Devo ter suspirado umas dez vezes ao longo da viagem com a testa colada no vidro, como se quisesse atravessá-lo para o mundo lá fora daquela pequena nave que deslizava por uma estrada negra em direção a um centro com humanos em um lugar à frente. Suspiro, estremecendo mais uma vez com o frio. Eu tinha de conseguir um lugar para tomar banho, e rapidamente.

Fiquei novamente mais animada quando chegamos na cidade. Teria ficado satisfeita se meu disfarce tivesse durado um pouco mais, mas esse penamento foi arrancado de minha mente por aquele grito horrendo e carregado de morte. Levo as mãos aos ouvidos, por um momento fora de mim, lembrando da terrível sensação que tinha tido no sonho ao ouvir aquele grito sobrenatural. A sensação de morrer; Como se aquilo fosse um veneno mortal espalhado pelo ar.

Olho ao redor exasperada e emputecida em busca do que poderia ser a origem daquele grito.

-- Ah, cale a boca e estacione em algum lugar -- Falo para o homem confuso ao meu lado, balançando a mão e desta vez torcendo a névoa sem nenhum requinte ou paciência em sua mente, apenas desligando-o de mim, visando deixá-lo confuso e inerte focado em sua tarefa.

E então, volto a observar pela janela enquanto o homem estaciona, buscando com os olhos e com meus sentidos se magia, concentrando-me nele com toda a experiencia que possuía para buscar a origem da aura mágica macabra que estava sentindo.

Fico alerta e caso ele estacione como esperado eu saio do carro, ou simplesmente saio caso a névoa não me ganhe mais alguns momentos de segurança dentro do carro, e fico pronta para reagir a qualquer ataque, sempre buscando a fonte daquela magia que parecia tão diferente. De imediato uso meus conhecimentos para tentar interpretar o que ver e colher o máximo de informações sobre o lugar onde estou.

(Inclusive, que horas são? )

Nível 3 - Controle da Névoa [Inicial]: Hécate é não apenas a deusa da Magia, mas também aquela que coordena e mantém em dia as contas da Névoa. Seus filhos possuem, então, uma afinidade incomum com este véu mágico, podendo manipulá-los ao seu bel prazer. Neste nível são capazes de mudar a sua aparência e de pequenos objetos aos olhos de mortais e/ou semideuses menos atentos, ou estonteá-los por alguns instantes.

Nível 8 - Alento da Encruzilhada: Sendo filho da deusa das encruzilhadas e dos caminhos, os filhos de hecate terão sempre uma melhor noção de qual caminho tomar em situações de difíceis escolhas.(+ 13 INT)

Nível 10 - Conhecimento do Mago: Um dos maiores passatempos dos filhos de Hécate é a leitura de livros sobre seu assunto preferido: Magia. Estes semideuses possuem uma predisposição natural enorme para aprender sobre tipos de magia e reconhecem-nos com facilidade, interpretando e "decodificando" feitiços com facilidade.

Aquela viagem ficava cada vez mais interessante. Eu ficaria empolgada de fazer um relatório quando voltasse a nova roma, contando como minha droga do sono estava funcionando perfeitamente - e como eu estava pronta para o financiamento para produzi-la em massa para nossos legionários -, como Hollyhood estava enclausurada em uma redoma mágica e em como eu voluntariamente tinha entrado no esgoto perseguindo uma dupla de lestrigões. Claro. Por que não?

Enquanto caminho em direção ao boeiro que a dupla havia se enfiado eu olho impressionada para o céu, onde eu conseguia distinguir parcamente os contornos da cúpula que envolvia a cidade. Quando eu parti naquela missão eu não esperava uma tarefa fácil; o campo dos gritos, a energia da morte, o chamado de minha mãe e, por fim, aquela cidade, Hollywood. A maior das entradas para o submundo. Qual era o ponto chave que unia todas estas peças?

