Senti como se meu coração se embrulhasse no peito quando a vi chegando. Não era tão nervoso assim no dia a dia. Afinal, tinha que coordenar todos da Quinta Coorte e não poderia deixar aquilo subir a cabeça. Mas algo havia mudado. Minhas últimas experiências faziam cada vez mais que eu pensasse duas vezes antes de esconder algo assim. A cada passo que a observei dar na minha direção, questionei a mim mesmo se não havia outro modo. Se não poderia simplesmente deixar aquilo para outro dia e continuar normalmente. Mas poderia não haver outro dia. Parte de mim queria que fosse só o charme de afrodite ajudando sobre mim. O efeito de algum perfume ou algo que me atordoasse e atrapalhasse meu raciocínio. Mas a esse ponto, já não ligava mais que fosse.

Estou sendo egoísta? perguntei a mim mesmo.

- A-ah. Não precisa se preocupar com isso! - Acenei com a mão, pedindo para que trouxessem comida e bebida. Tinha breves segundos para decidir se seria direto ou se puxaria assunto sobre outra coisa. Mas eu sabia que se não falasse logo, aquilo ficaria preso dentro de mim para sempre.

- Como você está, Dakota? - Disse com naturalidade. Na minha mente, desejava liberar todo aquele amontoado de sentimentos de uma só vez. Mas meu instinto falou mais alto. Não importava as minhas preocupações. Em primeiro lugar, me preocupava se ela realmente estava bem. Aguardei a pergunta, acariciando meus próprios dedos com as mãos abaixo da mesa, em um gesto de timidez mixada com nervosismo.

- Não te chamei pra nada sério demais. Pode relaxar - A tranquilizei, convidando-a a beber e comer as refeições que haviam trazido para ali próximo.

Dei um suspiro, seguido de um sorriso de canto. Me fazia bem saber que ela não estava passando por problemas. Desde sua chegada no acampamento, havia tentado ajudá-la o máximo que pude. Tal qual fizera com os outros novatos. Não podia esquecer meu papel como veterano, mas, ainda assim, eu me permitia ser um pouco egoísta quando se tratava de Dakota. Quase me engasgo com o refrigerante quando escuto o comentário dela a respeito de ter esquecido dela.

- Haha claro que não - Ri meio sem jeito. - Eu ando muito atarefado, mas você arranjou uma amiga e tanto. - Pisquei os olhos, tentando ignorar os rumores da festa das garotas e a gafe do pretor andando pelado - Mia tem cuidado bem de você, mas eu to aqui também - Tentei dizer sem gaguejar ou enrolar muito. Meu corpo inteiro gritava para falar o que estava preso antes que eu me arrependesse ou só mudasse o rumo da conversa. - Escuta, Dakota. Tem algo que eu preciso te dizer. Mas eu não... - Eu não quero que fique um clima estranho entre nós depois disso. Era o que eu queria dizer. Mas não o fiz. Eu a conhecia. Sabia que ela não me pisaria nem me humilharia ali no refeitório por algo assim.Sabia que não haveria climão depois daquilo. Uma vez na vida, Léon, faça uma coisa por você. Parei por alguns segundos, tentando tomar coragem e com as mãos tremendo mais ainda.

Peguei uma das mãos dela e apertei, olhando nos seus olhos. De imediato, o nervosismo passou. Era aquele olhar que tornava tudo mais serene. Bastava alguns segundos e eu simplesmente não tinha mais receio algum.

- A vida de um semideus é complicada. Pode parecer divertida no começo, mas não é. Podemos morrer a qualquer momento. Na verdade, morremos. E eu percebi que eu quase morri de novo. Quase vou embora sem ser sincero comigo mesmo - Faltaram palavras. Na verdade, faltou tudo. Perdido em meio aos pensamentos e engolido pelo próprio olhar que me tranquilizava, me vi sem qualquer reação. Quando consegui vencer minha própria relutância, me vi segurando seu queixo e a trazendo para perto de mim. Era repentino, mas eu não fazia ideia de como dizer a ela a verdade. Mostrar seria muito mais fácil. Meus olhos se fecharam e eu senti como se minha pele tivesse ficado mais pálida ainda. Seu perfume se fortalecia a medida que eu me aproximava, a ponto da sua boca estar mais perto do que jamais estivera. Sem saber como ela reagiria ou o que faria, apenas me permiti tentar o beijo com o qual temia jamais ter a chance de provar.

Era impossível dizer em palavras o que sentia naquele instante. A sensação dos meus lábios indo de encontro aos de dakota e sentir ela retribuindo me fez ir ao Olimpo. Foi como se todas as preocupações, todas as dores e todo o medo que um dia tivera enfrentando a morte face a face não fossem nada comparado aquilo. Fiquei feliz. Feliz por estar ali. Feliz por ter vivido o bastante pra que pudesse encontrá-la. Não sabia se ela sentia o mesmo. Mas deixei fluir, ignorando onde estávamos e focando-me inteiramente nela. Minhas mãos se ergueram e encostaram na sua nuca em um carinho improvisado enquanto eu ia em um ritmo lento. Quando enfim estava para sair, mordi seus lábios levemente. Guiado pelo instinto.

- Eu amo você - Palavras fortes para dizer a filha da deusa do amor, mas era a mais pura verdade. Meu coração saltitou, mas eu aproveitei a adrenalina para continuar - Eu não sei por quanto tempo vamos ficar aqui nesse mundo. Mas eu quero ter a chance de passar esse tempo incerto com você. - Peguei em sua cintura, perdendo-me novamente em seus olhos e percebendo que lutava para não ficar aéreo. Não havia feito nenhuma pergunta, mas esperava que ela tivesse entendido. Já havíamos nos conhecido há quase um ano e participado de muitas coisas juntos. Não sabia se estava indo rápido demais, mas não me importava. Eu realmente poderia morrer no dia seguinte antes de tentar. Era o que queria e faria o pedido mesmo assim.

- Eu não sei se retorno da próxima missão, mas eu quero ficar com você, Dakota. Quero tentar dar certo. Fazer dar certo. Namora comigo. - Eu nunca fora um cara firme. Era tímido a maior parte do tempo e até indeciso. Mas eu tinha certeza do que queria. Só aguardava uma resposta.