Enquanto era puxado eu me perguntava para onde estariam me levando. Iriam elas me comer cru, ou assado? Inferno. Limpavam a carne dos ossos como minha mãe fazia com o frango toda quinta feira? Iriam me deixar marinando em limão, sal e pimenta? O pensamento era tão bizarro que ao mesmo tempo que fazia meus joelhos tremerem, também me fazia querer rir.

Mas a visão do minotauro foi a resposta. Eles iam me comer inteiro, sem dúvidas. Em três ou quatro bocadas. O que me parecia completamente inapropriado, pois bois eram herbívoros, por que aquele idiota estava querendo me comer? Tudo aquilo parecia uma piada de extremo mau gosto para mim, ou um daqueles sonhos sem pé nem cabeça.

Quando elas me soltaram eu finalmente saí de meus pensamentos horrorizados. O minotauro se agitava, atacado pelos pombos fofos, e as mulheres cobra pareciam ter esquecido de mim. Eu provavelmente ficaria ali no chão paralisado até que lembrassem que queriam me comer, se não fosse pela voz de Henry me chamando. Quando olhei para trás e o vi, senti um alívio enorme, como se tivesse acabado de tirar uma pedra enorme de cima do meu diafragma e pudesse respirar de novo.

Levanto-me já correndo apressado em sua direção, sem parar para olhar para trás. Ele não tinha me largado, afinal! E tinha me salvo mais uma vez! ele nem me conhecia, mas tinha voltado para perto daquelas criaturas bizarras para me ajudar, e isso me enchia de gratidão. Ao alcançá-lo eu ouso olhar para trás, ainda sem entender o que estava rolando com as mulheres e os pombos.

- O que fazemos?

Se ele correr eu o acompanho de perto, esfregando os braços onde as mulheres-cobra haviam apertado e pensando no quão perto de ser comido por um herbívoro eu estive, o que era preocupante. Se os homens-vaca eram assustadores daquele jeito, eu torcia para que não houvessem homens-crocodilo ou homens-lobo espalhados pelo mundo, pois seriam muito piores.

Observei atônito a tudo que se passava ali. Levo uma mão à cabeça, sentindo-a girar. Aquilo era um fantasma? E, pior... Aquilo era um filme, anime ou série por acaso? Assisti bestificado o garoto avançar montando um javali e atravessar o minotauro com uma enorme lança, sentindo-me assustado mesmo que não fosse para cima de mim que ele estava avnçando.

Quando o minotauro despencou e eu suspirei, abismado.

- Há! - Rí exasperado, juntando as peças do quebra cabeça e percebendo que provavelmente era disso que se tratava a vida de um semideus. Eu tinha imaginado que seria se esconder e torcer pra não ser encontrado, fugir de monstros e talvez atropelá-los com um ônibus se tivesse oportunidade. Mas quando Henry puxou uma espada cor de bronze e a ergueu para mim, vi que lutar era realmente o que se esperava de nós. De mim.

Seguro a espada com minha mão direita, sentindo seu peso e encostando a outra mão sobre a parte lateral da lâmina, encantado. Eu nunca tinha vistou ou segurado uma arma medieval, uma espada como a que usavam as lendas do passado. Agora eu tinha uma em minhas mãos e era esperado que eu a utilizasse.

Ergo a cabeça para as mulheres-cobra. Dracaenae, não eram? Teriam sido aquelas duas bestas que atacaram minha mãe? Estaria ela dentro de suas barrigas, sendoo digerida naquele exato momento? O pensamento me encheu de raiva. Mesmo sem a espada, sentia que queria saltar sobre elas e cortar-lhe as cabeças com os dentes.

- Obrigado - digo a Henry e começo a caminhar em direção a elas.

Pois bem. Se eu tinha que fazer isso, então faria... Cedo ou tarde eu sentia que não teria para onde correr, então apenas vou silenciosamente na direção das duas mulheres e do fantasma, ainda sem saber de onde ele saíra. Ao me aproximar se elas ainda estiverem distraídas eu vou um pouco pra lateral, ficando fora do alcance da visão de uma delas, e então de um salto pra frente eu enfio a lamina nas suas costas, no centro, onde estaria a coluna de uma pessoa e esperava que a dela também. Não só pelo dano, mas pela dor que acreditava que aquilo causaria.

Afasto-me em seguida, dando a volta nela e deixando-a entre mim e sua amiga. Sentia o peito martelar a cada batida do coração, mas o pensamento de ferir aquelas duas me dava um imenso prazer. Se alguma delas tentar reagir e me atacar eu ataco de volta balançando a espada, usando-a pra interceptar suas pernas ou garras, mesmo que desajeitadamente mantendo a lamina entre nós. Recuo se preciso, mas controlo minha vontade de correr para perto de Henry. ele já havia me salvado demais. Eu rpecisava mostrar alguma força, ja que aquele era o mundo ao qual pertencia.