Viktor tenta se acalmar, confuso com as opções e o porquê do menino ter lhe deixado tomar as rédeas da situação. O indefinido começa a dar ordens, fazendo com que Connor seguisse adianta, caminhando de maneira desengonçada e olhando para todos os lados, como se tivesse acabado de sair de uma montanha russa. Apesar de não parecer nada bem, Viktor prosseguiu com o plano. Olhou para os lados, onde um casal passou do seu lado e lhe abriu a oportunidade de agir sem ser interrompido por algum civil. Tentou abrir, percebendo que não adiantara. Usando a lâmina da sua espada o menino arrombou a porta, fazendo com que a porta metálica se abrisse. Antes que fosse pego por alguém, correu para dentro no momento em que uma criancinha apontava para ele ao passo que a mãe o ignorava conversando com outras pessoas. Seryy apertou o interruptor ao lado da porta, fazendo as luzes se acenderem e revelarem detalhes da sala. O espaço era decorado e destinado para um único escritório ao fundo.

Foto:

No caminho havia apenas um sofá virado para uma televisão com algumas revistas da Miss Vulcano 2020: As autômatos mais gatas de Roma. O local tinha apenas 4 metros de largura e parecia ter pouco mais de 8 metros de extensão. Talvez tivesse sido construído para servir de galpão comercial, mas o homem preferira o deixar daquela forma. O menino deixa a porta encostada e encara o local.

Viktor procura por janelas ou maneiras de escapar para o caso de uma eventual fuga, mas se decepciona. Não havia outra saída senão a porta da frente. O indefinido caminha até o escritório e começa a vasculhar tudo. Em meio aos livros e compartimentos não havia nada ligado à visão ou um possível ataque. Tudo que encontrava era listas de compras e romances. Os fichários apesar de chamativos estavam vazios, mas haviam algumas marcas de papeis arrancados, como se ele tivesse retirado alguns ás pressas. Minutos se passaram e não havia resultado. Seja nas prateleiras, seja no sofá, não havia nada incomum ou que pudesse dizer algo sobre ele. A coisa mais incomum do quarto era uma torneira presa ao chão e voltada para cima. Havia alguns saquinhos de dracmas encostado lá, como se fosse destinada à fazer ligações de íris. À sua direita, havia somente uma cesta de lixo. ... O lixo. Viktor caminhou até o lixeiro e no fundo do recipiente havia um amontoado de papéis amassados. O indefinido os pegou e jogou à mesa, identificando algumas cartas estranhas. Haviam transcrições de diálogos, aparentemente entre os pretores do acampamento. No fim, os estrategistas estavam corretos. Estavam monitorando de alguma forma. Continuou a vasculhar até de dar de cara com um mapa antigo do acampamento júpiter. Nele, haviam duas marcações e um título sugestivo:

Mapa:

Um deles era a colina dos templos e o outro era a entrada do acampamento, ambos apareceram na visão que o estrategista havia os mostrado no espelho. Havia além disso um adesivo, como se indicasse a posição do portal do acampamento e lá havia também outro círculo. O menino tentou pensar em algo, mas só lhe via a mente que esteve lá mais cedo para seguir na dinâmica com os gregos. No verso do mapa havia uma programação, talvez de quando as etapas fossem ocorrer. Parecia ser um plano de dois meses, mas a primeira data estava marcada com força e rabiscada, como se fosse a mais importante das demais. Seryy sentiu um frio em seu estômago e embrulhou em seco. A data era hoje, ao meio dia. O rapaz havia caminhado com Connor por um bom tempo e não tinha mais noção de que horas eram. Com a sua capacidade de dedução, o rapaz assume que precisava impedir a primeira etapa a todo custo, mas como poderia saber qual das 3 seria a fase inicial?  O menino se viu em uma encruzilhada, onde não tinha outra opção senão lançar deduções. Deveria ser pensar como um estrategista . Até o momento não havia sinal de ninguém se aproximando e nada podia se ouvir senão o grito dos vendedores no comércio lá fora.

