O dia havia começado tarde pra mim, depois de perder o pé e passar um período completamente manco havia adquirido o hábito de acordar tarde...quase me entreguei completamente à deficiência, se não fosse pelo Roran, o melhor forjador do acampamento; por que eu não forjei? Bom, minha habilidade com as forjas ainda é muito inicial, eu ia literalmente ter uma perna de pau e jamais ia conseguir fazer coisas muito complexas, tipo correr.

De qualquer forma, ainda estava me acostumando com a ideia de ter um pé mecânico, então no começo era bem comum me ver ainda mancando, confiando meu peso apenas no pé canhoto (o bom), mas o trabalho de Roran havia ficado perfeito, não demorou muito até eu estar completamente habituado e passar a andar de forma normal.

Vesti a bota por cima do pé, não queria ficar chamando a atenção andando por aí com um pé reluzente, quanto menos pessoas soubessem do ocorrido era melhor. Rumando para o refeitório, me deparei com uma lista de inscrição para o teste dos guardas, uma das linhas de defesa do acampamento...e por que não? Assinei o meu nome no papel, ainda faltavam quatro horas para o teste, teria meu tempo de almoçar e reunir meus pertences.

Sentei-me na mesa destinada ao chalé nove, poucos dos meus irmãos costumavam almoçar exatamente ao meio-dia, isso quando decidiam comer no refeitório. Observei o prato a minha frente trazer, de imediato, um pedaço de lasanha conforme o meu desejo e o comi com tranquilidade, deixando uma parte da refeição que era jogada na fogueira em sacrifício aos deuses...talvez mais do que nunca eu fosse precisar da visão deles hoje.

Regressei ao chalé, estava realmente ansioso para o teste e, mesmo faltando horas para o início dele, juntei cada um dos meus pertences e me sentei no beliche, aguardando o horário correto para me adiantar ao campo do teste, o tigre autômato deitado imóvel no chão, aguardando meu comando.

Itens escreveu:Equipamentos:

- Martelo Grande
- Adaga
- Escudo Médio [Cabeça de Minotauro deformado entalhada)
- Armadura Espartana Completa (Bronze)

__________________
Acessórios:

- Isqueiro Zippo
- Em Chamas! -1-
- Tigre Autômato [bronze celestial]**
Pé Mecânico [Bronze celestial e Oricalco] - 3
__________________
Mochila:

- 7x Poção de Cura [Heroico]
- 2x Poção de Energia [Heroico]
- 2x Poção de Energia [Comum]
- 2x Poção de Cura [Comum]
- Barra de Ambrosia [3/3]*
- Cantil de Néctar [3/3]*
- 2x Poção de Energia [Mítico]
- 2x Poção de Cura [Mítico]

Jayce se prepara para ir até a arena, onde os novos recrutas deveriam comparecer para participar da seleção de guardas. Ali, haviam 12 semideuses, sendo 3 filhos de Ares e os demais filhos dos outros deuses olimpianos (só não tem Hera e Héstia no meio por motivos óbvios).

Do outro lado estavam 3 guardas: Charlie, filho de Ares e comandante do grupo, e ao seu lado, Amanda, representando os Turtur e Shouto Koda, um filho de Hades mudo que geralmente acompanhava o filho de Ares nas peneiras. Ele tinha uma prancheta e parecia ser o responsável por fazer anotações e observações gerais do teste.

Todos os candidatos formaram uma fila para falar primeiramente com Amanda, uma filha de Atena da divisão Turtur. Ela passa para eles um formulário onde deveriam ser respondidas as seguintes questões:

Nome:
Filiação:
Idade:
Possui alguma deficiencia física ou problema de saúde? Especifique.
Por que quer se tornar um guarda:
Se pudesse escolher uma divisão seria Áquila ou Turtur? Justifique.

Após todos passarem pelo questionário, eles são agrupados no centro da arena.

Charlie pega uma urna e explica que ali existem papéis numerados de 1 a 12 e cada um iria tirar um papel ali de dentro. Eles seriam divididos em duplas de acordo com a sequencia que tirassem e passariam por uma avaliação física que consistia em avaliar os métodos de combate de cada um.

- Jayce agora deve rolar um dado 1D12 que vai determinar seu oponente na batalha.

Abaixo a relação de resultados possíveis. Favor interpretar o numero que tirar sendo sorteado para enfrentar o respectivo semideus. Boa sorte.

