Guardei a espada, e tentei deixar minhas expressões mais leves. Normalmente não é difícil, sou uma pessoa bem humorada, mas naquele momento eu senti meu rosto lutando para grunhir e rugir, como fazem os leões.


- Raiva? Cara, eu sou a pessoa mais de boa que você vai conhecer nesse mundo. - Falar isso facilitava esconder as expressões. Lembrei-me de quando dei o maior dos cuecões em Kyle, meu irmão, em uma das raras vezes que o vi. Foi algo divertido de se ver passando pela cabeça. - Aliás, temos Taylor aqui, uma filha de Atena inteligente e que sabe liderar como ninguém.


Cruzei os braços e lancei um sorriso. Não estava falando aquilo apenas para o espírito, mas para mim também. Sim, eu tinha Taylor.

Ele queria ir. Algo dentro de mim vibrou ao saber disso. Não sou alguém que costuma se sentir feliz, muito menos alguém que comemora, mas saber que ele iria estender a mão foi o suficiente para acalentar meu coração. Parece estranho, eu sei, mas depois de tantos anos trabalhando como ceifadora de almas eu acabei me apegando aos espíritos.


As almas, quando perdem seus corpos, são apenas andarilhos moribundos, sem destino e sem razão para existirem. Quando não vão para o pós-vida, acabam se transformando em coisas vazias, e viram alvos para o desespero e criaturas que se alimentam de espíritos. Não dá pra evitar sentir empatia.


Quando o choque interrompeu nossa conversa, senti-me com raiva por um breve instante, mas pensei na importância da missão, que não era menor que a do meu trabalho. E olhei ao redor. De que entrada estavam falando?

Suas palavras eram... como as de alguém com propriedade para falar sobre isso. Tinha aquele tom, sabe? Aquele tom que faz até os ignorantes perceberem que estão errados, mesmo em toda a sua incapacidade de entender o porquê. Eu me sentia assim naquele momento, uma ignorante.


- ...


Tentei falar alguma coisa, mas minha boca simplesmente se abriu incapaz de emitir qualquer som, enquanto diante daquele espírito eu não sabia que tipo de reação eu deveria ter. Por um momento desejei que eu pudesse colocar uma folha de papel com olhos e um sorriso desenhado, mas acho que nem isso seria capaz de encobrir a paisagem expressa na minha cara - que por sinal deveria ser alguma colina hollywoodiana escrita: idiota -, mas por sorte não precisei pensar tanto nessas palavras, uma movimentação estranha e vários barulhos me distraíram para o convés.


Decidi pensar em tudo aquilo depois. Talvez, finalmente fosse agora a minha hora predileta: a ação.