Me dirijo à minha cama um tanto quanto decepcionado por não ter progredido de forma alguma e ainda ter atrapalhado o grupo, não podia deixar de pensar em meus erros nessa noite, a única coisa que me deixava minimamente satisfeito era poder continuar ajudando à encontrar os desaparecidos.

O escuro, já tinha me esquecido de como era não enxergar nada em meio as trevas. Já estava ficando acostumado com sonhos diferenciados, o que não era uma boa coisa, mas se tratando de quem eu sou, sabia que isso poderia agregar algo para os meus objetivos, nenhum sonho vem por acaso. Me perguntava se a minha sombra também havia visto o que eu sonhei. Podia ouvir vozes, o que seria normal se eu conseguisse entendê-las ou ao menos compreender a língua que elas falavam. O que seriam essas vozes? Estariam elas associadas ao ser por trás disso tudo?

E a luz? O que estava acontecendo lá? Queria ir até o lugar, mas assim que dou o meu primeiro passo, volto a realidade.

Acordo com um de nossos irmãos me olhando com um olhar de desaprovação, já imaginava o motivo, mas ainda assim me perguntava como alguém que encontra seu ápice durante a noite conseguia acordar tão cedo, encarar a luz do sol com tanta facilidade. Me levanto e aceno com um olhar sonolento para Jason, em seguida vou ao banheiro e início meu dia com um banho gelado para ter mais energia. Enquanto estou no banho, me indago a respeito de meu sonho mais uma vez, sentindo uma sensação de quero mais em meio ao sofrimento daquele banho.

— Você viu o que eu vi? — Digo para a minha sombra enquanto desligo o chuveiro e pego minha toalha.

Faço o resto de minhas tarefas, parando um tempo para me olhar no espelho e ver o quão desleixado estou. Terminando de fazer minha higiene básica, me visto e vou até o refeitório com Jason, chegando lá eu pego meu café da manhã, 3 ovos, uma xícara grande de café amargo extra forte e uma banana com aveia, tudo separado em compartimentos de uma bandeja. Me dirijo até a mesa do meu chalé e já vejo meus dois irmãos sentados. Shouto parecia estar querendo que eu enchesse o copo dele com alguma coisa (coca cola? O.o), mas eu sinceramente havia acabado de acordar e estava com muita preguiça de me levantar da cama, então apenas dou uma leve bebericada para não dizer que não tomei nada e passo a minha xícara para o garoto.

— Foi mal mano, vai ter que ser isso aí mesmo. — Digo, um pouco sonolento mesmo após o banho gelado.

Como um pouco de meu café da manhã e já me direciono a Jason.

— Por onde começaremos hoje? — Digo casualmente ao guarda, tirando grande parte da atenção que eu dei a minha refeição.

Sempre tive uma certa noção de que minha linhagem não era bem vista pela maioria do pessoal no geral, mas é sério isso? Poderia pelo menos tentar demonstrar ao menos um pouco de simpatia. Bom, se tratando de minhas peculiaridades em relação às sombras. Ao menos eu ainda tenho o meu grande amigo que me entenderá em qualquer situação.

Observo a direção em que a semideusa apontou e concentro o meu radar, sei que anteriormente isso não havia funcionado, mas ninguém estava sentindo cheiro algum naquele momento e eu não estava no meio da floresta, então talvez agora eu tenha uma chance maior de sentir algo diferente. Concentro minha marca em meu rosto novamente, formando pequenas linhas abaixo de meus olhos como anteriormente, porém um pouco menores.

— Não temos muitas opções a não ser ir investigar o cheiro, né? — Digo seriamente, pensando em o que eu poderia fazer se esse sentimento de atração tomasse conta da guarda.

Caso a mesma diga sobre o perigo do que pode estar lá, ou demonstre uma certa insegurança em relação à minha proposta, eu digo:

— Pode confiar em mim. Gastarei até o que eu não tenho para tirar nós dois de qualquer situação que não possamos lidar.

Se mesmo assim ela não quiser ir até lá, ouço a proposta dela e apenas obedeço. Já se ela quiser ir até o cheiro, irei um pouquinho à frente, demonstrando preocupação quanto a garota, mantendo a minha mão no cabo da espada. Se qualquer coisa aparecer no caminho, já empunho a espada e me coloco entre a garota e a coisa, ficando pronto para bloquear possíveis ataques com a minha espada ou manga de minha blusa. Se nada aparecer,  eu continuo falando:

— Se encontrar uma caverna, não hesite em me avisar. Eu sinto que a chave para essa investigação pode estar em uma dessas.

Uma casa? No meio da floresta? Não poderia haver algo mais estranho. Sempre falaram de entradas secretas para o labirinto e o submundo, eu mesmo já adentrei uma caverna que tinha um ecossistema e até um sistema de classes próprio bem abaixo do acampamento, todavia nada estava na superfície, nada era tão nítido quanto essa casa, e mesmo assim é a primeira vez que a vejo, nunca tinha ouvido falar em algo assim.

Pisco algumas vezes, tentando ver se não há nenhuma névoa disfarçando a real aparência do lugar, em seguida toco na grama para mais uma vez tentar buscar algum sinal maior além de minha própria intuição. Isso tudo estava muito estranho, a casa isolada em conjunto com o cheiro que a garota sentia me lembrava até um pouco a história de João e Maria, porém um pouco mais tensa, já que eu estava vivenciando isso ao lado de uma pessoa que provavelmente não estava em 100% de suas capacidades cognitivas.

— Calma, você não acha tudo isso estranho demais? — Indago , observando os arredores, sobretudo a casa, buscando ver se tinha alguém dentro dela pela janela. — Digo, essa casa, esse lugar. É muito estranho isso ter estado aqui por tanto tempo e ninguém ter nunca comentado sobre. Está tudo bem?

Aguardo a resposta da semideusa, mas sabia que não teria muitas opções fora a entrar na casa, apenas queria saber em o que estava me metendo antes de entrar em uma área desconhecida, afinal, nunca se sabe quando alguém vai te nocautear com magia ou com um bastão, preparo nunca é demais.

Lembro das pegadas e observo o chão, procurando mais uma pista que possa me ajudar a saber onde os garotos podem estar e me preparar juntamente de minha aliada para o que vem a seguir. Por fim, pergunto para ela se ela quer entrar escondida ou se quer bater na porta, se ver alguém pela janela ou sentir que há algum monstro ou espírito por perto, à deixarei sabendo para que ela tome a melhor decisão, também sugiro entrar na sombra dela e sair em algum momento oportuno, mas falo com um tom diferente das minhas outras sugestões, indicando que não acho que essa é uma boa opção. Nem cito que eu tenho a capacidade de entrar sozinho, pois nem considero com opção deixa-la sozinha, ainda mais depois de agir normalmente perante à isso.