Uma bela tarde de outono. Dias cada vez mais frios no começo de dezembro, lembrando a todos que o inverno logo traria consigo suas nevascas.

Hiyori estava se adaptando surpreendentemente bem ao acampamento. Sua primeira missão havia sido um sucesso e começou a fazer amizades. Estudando em seu chalé, um sátiro convocou a filha de Hécate a casa grande, outra missão havia surgido. Por um lado ficou com um ligeiro mau humor por ter seus estudos interrompidos, mas se tratando de uma missão, ela não pensa duas vezes antes de seguir até o escritório de Quíron.

Ela observava a paisagem se desdobrando, a maioria das folhas já secas ao chão, pássaros migrando aqui e ali, a plantação de morango belíssima nos campos arados. Era sempre uma bela cena.

Ao entrar no escritório, além de Quíron, sentada numa poltrona toda princeça, se encontrava uma jovem de cabelos escuros segurando uma lira, Hiyori a identifica como uma filha de Apolo quase que de imediato. A atenção dela se volta ao centauro:

-Ola Hiyori, parabéns pela sua recente missão, ouvi dizer que vocês e seus companheiros fizeram um belo trabalho com os telquines. Mas agora para assuntos mais atuais, há um grupo de cachorros selvagens aterrorizando as ruas de Manhattan. Gostaria que você e Angie - ele acena com a cabeça para a garota sentada - lidassem com a situação. Boa sorte.

Ele dispensa as semideusas que agora tem um objetivo claro em mente.

LEIA ESTA CARALHA:

Olho para a minha companheira de missão e me pergunto se eu sou distraída demais ou se ela realmente não esteve presente no acampamento nos últimos tempos. Se bem que com o meu novo vício em ficar enfurnada dentro do quarto e estudar magia, não ficaria surpresa se eu estivesse distraída o suficiente para perceber a presença dessa linda moça no acampamento.

- Olá, Angie. Como Quíron disse, eu me chamo Hiyori e sou nova aqui no acampamento. Você chegou recentemente também? - Pergunto a fim de puxar um assunto e analisar a personalidade da minha parceira.

Equipamentos:

Angie parecia ser uma pessoa simpática, mas por algum motivo sinto que seu sorriso não transmite a felicidade que aparenta sentir. Talvez esteja nervosa? Ou triste? Embora eu tenha problemas de confiar nas pessoas, isso não significa que eu seja má. A partir do momento que a pessoa me recebe bem, eu passei a me esforçar a ser pelo menos educada.

- Eu sou filha de Hécate, estou aqui há apenas algumas semanas também. Passei os últimos dias enfurnada dentro do meu chalé estudando magia. - Me aproximo da mesa de Quíron e pergunto. - Quando devemos partir?

As campistas conversam um pouco para se conhecerem um pouco melhor. Após as breves introduções, a dupla segue para a entrada do acampamento e chamam o táxi das irmãs. O dracma se afunda na terra fazendo brotar do chão lodoso um carro cinzento de quatro portas. A criatura de aparência bem velha com apenas um olho põe a cabeça para fora e diz: entrem no carro vadias, vamos pro psiquiatra

-Entrem logo, não temos o dia todo! - diz a criatura com a voz irritadiça e elevada.

Angie escreveu:Olá senhoras! Gostariamos de ir até Manhattan. Vcs sabem de alguma confusão que está acontecendo por lá? Parece que tem uns cães selvagens causando problemas. Se souberem de alguma coisa, poderiam nos deixar mais próximo possível?

-Aquele parque está um caos, tem um monte de criaturas fazendo baderna por lá... falando nisso, chegamos. Xô xô. - elas dizem enxotando as garotas do táxi.

Angie já conhecia aquilo, mas Hiyori acha surpreendente do quão rápido elas tinha chego a seu destino. Elas agora, em frente ao Museu de NY city devem procurar seu objetivo, já que o local parece estar relativamente pacífico, ao menos o quão pacífico NY conseguia ser: repleto de pessoas com pressa estressadas, sons de buzinas e xingamentos, assaltos em plena luz do dia e perseguições policiais.

Ainda não me acostumei direito com a quantidade de coisas bizarras que acontecem nesse mundo de semideuses. Um carro cinzento aparecendo do chão? Fala sério, vai me dizer que isso é normal pra todo mundo daqui?

Quando chegamos permaneço um pouco calada. Estou com uma leve dor de cabeça e sinto uma pressão grande nos ombros... Talvez passar horas trancada no quarto estudando não tenha sido muito saudável. Geralmente não sou uma pessoa insegura, por conta da minha história de vida, precisei ser muito autoconfiante para sobreviver, mas quando o assunto é magia, as coisas são muito diferentes. Tenho amado estudar magia, mas parece que nada que eu faço dá certo. Esse meu novo eu inseguro, medroso... Odeio isso. Preciso terminar logo essa missão e voltar aos estudos.

- Certo. - Tento dar um sorriso tranquilizador para Angie. - Você acha que terão muitos? - Tento puxar assunto novamente.

As duas um tanto inseguras mas ainda sim confiantes seguem com sua missão. Indo em direção a entrada do parque, as campistas notaram sinais de comoção. Pessoas saindo as pressas, assustadas, guardas guiando civis para fora do parque. Hiyori percebe quase instantaneamente que um dos guardas era na verdade um sátiro disfarçado pela névoa.

Eram 16h em ponto quando, adentrando cada vez mais seguindo o caminho contrário de civis. Um pouco agitadas pensando que essas criaturas poderiam estar fazendo mal a mortais, ela apertam o passo mas param abruptamente ao escutarem um uivo, seguido de um segundo, e agora um coral de lupinos uivavam a plena luz do dia. Angie se sentiu angustiada por aquele som, como se a alcateia estivesse com problemas.

Mais alguns metros a frente, há 7 lobos no total. Dois mais a esquerda um tanto distantes, quatro amontoados e alertas debaixo de uma grande árvore e um estava em cima dela, em um de seus enormes galhos. Ao fitar as semideusas o lobo num instante se impunha majestosamente na frente das campistas. O lobo mostra suas presas e rosna em alerta para a dupla, dois dos que estavam debaixo da árvore o acompanham deixando as garotas em desvantagem numérica.