Ver o desgosto nos olhos da filha de Zeus era desagradável. Ela ainda tinha aquilo, sabe? Aquela vontade de mudar o mundo, aquela sede insaciável por justiça. É algo que costuma morrer frente às primeiras adversidades, quando conhecemos os homens e seus desejos, quando nos vemos incapazes de mudar a correnteza, e então desistimos de lutar e nadar na direção contrária.
Ela ainda se debatia num redemoinho de decisões, nadava e balançava os braços em diversas direções. Algo dentro de mim invejava essa perseverança, algo que eu não sentia há mais de 120 anos.
Ao subir no navio coberto de névoa, eu pude sentir os espíritos. Respeitavam-me como um bandido respeita a um policial. Nem eu, nem Tânatos éramos muito fãs dos espíritos prisioneiros de Ares e dos outros Deuses. Por vezes, o Deus da Morte e eu acabávamos entrando em boas confusões para tentar findar este fadário, entretanto, não sabia dizer ao certo se aqueles espíritos estavam ali porque queriam, ou se foram presos por Poseidon naquele barco.
Não poderia me dar ao luxo de criar uma discussão com o Deus dos mares, primeiro por este estar nos ajudando, e segundo por estarmos entrando em seus domínios. Contive naquele instante a vontade de fazer a travessia daquelas almas. Chamou-me a atenção que deram para Alana, e tendo noção de que ela não perceberia a pressão sobre ela até que alguém avisasse, eu disse:
- Eles precisam de ordens. Guie-os ao mar de monstros. - Fui até a proa, e me sentei enquanto aguardava o início da viagem.