Aproximo-me do boeiro evitando ser atropelada. Tento discernir alguma aura mágica vindo da direção de onde os lestrigões vieram correndo em uma tentativa de sondar quem seria o seu perseguidor, a razão de seus medos, mas eu tampouco queria ficar alí para descobrir quem colocava monstros de 2,50 pra correr daquele jeito, mesmo com minha curiosidade me corroendo por dentro. Suspiro profundamente, exasperada com minhas decisões absurdas, então puxo o bracelete invocando minha vassoura e monto nela. Subo pegando um leve impulso e desço sobre o bueiro, adaptando os olhos à escuridão e buscando por sinais dos monstros, vendo, ouvindo e sentindo-os para então persegui-los silenciosamente sobre a vassoura, convenientemente evitando pisar na água suja e fazer barulho ao caminhar nela

No mais, fico esperta para manter uma boa distância. Transmuto meu Robe de Merlin em um robe negro com capuz para melhor me camuflar no escuro enquanto os sigo de longe tentando ouví-los. De quem estariam fugindo, afinal? Fico com meus sentidos físicos e mágicos atentos para não tornar-me de perseguidora a perseguida, sendo pega de surpresa pelas costas.

Conto com o característico aumento de capacidades garantido pelos meus Sentidos Subterrâneos, e conto com isto também para perseguir e espionar meus alvos sem ser notada e também para pressentir a aproximação de qualquer inimigo.

Nível 4 – Visão Noturna: Filhos de Hécate conseguem enxergar a noite e em ambientes com baixa luminosidade.

Nível 8 – Sentidos Subterrâneos: Os filhos de Plutão sabem onde ficam as saídas e entradas de qualquer lugar subterrâneo. Sentindo com ainda mais precisão que seu radar tartárico qualquer presença. E ainda por cima, são beneficiados pelo solo. (+20 AGI, FOR e REFLEX; nessas condições)

- Bracelete da Vassoura Mágica 2.0 [Madeira e Diorito][12]Um bracelete que se torna uma vassoura voadora quando arremessada no ar. Consome 10 de Energia para alçar vôo, mas se mantém voando com energia do gerador embutido nela. Pode voar em supervelocidade por duas rodadas consumindo 30 de energia em cada, mas fica superaquecida depois disso e voa lentamente por duas rodadas após a velocidade. Serve como um canalizador de magias Inicial.

Não pude deixar de sentir um arrepio subir pela espinha quando ouvi os gritos dos lestrigões. Inferno. O que quer que estivesse atrás deles, era mais rápido do que podíamos prever - ou não estava só. Olhei receosa corredor-afrente, tentando ver entre as sombras o que poderia ser, mas para minha surpresa um garoto surgiu muito mais próximo do que eu teria permitido à maioria se aproximar sem ser visto.


Olho surpresa para ele, que parecia não me ver como eu gostaria que visse, mas como eu realmente estava; imunda e fedida, como uma rata mendiga. Talvez aquilo fosse uma coisa boa afinal. Dentro de minha cabeça meu cérebro devia estar soltando faíscas de tanto trabalhar. Inferno. Aliado ou inimigo? E essa cara de mau? E... Aquilo era um Diamante das Almas? Sim, certamente. Meu Olhar de Diamante não se enganaria quanto a isso. olho para o garoto, inspirando fundo uma vez;

-- Ma--mas que diabos, de onde tu saiu ô menino? -- Pergunto pra ele, me fazendo de assustada (o que não deve ser difícil) e completo -- Eu tô indo pra quinta avenida, mas e tu? Que faz aqui? Ouvi alguém gritar agora há pouco, assustador, assustador!!!

Tento discretamente ir olhando pro garoto, fingindo-me de tonta enquanto avalio seus equipamentos, sua postura, sua aura, tentando medir sua força e seus propósitos com o que eu tiver à disposição. Tento utilizar de minha Detecção de Magia e de meus Sentidos Subterrâneos para pressentir a presença de qualquer criatura que talvez pudesse acompanhá-lo. Seria aquele cara o motivo dos lestrigões estarem correndo na superfície? Provavelmente... Tolos. Se sabiam que era um filho de Hades que os seguia e ainda assim foram para o subsolo, então eram muito burros. Quer dizer, só podia ser um filho de Hades, correto? Para surgir assim no escuro, enxergando ali em baixo como se não fosse nada, e ainda ter um diamante das almas... Sim, só poderia ser.

Mantenho-me virada para ele e minha adaga que normalmente fica presa no cinto, na lateral traseira direita, coberta pelo meu capote de couro enlameado para que ele não a veja.