O garoto se põe em movimento, realizando um pequeno furto antes de se dirigir a sala dos pretores . Ao sair do apartamento, lá estava Connor, olhando para alguns semideuses que corriam as pressas no sentido para a Mess. Diferente de antes, a maioria tinha uma arma frente ao seu corpo e uma armadura cobrindo o tronco. Vez ou outra alguns filhos de Marte gritavam, incentivando-os a correrem ainda mais rápido na direção do Túnel Caldecott. A mente do rapaz viajou, lembrando-se da cena que presenciara. O exército romano se posicionando no local errado diante da ameaça. Como era possível? As datas estavam realmente corretas? Connor cruzou a rua, desviando do pessoal e indo de encontro ao indefinido.
- Ele conseguiu me despistar. Viajou nas sombras. Todos eles estão correndo pra entrada do acampamento. Como na cena que vimos. Está se realizando, Viktor. - O comandante olhou para o rapaz, temendo que ao final o garoto pudesse estar morto. - Parte dos centuriões e um dos pretores foi pra o acampamento meio-sangue. Foi enviado um filho de Mercúrio para avisá-los. Se eles não retornarem para ajudar, não sei como isso tudo vai acabar. Precisamos... eu... não sei. - Viktor conseguia ver que Connor parecia um pouco melhor, mas o olhar do rapaz não era o mesmo de antes, como se estivesse ainda mais atordoado pelo seu TDAH, não conseguindo centrar nos seus próprios pensamentos. Como era possível que isso ocorresse com o discípulo de Ceos?

As mente de Seryy viajava de volta para as imagens mostradas pelo espelho e os seus sonhos nas noites passadas, como se visualizasse um filme que agora poderia decidir a sua vida. Ele morto no templo e o exército aguardando uma ameaça inexistente no túnel. Sua espinha estremeceu e a cada segundo que passava, estavam mais perto da destruição do acampamento júpiter. Era um cenário de guerra e os romanos estavam sem o seu melhor estrategista. O indefinido se viu sem outra opção senão decidir e assumir o lugar de Connor.

Viktor toma as rédeas da situação e começa a articular, ele segue a multidão até ver um dos centuriões. A filha de Marte coordenava os grupos e os chamava para o combate, passando por Nova Roma alertando á todos da situação. Quando o indefinido lhe explicou a situação, ela conteve uma gargalhada. Parou alguns instantes, tentando não rir do menino que mais parecia um maluco tentando atrapalhar. Quando a menina viu Connor, seu semblante mudou. Apesar da sua idade, o comandante era reconhecido pelos líderes como inteligente o suficiente para descobrir algo do tipo. A menina assentiu e em alguns minutos eles marchavam em direção ao templo, subindo a colina e procurando por movimentações suspeitas junto à Adam, um filho de Magia e Jameel, filho de Vulcano. Quando perguntou à Adam, o filho de Magia, a respeito do caminho que seguiam, este balançou a cabeça em negação.
- Sinto que não, amigo. É como se caminhássemos rumo à ruína - Falou com um pesar na voz. Connor seguia o rapaz agora cada vez mais acordado e pensante. Não fazia muito sentido, mas ele parecia estar normal de novo.

- O acampamento. Os gregos e os demais estão vindo. Se eu fosse um deles e quisesse garantir a vitória... iria destruir o portal. - A sua frente diversos outros legionários corriam apressadamente. Os líderes já estavam muito a frente e se fosse para o rapaz tentar alcançá-los certamente não conseguiria. Havia uma chance de Connor estar certo, mas se ele ainda estivesse com problemas de raciocínio, isso implicaria neles distante do real confronto. Viktor mais uma vez precisava decidir, visto que estava comandando praticamente todos os 3.

O indefinido se mostra como um general de combate e, mesmo em dúvida, não age de maneira imprudente. Administrando seus subordinados, Viktor ordena que o mago parta na direção do portal, ficando atento ao barulho de combates que ouvia. Todos ao seu redor se apressavam e corriam, mas não era possível ver nada além do som ficando mais forte. Foi aí que Connor mostrou que não estava nada bem. O comandante levou as mãos a cabeça, gemendo como se seu cérebro estivesse fritando e recuando alguns passos. Ele arregalou os olhos negros, deixando cair algumas lágrimas em meio à dor. Da mesma forma como ficara estando próximo do assassino de gorro. Antes que pudesse fazer ou associar algo, Viktor viu uma esfera de fogo ser arremessada ao céu, alguns metros mais abaixo. Era um sinal? O combinado havia sido que ele fosse arremessado na direção do portal. Em meio aos grupos de semideuses que subia a colina, Viktor conseguiu ver um vulto adentrando um templo. Tinha sido rápido para identificar qualquer forma, mas ele pôde jurar que vira algo semelhante ao filho de Magia sendo arrastado.

Pela estátua e símbolos esculpidos nas pilastras, era possível ver que aquela estrutura era dedicada à Belona, a deusa da guerra. Ao seu redor, os grupos pareciam diminuir, com a concentração da maioria dos semideuses no topo da colina dos templos, aguardando um combate. O indefinido e o filho de Vulcano estavam lado a lado, ambos de frente para o estrategista completamente atordoado e sem reforços.