ainda não controlava bem a névoa e seria difícil convencê-los a deixar george embarcar. A filha de Ceres caminha a passos rápidos para fora do lugar, indo na primeira locadora de veículos que encontra. De fato, era comum que estabelecimentos como esse estivessem nas proximidades. Lá chegando, a vendedora pede os documentos da menina, mas quando recebida por uma boa quantidade de reais, ela simplesmente ignora.

O dinheiro fora suficiente para alugar uma picape S10 por um dia e a mulher disse que ela possuía um rastreador, dando-lhe um mapa e pedindo para que a deixe em algum dos pontos marcados. Mas o plano da garota não era esse.

Aurora entra no carro e sai com certa dificuldade, já que não tinha tanto costume com automóveis. O carro, no entanto, era moderno e automático, praticamente a auxiliando com tudo. A viagem para a amazônia seria de três dias, segundo o GPS e o dinheiro na carteira era suficiente para gasolina, mas talvez não para lanches no meio da estrada. Ao passarem pelo aeroporto, ela pôde ver de relance três figuras passando correndo na direção do lugar. Salvatore era uma delas. Talvez as compras feitas tivessem o alertado. Mesmo que tenha perdido a chance de ir de avião, Aurora havia conseguido escapar de um outro confronto.

- E-eu não sei - Respondeu o sátiro, ao ser perguntado sobre o Flu - Assim que chegamos eu talvez poderia, mas cada minuto aqui eu me sinto... perdido. Mas se você me pedir, eu posso tentar. Qualquer coisa pela missão. Eu acho que posso - Eles pegaram a rodovia indicada pelo computador de bordo e partiram. A próxima cidade iria demorar 30 minutos a 100 por hora. O carro possuía um limitador de velocidade, então toda vez que passava disso, um zumbido irritante era ouvido do painel.

Após algum tempo, ela viu um carro menor, talvez um gol antigo acompanhando-os. Poderia ser só um viajante. Voltando sua direção para a estrada, Aurora viu algo sair das moitas e fazer sinal para que parasse. Era um homem de capuz preto com um item longo nas mãos, provavelmente armado. Ela poderia tentar escapar, mas o carro certamente não era blindado.