Sinto um pouco de vergonha pela minha formalidade exacerbada e desnecessária, parece que ainda tenho muito o que aprender desse mundo.

O unicórnio não é a fonte do problema, ele é apenas mais uma vítima de toda essa situação. Há muitos anos, um Daimon foi derrotado e selado nesta floresta. Daimons são espíritos que se opõe a algum ideal ou desejo. Como nas últimas centenas de anos Pã enfraqueceu, os Daimon que se opõe à existência da natureza se fortaleceram, e pelo visto, aquele que outrora fora derrotado, está tentando renascer.

Meu palpite inicial estava certo, o únicornio era de fato apenas mais uma vítima. Mas daimons, havia estudado eles em uma das aulas no acampamento. Problema grande para resolver, mas pelo menos agora tenho um objetivo claro: eliminar o daimon responsável por toda aquela tragédia. Só havia um problema, o que era usado para eliminar ou purificar aquela corrupção? ... Talvez Quíron saiba de algo que eu não sei. Percebo que estou divagando enquanto a dríade me lança um olhar que não sei muito bem como decifrar:

-Ahem... Muito obrigado pela conversa, que a mãe Deméter te proteja com seu amor e carinho intermináveis. - faço uma breve reverência e sigo em busca de Quíron, explicando toda a conversa e pedindo informações.

Quíron escreveu:- Muito bem, meu jovem. Você conseguiu obter a informação mais importante sobre este caso, essa possibilidade sequer passou pela minha cabeça.

Sinto um orgulho de ter feito um bom trabalho, apesar de que estava apenas começando.

Quíron escreveu:- Esse é o Dólar de areia, um item mágico proveniente do próprio deus do mar. Mesmo entre seus filhos, são poucos que tiveram a oportunidade de usar algo tão maravilhoso. Esse dólar deve ser entregue a um espírito da natureza para trazer sua purificação. Mas tenha uma coisa em mente: Se naquele lago existe mesmo um Daimon selado, você deverá achar uma forma de remove-lo do local imediatamente, caso contrário, o lago poderá ser corrompido novamente. Eu irei organizar com os filhos de Hécate e feiticeiros uma forma de fortalecer o selo.

Segurando aquele artefato não parecia real. Parecia não entender o quão raro era aquilo, e se fosse de fato tão raro, me senti um tanto inepto de possuir aquilo. Afasto esses pensamentos rapidamente, a missão era minha e Quíron confiou o artefato a mim. Faria o melhor possível para não trair sua confiança.

-Entendido, farei o melhor que puder para cumprir com as expectativas. Você tem alguma ideia de qual seria o receptáculo do Daimon? Aquele lago é imenso, gostaria ao menos de ter uma ideia do que estou procurando. - digo sinceramente a ele, tentando obter toda informação que pudesse me ajudar.

Recebendo ou não a informação que eu procurava, eu tinha uma missão a cumprir, e saber todos os imprevistos que aconteceriam não seria possível nem mesmo sendo um filho de Apolo. Sigo em direção ao refeitório, seria sensato estar bem alimentado antes de sair nessa jornada. Além do mais, desenvolvi o costume de fazer oferendas aos deuses sempre que saísse em missão. Talvez não fosse mais do que mera cerimônia, mas gostaria de saber que poderia contar com uma boa impressão caso precisasse.

Chegando lá imagino um prato de maçãs, peras e uvas: frutas do outono. Pego alguns biscoitos para levar, bem como uma garrafa de água. Chego no fogo e ofereço a Deméter e Pã as frutas como oferenda:

-Ó Mãe, deusa da colheita e da fertilidade. Ó Pã, deus dos bosques e dos rebanhos. Rogo por sua proteção nessa missão de restabelecer o equilíbrio dos vossos domínios: a Natureza. - faço uma reverência e sigo meu caminho.

Reúno meus equipamentos e sigo para o lago. Assim que entrasse na floresta, contaria com a minha conexão com a natureza para me alertar de possíveis inimigos à espreita, seguindo rapidamente para o meu objetivo.

Passivas:

A imagem da chama do refeitório crepitando em tons esverdeados não saía da minha cabeça. Minha jornada até o lago estava sendo aproveitável, se não fossem as circunstâncias que me faziam trilhar esse percurso, isso poderia muito bem ser uma pequena viagem de férias.

Meus devaneios são interrompidos por uma brisa gélida familiar. Quando me dei conta, sabia o que estava acontecendo antes mesmo de ser alertado pelas plantas. O unicórnio estava lá, como se soubesse o que eu estava tramando. Lembrei que ele de alguma forma conseguia me rastrear, como pude esquecer um detalhe tão importante. Mas não era hora de ficar me remoendo, tinha que afugentá-lo de alguma forma que não causasse sua morte. Tento me manter calma sem nenhuma intenção de lutar com a criatura. Faço brotar uma rosa negra sob a criatura de forma que pudesse retardá-la de alguma maneira, e seguiria em direção ao lago dessa vez muito atento a hostilidade do unicórnio, para me esquivar de possíveis ataques. Caso perceba que não seria capaz de evitar o combate, puxo meu chicote da cintura e ficaria pronto para contra-atacar suas investidas.

Passivas:

Ativa:

O unicórnio parece não querer partir para o x1 sincero, e fico aliviado em saber que não precisaria feri-lo. Ele me encara com seus olhos flamejantes, como se enxergasse fundo na minha alma, como quem suplicasse por algo. Me aproximo dele com as mãos nuas, mantendo uma distância segura para sua aura de corrupção não me tocar. Ao fazer isso toco meu peito, o lugar que a dríade me marcara, e foco nela... aquela coisa me ligava de alguma forma com a criatura e aposto nisso para tentar contata-lo.

Não se preocupe, logo isso tudo estará acabado. - falo com meu pensamento, tentando transmiti-los a criatura.

Observo o unicórnio para qualquer reação, não sabia até que ponto a corrupção conseguia mexer com sua mente, então estaria alerta para bloquear um possível ataque.

Foi tudo muito rápido, sobretudo confuso. O unicórnio me fez monta-lo contra minha vontade, o que era estranho por si só. A sensação era longe de ser algo agradável, minha pele ardia e minhas roupas... bem, eu precisaria de novas. Mas num instante percebo que estava no lago, onde a equipe de expedição estava toda reunida, os espíritos da natureza corrompidos também estavam lá. Era como se eles esperassem a minha chegada.

A situação porém não era tão aguardada visto a reação dos outros campistas, mas não tinha tempo a perder. Vejo que flechas estavam apontadas para o grupo de criaturas e imediatamente me coloco na frente deles com os braços abertos.

-ESPEREM! Eles são apenas vítimas, tem um deimon selado nesse lago, mas o selo está fraco corrompendo tudo a sua volta. Esses aqui são apenas vítimas. Eles ainda tem salvação. - retiro da mochila o dólar de areia e mostro aos campistas - Quíron me deu um dólar de areia para purificar a área, então, a não ser que queiram ser alvos da ira de Pã e Deméter, sugiro que abaixem as armas.

Vejo a reação deles e, caso abaixem as armas, sigo para o lago e toco a água com o artefato, não sabia exatamente como funcionada aquilo tudo.

-Espero que funcione. - digo sussurrando para mim.