Eu sentia uma sensação estranha. Uma sensação que só havia sentido com minha mãe. Uma sensação de que tudo daria certo e que eu ficaria bem. Não sei como explicar o por quê disso, é como se fosse mágica. Se brincar, talvez fosse mesmo, nada mais me surpreende depois de descobrir que meu pai é um Deus. Mesmo com a suposta mágica, eu parecia estar mais nervoso que o normal. Falem o que quiserem, mas não é muito comum eu ficar tão perto de uma pessoa, ainda mais uma que parece uma modelo. Ela falou que seu nome era Afrodite, o que me dava uma dica e tanto sobre quem seria seu progenitor divino. Achei que já estava salvo quando ela apareceu, mas quando recebi uma espada e outros equipamentos, percebi que meu pensamento tinha sido muito otimista. Não havia chegado ao meu destino, por que estaria seguro? Não sabia quanto faltava para o acampamento, mas sabia que corríamos o risco de sermos atacados por monstros pelo trajeto. Seguraria o cabo da espada com força e tentaria me preparar psicologicamente para o que poderia estar por vir. Após isso, percebo que ela falou algo sobre ser reclamado e sobre a minha espada mudar, e me toco de o quão desinformado eu estou. Lavando em conta que não havia entendido o que ela quis dizer com isso, perguntaria:

Reclamado? O que seria isso?

Prestaria atenção a sua resposta e tentaria me lembrar disso, pois parece ser algo importante.

Dite foi bem legal em responder minhas perguntas, até porque eu sou bastante chato. Mas mais surpreendente do que ela não ter tentado me jogar do táxi, foi o motorista ter virado um monstro mais feio que batida de trem com velotrol. Sério, era feio. Mas voltando ao que interessa, acabei me lembrando que Dite havia me entregado uma espada. Óbvio que eu não lutaria tão bem quanto alguém que treinou utilizar espadas, mas eu posso tentar cortar o bicho. Afinal, não vou deixar ela lutar sozinho. Não por que eu ache que ela não seja capaz, mas por que ia ser muita sacanagem deixar uma pessoa enfrentar uma coisa feia daquela sozinha. Não só achava que ela daria conta, como me sentia até mais calmo de enfrentar um monstro tendo ela para me ajudar. Tão calmo, que não perco tempo e seguro o cabo da espada com as duas mãos, de modo que a lâmina da mesma fique na vertical em minha frente. Havia algumas coisas perigosas naquele monstro. Listando elas temos: Garras, dentes pontudos, rabo de escorpião e chifres. Era um arsenal de peso, mas eu estava confiante de que íamos vencer. Começo a correr em direção as costas do monstro, tomando cuidado para não ser acertado pelo rabo do bicho. Quando me aproximo o suficiente, corto o rabo do bicho fora e me preparo para desviar para o lado, caso o monstro me ataque. Depois, sem ter de me preocupar com o rabo, mas mesmo assim tomando cuidado com as garras e outras coisas, faço um corte horizontal no abdômen do monstro. Após isso, me afastaria um pouco e ficaria de guarda alta, para garantir que não seria pego de surpresa pelo monstro.

Tática 1: Falhou. Tática 2: Veremos... Parece que não ia ser tão fácil quanto eu achei, afinal, eu não tinha treinamento nenhum. Mas eu não podia fazer feio, ou podia? Não, certamente que não. Se meu pai (que eu não sabia ainda quem era) estivesse vendo, ele não iria me reclamar. Talvez se eu matasse essa coisa, meu pai poderia aparecer para mim, ou algo do tipo. O bicho feio rosnava pra mim, e eu até fiquei tentado a rosnar de volta, mas faria eu parecer um louco na frente de uma dama, então não faria. O monstro tinha minha total atenção agora, e eu esperava que ele aproveitasse. Seguro firme a espada e parto pra cima dele, preparado para bloquear o golpe ou desviar para qualquer um dos lados no caso dele me atacar. Chegando perto o suficiente, eu corto o monstro com um golpe em arco na horizontal, visando seu tórax. Depois do corte, não importando o resultado, me afastaria e ficaria pronto para uma esquiva rápida.

Ataques diretos não pareciam surtir efeito na fera. Parece que o que ela tinha de feia, tinha de esperta. Já começava a sentir os sinais de cansaço, o que era meio lógico quando se analisava a situação em que eu estava. A fera parecia esperar o momento em que a barreira da Dite iria se dissipar. Já eu, não queria esperar por isso. Quando ataques diretos não dão certo, a melhor coisa a se fazer são ataques com mudanças de trajetória. Parece confuso, mas na síntese é fácil. Finjo um ataque, desfiro outro. Em tese, é fácil. Na realidade, nem tanto. Se eu errar o tempo de esquiva ou não prestar total atenção ao meu redor, é fim de jogo.

Respiro fundo e me acalmo. Olho para o monstro e minha mente entra em foco. Em minhas mãos está o cabo da espada, meus pés estão no chão, e em minha mente está a imagem daquele monstro sendo fatiado. Era hora de fazer a imaginação se tornar realidade. Me preparo e começo a correr em direção ao monstro, sempre pronto para desviar de seus ataques caso fosse necessário. Quando estivesse chegando perto o suficiente para golpeá-lo, fingiria um golpe em arco. Depois me moveria para o lado rapidamente, aplicando uma estocada ,se possível, no pescoço do monstro. Depois, retiraria a espada em um golpe cortante e me afastaria para não receber algum golpe maroto. Prestaria atenção no monstro, ficando pronto para desviar de possíveis golpes.

Amém meu pai! Acertei um golpe no filhote de cruz credo! Em todos esses anos nessa indústria vital, era a primeira vez que isso me acontecia. Uma sensação indescritível de euforia percorria meu corpo, e eu estava amando aquilo. Parecia que eu tinha tomado uma montanha de sorvete e comido umas pizzas, tudo isso enquanto assistia, deitado em minha cama, as minhas séries favoritas. Mas parece que meu amiguinho feio ficou zangado e resolveu me atacar, o que me deixa com poucos segundos para uma reação. Poucos segundos exigem uma reação rápida e lógica, o que me faz pensar em uma esquiva seguida de um ataque. Era praticamente a mesma coisa que eu havia feito a pouco tempo, só que mais perigosa. Espero o monstro atacar e desvio do golpe o mais rápido possível, aplicando também um corte em arco no monstro, visando seu abdômen. Não importando o resultado do golpe, manteria distância do monstro e tomaria cuidado em dobro, visto que ele também pode lançar espinhos e eu não estava com vontade de tomar espinho no couro.