- Ah, eu não sei... - Fala a mulher, parando para refletir - Tudo anda tão estranho... Também temos tido muitos casos de brigas de vizinhos, ou de familiares... Muitas brigas de bar, e a maioria dessas pessoas desaparecidas estavam envolvidas nessas brigas. Sangue quente, sabe? Estão dizendo por aí que há algum tipo de mau agouro pela cidade, fazendo as pessoas brigarem entre si e abandonarem suas famílias... Eu tenho um amigo que agrediu a mulher por uma traição que ele já havia perdoado e depois... Puf! Pegou o carro e desapareceu no mundo. Eu... Eu nem sei o que pensar...

Dite ouve enquanto põe água e ração pra sua fênix, que parece mais interessada na outra metade do filé de Sabet, mas come mesmo assim.

- Isso está estranho. Isso... Talvez devamos permanecer um tempo aqui para entender o que está havendo na cidade. Se for a mesma coisa que está afetando os animais... Talvez as forças em ação sejam mais antigas do que pensamos a princípio. A Mamãe sabia de algo, mas não quis falar. Você percebeu isso também, não foi?

A garçonete olha pra Sabet com esta expressão: mas não fala nada, afinal parece satisfeita de fofocar.

Dite e seus companheiros terminam suas refeições e, uma vez satisfeitos, dite acompanha a atendente para que seja feita a reserva.

Já alojada a semideusa entra no quarto bastante agradável e bem decorado, enquanto sua fênix alça voo do jardim interno para o topo do lugar que tinha apenas 4 andares. Sabet explora o quarto e parece gostar bastante da banheira-para-pombos, como ele chamou a pia do banheiro.

Dite faz seus preparativos, alterando sua aparência para outra igualmente bela. Ela então sai da pousada com Sabet no ombro e com sua fênix observando-a de cima da pousada. Dali ela poderia ver também a delegacia que ficava a apenas algumas ruas de distância. Dite logo chega lá, vendo a movimentação e confirmando que, de fato, aquele era provavelmente o lugar mais movimentado da cidade neste momento.

Ela entra no lugar e de cara sente uma enxurrada de emoções. Tristeza, confusão, dor, raiva, amargura... Especialmente tristeza e confusão. As pessoas não entendiam. Por que? Como Qual a razão? Este era o sentimento predominante em todos ali.

A garota vê alguns policiais de aparência cansada tentando atender a população inconformada. No momento uma mulher dava seu testemunho ao policial, que anotava tudo em uma prancheta. Dite escuta por alguns momentos. A mulher parece relatar como seu marido havia surtado na noite anterior e a agredido por ter batido seu carro na semana passada. Ela já havia pedido desculpas e apesar de saber que ele estava bravo com isso, ela tinha certeza de que ele já havia perdoado o deslize dela... Mas do nada ele retornou do trabalho, a xingou e a agrediu por isto. Por que? Não fazia sentido! Depois disso ele saiu no mesmo carro, teve um acidente e estava agora no hospital da cidade. O acidente fora causado porque ele decidiu tentar atropelar um vizinho que não gostava no meio do caminho. O vizinho conseguiu se safar, mas o homem bateu o carro num poste e agora estava internado com contusões medianas.

O policial anota tudo tão rapido quanto pode. Dite ia passar para outra conversa quando uma mulher toca seu ombro.

- Olá, senhorita... Posso ajudá-la?

Dite percebe que era uma policial também. Sgt. Wood, diz seu nome de guerra estampado na farda. Ela tem uma expressão cansada, mas bem disposta.

A policial parece surpresa quando dite se apresenta como agente federal, mas olha com atenção pra o pseudodinstintivo da garota e então a chama para que a siga até uma sala mais ao fundo.

- Esses dias andam uma loucura aqui... Eu não sabia que tinham enviado ajuda mas, honestamente... Fico aliviada que o tenham feito.

A policial discorre para dite a mesma historia que ela já tinha ouvido da atendente do hotel. Pessoas agredindo uma às outras por motivos pífios, muitas vezes já antigos, homens e mulheres abandonando suas casas em momentos aleatórios e sumindo indo na mesma direção - Pro norte. Tudo aquilo parecia louco e aleatório.

- Mas tem uma coisa estranha... - Fala a mulher, coçando a cabeça enquanto serve um café para Dite e outro para ela - A maior parte das pessoas relata que tem a impressão de que esses acusados estão sendo... Sei lá, de alguma forma, influenciados por alguém. Em três casos citaram um homem moreno com uma cicatriz no olho, um suposto conhecido de seus companheiros. E depois de falar com este homem o comportamento da pessoa mudou, ficou mais agressivo, mais impulsivo... Eu não sei como um homem poderia desencadear esta reação nos outros, mas depois de ver no relatório três testemunhas citarem um homem com cicatriz no olho, então eu fiquei, sabe... Incomodada. Não sei... Realmente não sei o que pensar sobre nada disso.