1- Zeus
2 - Poseidon
3 - Hades
4 - Deméter
5, 6 ou 7 - Ares
8 ou 9- Atena
10 - Dionísio
11 - Afrodite
12 - Hermes

Não tinha certeza se era errado utilizar aquilo, mas o autômato de bronze me acompanhava de perto e até o momento ninguém havia me advertido sobre...então tá tudo numa boa. Analisei cada um dos semideuses, não tinha certeza do que iriam solicitar para nós, mas eram 12 sem contar comigo, então não haveriam duplas suficientes para o combate.

Decidi não me preocupar com isso, por enquanto, eu pensava demais nas situações e no fim o problema nem é tão grande assim. Formei a fila com os semideuses, aguardando a minha vez de falar com a filha da sabedoria, não me sentia muito bem falando com garotas, mas por sorte eu só precisava ouvir.

"Isso aqui é sacanagem" — Meus pensamentos, imediatamente, perderam o brilho pelo teste após preencher os três primeiros campos; aparentemente era importante dizer se eu tinha alguma deficiência, mesmo que eu não quisesse divulgar isso.

Nome: Jayce Montgomery
Filiação: Hefesto
Idade: 22
Possui alguma deficiencia física ou problema de saúde? Especifique.
Sim, eu não tenho um dos pés.
Por que quer se tornar um guarda: Amo o acampamento e seria uma honra entregar minha vida pela proteção dele e dos semideuses mais jovens.
Se pudesse escolher uma divisão seria Áquila ou Turtur? Justifique.
Escolheria Turtur, meu estilo de luta não parece estar parecido com os Áquila; vi alguns treinando outro dia, acho que me dou bem melhor com defesa e contra-ataque.

Bufei ao entregar o formulário, já nem lembrava mais que ela era uma garota, estava bem frustrado com um simples pedaço de papel. Aguardei pelas explicações pensando se seria reprovado pela deficiência, seria um tanto quanto cruel da parte deles...mas não era como se eles se importassem com isso.

Quando Charlie falou sobre sortear as duplas para lutar, pensei em dizer que estávamos em um número ímpar e não funcionaria, mas eu não estava afim de tomar um sacode do comandante dos guardas.

Retirei o número três da urna, olhando bem para os semideuses ao redor; era muito bom não precisar lidar com um filho de Hermes ou de Afrodite, mas a aparência esquisita do meu oponente só me fazia pensar como Hades pode ser surpreendente...

Amanda observa o rapaz que diz que não tem um dos pés e pergunta se aquilo era brincadeira, afinal, ele estava inteiro ali. O rapaz mostra seu pé forjado e a garota rapidamente deduz que aquilo é obra de Roran e faz uma cara de mas fica por isso mesmo. Ela olha para o tigre autômato e pede que ele saia do teste. Apenas Jayce pode ficar na arena.

Durante o sorteio, os semideuses formam as duplas de combate e Jayce terá como oponente Davis, um filho de Hades franzino como quase todos os seus irmãos. O garoto parecia ter 14 anos e brincava com sua adaga de ferro estigio, passando-a pelos dedos. O combate de Jayce era o segundo, mas antes as regras foram explicadas:

- Combate corpo a corpo e 1 contra 1, o uso de armas e habilidades é permitido;
- Vence aquele que derrubar o oponente primeiro;
- Pets e invocações não são permitidos nesta luta;

O primeiro era entre Arlo, um filho de Afrodite contra Brendon, um filho de Ares, que não teve a menor chance, pois foi enganado pelos truques mentais do adversário e derrubado com um laço de chicote nos pés.

Davis e Jayce são chamados na sequencia e os dois vão para o centro da arena. Davis, ao ver o filho de Hefesto, apenas joga sua adaga ao chão e vai de mãos nuas para o local. Os dois estão a 5 metros de distância.

- Eu lamento pelo seu pé, mas se não tomar cuidado, vai perder outro membro por aqui - Diz o rapaz em um tom de melancolia. -  E então, podemos começar?

Assim que o sinal de início começa, os dois rapazes são envolvidos por uma esfera negra de sombras, que deixa Jayce imediatamente sem nenhuma visão. O que ele escuta é apenas a voz de Davis, que parecia vir de todos os lugares e lugar nenhum.

- Você pode se render agora. Eu deixo.

Do lado de fora, Shouto faz uma cara de ao ver que seu irmão era rápido na conjuração da explosão sombria.

Nível 12 - Explosão Sombria: O filho de Hades cria uma esfera de sombras, que deixa todos num raio de 10 metros (inimigos e aliados, com exceção de outros filhos de Hades) sem visibilidade alguma durante 3 rodadas. O uso desta habilidade requer 50 pontos de energia. A habilidade entrará em espera durante 3 rodadas.