Nível 1 – Detectar Magia [Inicial]: O filho de Hécate consegue detectar auras mágicas fortes em um raio de cinquenta metros (Auras mágicas são referente a quantidade de magia envolvida no monstro ou artefato). (RECONHECIMENTO ACIMA DE 50 WIS)

A situação saía cada vez mais do meu controle. Desde a saída de Nova Roma até minha chegada ali anquele momento as coisas estavam acontecendo uma trás da outra e eu mal tinha tempo de pensar nelas à medida que era atropelada por um imprevisto após o outro. Tinto uma veia começar a latejar em minha têmpora. Talvez meu sistema sanguíneo mandando sangue para a cabeça, pra que funcione melhor, mas naquele momento não estava dando muito certo. Eu só estava ficando mais e mais irritada.

Por algum motivo que eu não sabia explicar, sentia-me naquele momento diante de uma decisão importante. Olho para a direção que o garoto aponta como a Quinta Avenida. Esperto, penso ainda mais irritada. Eu conseguia sentir que não eramos as unicas criaturas mágicas naquela cidade, mas por algum motivo meu radar mágico, assim como a névoa, não estavam funcionando como deveriam. Esta barreira em volta da cidade... Aquele garoto...

Eu estava pronta para iniciar a disfarçar novamente, usando o resto do bom senso que me restava para fingir que estava na verdade meio perdida por causa do escuro quando aqueles gritos encheram minha mente novamente, fazendo-me paralisar por um momento. Fora aquilo que eu tinha escutado em meus sonhos? Aquele grito de almas aprisionadas, o grito de socorro. Aquele garoto definitivamente era suspeito. Eu já tinha visto Diamantes das Almas antes. E aquele estava defeituoso ou...


- Ora - Falo, sentindo a tensão sair dos ombros com o alívio de ceder à loucura do acaso - é mesmo? - Falo e viro sorrindo para ele - acho que me perdi no escuro. É uma pena, garotinho. Os estranhos são a melhor companhia, na maioria das vezes. A gente se vê por aí.

Dou um aceno e começo a caminhar na direção que ele indicou sem questionar. Acendo um Fogo Fátuo no ar ao meu lado, fazendo a chama dançar enquanto me segue de perto iluminando o ambiente. Talvez isso fosse suficiente para despertar o interesse do garoto. Talvez não. Caso ele não me siga apenas vou em frente pelo corredor, torcendo o nariz pro fedor. Caso ele venha atrás de mim eu levantaria uma sobrancelha dando um sorriso de canto e seguindo em silêncio, respondendo animadamente qualquer pergunta dele como parecer seguro. Aproveito nossa proximidade para sentir a energia naquele colar de perto, caso seja possível, embora eu já estivesse quase superada pelo sentimento de perder um dos meus sentidos.

Organizo minha mente como um bibliotecário organiza suas prateleiras após o fim de um expediente longo. Cada coisa em seu lugar, Elie. O que você sabe, e o que não sabe? O que você pode controlar e o que não pode?

Eu sabia que a cidade estava envolta por uma barreira mágica que eu desconhecia. Que minha maior arma, a névoa, estava bugada, e meus preciosos sentidos mágicos confusos. Aquele garoto definitivamente era uma parte do problema. Ou ao menos, portava uma variável daquela equação que eu falhava em resolver. Mas tudo bem. Tudo bem. Quando tudo mais está fora de controle, é o momento mais crucial de se manter o próprio controle. Sim. Apenas. fique. Calma.

Um passo após o outros sigo no escuro, subindo para o lugar seco na primeira escadinha que encontrar e subindo em algum bueiro alguns quarteirões à frente, ou assim que eu parecer estar passando abaixo de um lugar mais silencioso.

A primeira coisa que cruza minha mente é a ideia de buscar uma base ou abrigo, mas sem a névoa isso seria particularmente impossível para mim. Ergo a mão tentando manipular o véu mágico, concentrando-me para sentir como ele não estava funcionando e, talvez, o porque. Se eu passasse próxima à fonte daquela magia eu seria capaz de sentí-la? Se eu chegasse perto da borda daquela barreira seria capaz de entendê-la melhor? Eu devia ter dado um jeito de seguir o filho de Hades ao invés