Ela remexe nos arquivos que estava disponibilizando para Dite e pega uma foto. Parecia um print de uma imagem de uma câmera de segurança.

Na imagem ela mostra uma mulher conversando com um homem de jaqueta de couro e cabelos rebeldes. Na imagem ele está de costas para a câmera, mas dá para perceber que é alto e forte.

- Esta mulher, ela saiu da cidade na noite desta gravação. Ela mora nesta casa, e seu marido disse que depois que conversou com este suposto amigo, o homem da cicatriz, ela entrou em casa enfurecida com ele, com o trabalho, com o filho... Naquela mesma noite ela pegou o carro e desapareceu, deixando-os. Nada nessas historias todas faz sentido, sabe? Estou quase... Haha é besteira, eu sei, mas estou quase começando a acreditar no que dizem de haver um mau agouro pela cidade.

Ela se senta bebericando o café, parecendo absorta em pensamentos.

Dite começa a matutar sobre aquela situação. Ela sequer toca no seu café enquanto passa os olhos pelos papeis e sua mente trabalha para tentar formular pontes entre os acontecimentos.

- Ah... Então, eu não sei. Realmente não sei. é estranho, eu nunca ouvi falar sobre ele, e um homem com cicatriz no rosto chama a atenção, não é? Acho que ele é um forasteiro, na verdade.

Ela termina de beber o café e abre a lista de registros de detenções e prisões da delegacia e vai passando as imagens uma por uma em busca de alguém com as características do homem.

Neste meio tempo o telefone toca. Um funcionario vem e chama a Sgt, que se levanta pedindo licença e vai atender o telefonema. Ela retorna dez minutos depois com uma expressão irritada.

- Parece coisa do destino... Acabo de receber uma ligação da cidade vizinha, Ryland. Eles avistaram dois dos fugitivos indo para lá, e me perguntaram sobre um homem com cicatriz no rosto. Disseram que ligaram pois ficaram sabendo dos casos de desaparecimento e parece que algo similar está ocorrendo lá... Mas como este homem pode ter sido visto lá, hoje, se a ultima denuncia sobre ele foi feita há apenas algumas horas? Isso é impossível, a não ser que ele tenha um avião ou helicóptero particular... Isso é loucura.

Ela parece perturbada. O FAX começa a trabalhar e cospe documentos que a oficial pega e começa a folear, passando para Dite à medida que termina de lê-los. Mais casos de brigas impulsivas, mais desaparecimentos... Estranhos casos de animais atacando os donos para fugir de casa e novamente, uma foto do homem com cicatriz. Desta vez ele estava de frente para a câmera, conversando com uma mulher. Dite sente um calafrio ao olhá-lo pela foto. O rosto é belo e duro, com uma expressão que beirava à ardilosidade. Ela não gostou dele de cara.

- C-certo! Eles estão montando um cerco preventivo nas saídas da cidade para impedir que eles passem por lá e sigam adiante, já que parecem estar indo para algum lugar ao noroeste. Espero que consigam capturá-los. Vou providenciar transporte para nós, Rayland fica a umas 6 horas de carro daqui. Mas... Eu não sei, dado o número de casos envolvidos, vou tentar solicitar um helicóptero para nós. Seria mais rápido esperá-lo e ir de helicóptero do que ir de carro diretamente daqui.

A mulher de levanta e corre para o telefone.

- Pruu... Este cara não é boa coisa - Fala Sabet em seu ombro - Um homem que continua tão belo com uma cicatriz tão horrenda, não pode ser boa coisa! Pruu!

Dite põe os relatórios de volta sobre a mesa e Tebas pula para cima pra analisá-la melhor. Dite observa a mulher no telefone enquanto reflete sobre as ultimas ocorrências. Então o cara tinha ido para a cidade vizinha e estava fazendo as mesmas coisas lá... Mas por que estaria indo pessoalmente até os lugares? Seria ele capaz de surgir em vários lugares ao mesmo tempo como a maioria dos deuses, ou estaria individualmente fazendo estas coisas?

A garota se assusta quando um sentimento áspero como uma lixa entra no alcance de seu radar. Raiva, impulsividade, uma ira desmedida. O som de um tiro... Gritos. O pânico se espalha pelo ar, deixando Dite confusa. Dor, medo... Outro tiro. Apesar do desespero das pessoas o sentimento de Raiva se destaca como um farol em meio àquele caos. Os policiais correram para a entrada da delegacia. Mais tiros. Gritos e vidro quebrando.

Um mortal atacou outro na entrada da delegacia. Um daqueles com farda chegou e atirou em outro também fardado... Os outros o estão cercando agora. Ele parece... Descontrolado.

Do topo do prédio que estava Tigger foi capaz de ver o ocorrido e agora falava com Dite através de sua mente.
- Mas que droga é essa!? Esta noite não vai acabar nunca!? - Protesta a policial, abandonando o telefone caído e correndo para a entrada com a mão sobre o coldre da pistola.