Fiquei feliz por não precisar dar detalhes sobre o pé perfeitamente forjado, Roran era famoso o suficiente pra reconhecerem um trabalho feito por ele. Tentei evitar, mas o descontentamento foi grande quando a semideusa ordenou que meu tigre ficasse fora do teste; ela estava sendo justa, mas eu estava acostumado a lutar com o autômato.


Sentei para assistir a primeira luta e não precisei esperar muito tempo, o filho de Afrodite acabou com as chances do outro combatente em um tempo muito curto, só consegui agradecer mentalmente os deuses por não precisar enfrentar ele...pelo menos não ainda. Me posicionei na arena, aguardando pela vinda do branquelo filho de Hades, não sabia explicar o porquê, mas todas as proles do rei do submundo me despertava um sentimento de repulsa estranho.


Quando o garoto jogou a adaga no chão só consegui visualizar o quão estranho aquele moleque era, meus deuses do Olimpo quem autorizou a entrada dessas aberrações no acampamento? O corpo magro e pálido, eu podia não ser uma referência de beleza ali dentro, mas eles não eram feitos...eles eram estranhos, principalmente tentando ser ameaçador, só parecia um viciado em crack alucinando. Meu preconceito me deixou em maus lençóis, de repente eu perdi minha visão e teria que confiar totalmente nos outros sentidos pra me guiar na batalha.


Acredito que essa habilidade costuma deixar os oponentes perplexos, assustados ou alguma coisa do tipo...mas eu estava de frente pra um filho de Hades, tudo que eu queria era amassar a cabeça dele. Desci meu braço direito com força no chão, martelando o solo da arena fazendo uma grossa camada de poeira se desprender e flutuar no ar; claro que não era poeira comum, eu havia invocado as cinzas de um vulcão em uma nuvem ao meu redor, aumentando a temperatura dentro e próximo da nuvem, além de dificultar a respiração de quem inalasse.


— Cala a boca por um minuto, seu magricela estranho.


A nuvem não tinha uma finalidade ofensiva, pelo contrário, eu estava cego e precisava evitar que ele me alcançasse pra um ataque a curta distância. Recuei na diagonal dentro da nuvem, mas sem sair de dentro dela, dessa forma seria mais difícil pra ele me acertar um ataque à longa distância por não ter conhecimento da minha posição. Me abaixei, apoiando o joelho esquerdo no chão, levantando o escudo a frente do corpo e me encolhendo atrás dele, protegendo as brechas mais importantes da armadura.

Ativas escreveu:Nível 9 - Cinzas de Vulcão: O herói consegue criar uma nuvem de cinzas que enche um raio de 5m ao seu redor, dificultando a visibilidade, a respiração e deixando o clima muito quente. Essas cinzas dependerão do clima e ambiente em que estão, podendo durar de 3 a 10 turnos (Se estiverem em ambiente aberto, 3 turnos, em ambientes muito fechados, 10). Esta, não afetará filhos de Hefesto, que conseguirão ver e respirar naturalmente. Esta habilidade custara 80 pontos de energia e entrará em espera após 3 rodadas ou 6 rodadas.

Passivas escreveu:Nível 2 - Febre: Quando o filho de Hefesto luta em lugares quentes ou abafados, assim como nas forjas, sua força e defesa são ampliadas. (+5% de bônus em FOR e DEF) [Não sei se aplica]

Nível 7 - Pele de Aço: Por ser filho do Deus do Metal e eles mesmos controlarem o metal, quando receber um golpe vindo de equipamento metálico o dano será reduzido. (5% da CON como dano reduzido para ataques de metal)

O grito de Charlie me deu a vitória, mas permaneci imóvel no meio da arena enquanto as cinzas baixavam. Apoiado com ambas as mãos no chão, cerrei os punhos com força comprimindo parte da areia; era humilhante, extremamente humilhante ter a prótese arrancada de meu corpo. Por mais perfeita que ela fosse, ainda não era um pé de verdade.

Levantei, apoiando apenas no pé restante e saltei na direção da prótese, encaixando na base de minha perna e prendendo bem de volta na posição. Mantive o olhar baixo, voltando para a arquibancada da arena sem trocar palavras com mais nenhum dos participantes.

Relutei se deveria permanecer no teste, todos ali já haviam visto a minha fraqueza e seria frustrante ter que lidar com isso mais uma vez. Toquei a palma da mão na cabeça de bronze do tigre, a criatura não podia transmitir emoções...mas estar em contato com o metal era agradável, fazia eu me lembrar de quem era e esquecer dos outros ao redor.