Menos de um dia fora do acampamento e eu já tinha matado um homem, um simples mortal; eu sou um monstro horrendo e mal consigo imaginar o que Charlie vai fazer comigo quando eu voltar pro acampamento.

Uma viatura parou e o policial veio até mim, aparentemente o cenário estava pior do que eu imaginei, porque sua expressão deixava claro a surpresa do oficial. Dei um longo suspiro, seria definitivamente a coisa mais difícil a se falar.

— Eu estava de carona com uns velhos fazendeiros, eu tava na carroceria. Aí esse cara chegou com um comparsa armado e eu joguei a gaiola nele. — Tentava apontar com o queixo cada um dos elementos que faziam referência na história: a gaiola, a arma que talvez fosse só de brinquedo e as galinhas ainda vivas. — Não pretendia machucar tanto assim, só fiquei com medo dele atirar em nós, mas acho que ele morreu.

O tom de voz evidenciava a preocupação, eu não queria mesmo matar um cara, mas algo me dizia que aquele policial não ia acreditar em mim.

Baixei os ombros e suspirei desanimado, eu definitivamente tava na merda, mas se pelo menos a delegacia que eles pretendiam me levar fosse mais perto do Brooklin...eu tinha conseguido uma carona?

Não, eu tava na merda mesmo e insistia nessa droga de otimismo. Coloquei as mãos pra frente esperando ser algemado pelo policial, então apenas assobiei e dei o comando.

— Volta pro acampamento. — E com o comando o automato iria partir na máxima velocidade por dentro da mata de volta pro acampamento, me deixando agora sozinho pra lidar com o que viria pela frente.

Olhei bem o comparsa do defunto ali na delegacia, talvez fosse a minha grande chance de usar o argumento da legítima defesa pra me safar...ou do cara testemunhar contra mim e me afundar ainda mais.

Fui até a sala de interrogatório e aguardei ali, percebendo que por algum motivo ainda estava algemado e normalmente eu já deveria ter sido solto das amarras quando cheguei à delegacia. Minha dúvida foi sanada ao visualizar as pupilas da delegada; eu estava na merda.

— Se isso é uma sala de interrogatório, eles estão vendo também. Todos eles vão ver você atacando um suspeito... — Suspirei, havia um fator que eu havia esquecido sobre a polícia. — Se eles não forem corruptos, devem intervir.

Fiquei de pé ali na sala, com as mãos algemadas a frente do corpo. Mantinha uma distância segura do que quer que aquela coisa fosse, pronto para bloquear um possível ataque dela com os elos resistentes das algemas. Eu precisaria ser inteligente.

— Exijo falar com meu advogado! — Exclamei, esperando que os policiais do outro lado do vidro escutassem e um deles não fosse um porco imundo.

Não falou nada sobre itens, eles ainda estão comigo? Talvez os policiais não tenham notado alguns deles por conta da névoa...

É, o que ela disse sobre o advogado me deixou com o rabo entre as pernas. Aparentemente eu não tinha outra saída, eu iria ser o jantar daquela desgraçada ou aumentar ainda mais a minha ficha criminal; bom, pelo menos em uma das situações eu saía vivo.

Invoquei dentro da sala a mesma nuvem de cinzas que havia feito contra o filho de Hades, porém dessa vez estávamos em um ambiente fechado e a nuvem seria muito mais efetiva. A temperatura seria alterada e a respiração daquela cadela seria completamente afetada, não daria abertura pra ela conseguir fugir ou reagir; forcei as algemas para que fossem rompidas e me dessem a liberdade total pra sair dali.

A sala não era tão grande, a característica de interrogatórios é o ambiente desconfortável pra forçar o suspeito a confessar e sair dali logo, então não precisava de muito para me aproximar dela. Aproveitei da visão prejudicada da criatura e fiz um movimento de cima pra baixo, martelando seu crânio com tanta força que esperava que os policiais escutassem o som do metal contra os ossos.

Não sabia se iria dar tempo, então avancei na direção da parede oposta ao do vidro, golpeando com o martelo ali esperando que eu abrisse um buraco para fugir dali; sim, eu ia repetir isso em todas as paredes até estar do lado de fora.

Me mantinha atento, pronto para estourar as algemas e usar o meu escudo para bloquear um movimento dela, aproveitando que a nuvem de cinzas não me atrapalhava em nada.

Nível 9 - Cinzas de Vulcão: O herói consegue criar uma nuvem de cinzas que enche um raio de 5m ao seu redor, dificultando a visibilidade, a respiração e deixando o clima muito quente. Essas cinzas dependerão do clima e ambiente em que estão, podendo durar de 3 a 10 turnos (Se estiverem em ambiente aberto, 3 turnos, em ambientes muito fechados, 10). Esta, não afetará filhos de Hefesto, que conseguirão ver e respirar naturalmente. Esta habilidade custara 80 pontos de energia e entrará em espera após 3 rodadas ou 6 rodadas.

Sinceramente, já havia perdido a noção se tudo aquilo era mesmo real ou eu estava alucinando na enfermaria do acampamento; tudo estava extremamente louco até pra um semideus.

Estar fora da delegacia era um alívio, mas não parei de correr até estar numa distância boa da delegacia. Por sorte, a cidade era caótica e talvez ninguém iria dar muita atenção pra um cara correndo pelas ruas; era o que mais tinha. Suspirei e voltei para a missão principal: o menininho do Brooklin precisava de ajuda.

Comecei a andar pela cidade, buscando placas informativas que indicavam o nome dos bairros e uma seta para a direção a se seguir. Esperava chegar logo no Brooklin, tomando cuidado pra não topar de frente com alguns policiais, se eu os avisasse entraria na primeira loja ou beco que visse e esperaria eles dispersarem pra seguir meu caminho.