Talvez o relógio sempre se movesse tão devagar. O intervalo entre o movimento dos ponteiros parecia eterno. Leonardo estava fissurado com os relógios havia um bom tempo, e não era à toa. No dia anterior havia tropeçado em uma ampulheta, e no dia antes desse havia encontrado um relógio de bolso no seu casaco.
O tempo era algo que assustava os semideuses. Cronos havia sido derrotado, mas todos sabiam que um dia ele iria voltar. E por isso sempre que algum incidente envolvendo tempo surgisse, Quíron deveria ser chamado. Mas agir sem entender a situação não é algo típico dos filhos de Atena. Porém, ele tinha a plena certeza de que havia algo estranho acontecendo ao seu redor. E como sempre, Leonardo estava certo.
O garoto decidiu sair do seu chalé pra respirar um pouco. Andou por entre as coloridas casas que representavam os deuses, até se aproximar da floresta, onde um grupo de filhos de Apolo e outros interessados por Arco-e-flecha treinavam suas miras. Parou para ver como os novatos estavam indo. Eles atiravam rápido, repetidas vezes e errando mais do que acertando. A cada flecha disparada, mais devagar eles atiravam. Seria cansaço? Os novatos estavam ficando tão moles assim? E tudo foi ficando mais devagar. Mais devagar. Uma folha voa pelo vento na frente do rosto de Leonardo, e para. Não só a folha ficou estática no ar, mas também algumas flechas disparadas. De repente, a única coisa no mundo que se movimentava era o próprio filho de Atena.
Não... Algo mais se movia. No horizonte areia dourada movimentava-se pelo ar, tentava assumir alguma forma, mas não conseguia. Ela se aproximou do filho de Atena, perto o suficiente para Leonardo sentir-se ameaçado.
- Leste...
O som surgiu da areia dourada, como um sussurro esforçado de alguém no seu leito de morte. E a areia simplesmente dissolveu-se no ar novamente. A folha caiu, e as flechas voltaram a ser disparadas.