"Não vou desistir. Eu não vou desistir!" Penso, mais uma vez estava comparando toda essa situação com Bees, só que dessa vez tudo era diferente, agora apenas eu estou aqui, o único que talvez tenha uma chance de vencer ele sou eu. Eu sou o único capaz de nos tirar dessa situação.

Não era apenas a pressão que a sua presença exercia que me botava terror, mas também o que ele fez com a garota, um pequeno deslize e eu estaria do mesmo jeito que os dois, ou talvez até pior. Não tinha toda a minha magia disponível para fazer algo similar ao que eu havia feito, mas com certeza posso aproveitar do pouco que estava à minha disposição. Se tratando de um mago, se eu conseguir me aproximar, posso conseguir ao menos equilibrar as coisas, o único problema é realizar isso. Estava me sentindo pesado e sinceramente isso é desesperador, queria poder me agarrar em algumas coisa para continuar crendo que eu podia vencer isso de alguma forma e não simplesmente jogar tudo fora.

"Ninguém é invencível, não há nenhum ataque que não possa ser evitado" Penso, não tirando meus olhos dele por um milissegundo sequer. Isso não é totalmente indetectável, alguma coisa tem que mexer, o mato, o ar ao redor disso, qualquer coisa, pelo menos isso é o que eu espero.

— Avancem nele bem separados! — Comando meus esqueletos restantes, esperando que se eles avançarem desta forma, talvez a criatura tenha alguma dificuldade para matar todos.

Me aproximo com cautela, observando o que ele irá fazer, o movimento da grama ao meu redor e atento minha audição e tato ao movimento do ar em meu entorno. Mal o vi, mas já começo a supor suas fraquezas, afinal, tinha que pensar em como posso vencer para não pirar totalmente. Assim que estiver à aproximadamente 3 metros, espero um dos esqueletos lhe alcançarem primeiro para no momento em que ele usar suas magia ou fazer qualquer outra coisa, arremessar uma faca na direção de sua cabeça juntamente de um tiro que vai na direção de sua perna. Minha suposição inicial é que ele não será capaz de lidar com tantas coisas ao mesmo tempo em tantas direções diferentes, mas sei que não pode funcionar, então me movimento o máximo que conseguir logo após a ação, dando certo ou não.

Mesmo não tendo minha agilidade em seu máximo, me mantenho bem movimentado. Tento andar para os lados com frequência, ir para a frente e para trás. Sinto que é melhor do que ficar parado. Se eu for arremessado como a minha companheira, tento ao menos proteger minha cabeça com a mão que não está segurando a espada.

Havia simplesmente sido ineficaz, tudo que eu fiz foi em vão, mas por quê ali? Por que tão inutilmente? Por que tinha recebido uma segunda chance? Bom, não sabia explicar nada, apenas estava profundamente desapontado com a minha falta de poder. Não consegui salvar o Ben, a Amanda e a mim mesmo, pelo menos posso falar que dei o máximo de mim. Não havia mais forças para continuar em meu corpo, pude ouvir passos distantes, mas nada pude fazer para pedir ajuda, talvez ser morto sem pedir por ajuda fosse o certo, já que não há motivo para mais uma vida ser desperdiçada.

Minha alma realmente estava abandonando o meu corpo, todas o meus erros e conquistas não eram nada naquele momento, será que é assim para todos os monstros que nós matamos? Não posso dizer que senti medo ou desespero enquanto minha consciência se esvaía juntamente de minha vida, pois a tristeza e arrependimento de não ter feito nem o mínimo que deveria, de não ter tido forças nem para fazer ele sangrar, de não ter sido tão útil quanto queria era bem maior. Estava afundando em uma escuridão infinda e não me sentia nem um pouco bem.

Então repentinamente estou ao lado de meu irmão, o que ele estava fazendo aqui? Não sabia o que havia acontecido e não poderia dizer que me sinto exatamente vivo ou até mesmo feliz, tudo ali era estranho. O acampamento estava totalmente vazio, apenas eu, Shouto e o homem desconhecido estavam lá na frente de nosso chalé. Alguma coisa nele me era familiar, não que eu já tenha visto alguém similar, mas algo me familiarizava com ele, talvez sua pele pálida como a neve, ou seus olhos negros como a noite mais escura.

- Poxa, eu achei que vocês dois iriam durar mais. — Ele disse despreocupadamente.

Eu aceito o que ele oferece sem a desconfiança que havia tido quando a velinha me ofereceu a torta, afinal, não tinha nada a perder. Não posso dizer que estava tranquilo, muito pelo contrário disso, estava apenas vendo até onde isso ia chegar, lidando com a minha tristeza com uma atitude vazia, não era só meu corpo que se tornou uma casca, mas a minha alma também. Todo o ego e convicção que antes havia dentro de mim fora substituído por desgosto, tristeza e o vazio.

Ele então diz que não podíamos morrer até que nossa missão terminasse. Queria falar alguma coisa, mas logo saí daquele local que parecia estar entre a vida e a morte.

Abro os meus olhos não enxergando tudo logo de cara, pisco algumas vezes e coço meus olhos, identificando todos que conhecia ao meu redor. Olho cansadamente para todos, mudando a minha expressão para algo um pouco mais alegre assim que vejo que Amanda estava viva e aparentemente bem, mas fico triste novamente assim que me lembro dela sendo arremessada pelo molusco. Tento elevar meu tronco como se estivesse fazendo uma abdominal, em seguida apoio minhas costas na parede. Olho para Shouto que novamente estava ao meu lado e não parecia estar nem um pouco melhor que eu, em seguida olho para Ben e Alex expressando uma dor profunda, sinalizo para os guardas esperarem antes que qualquer um faça alguma pergunta e me viro para o meu irmão novamente. Queria lhe pedir desculpas por ter envolvido ele nessa situação toda, mas antes disso, queria saber se era ele de fato que estava lá.

— Alguém não nos quis lá. — Falo em voz baixa por cansaço físico e emocional. — Eu tenho minhas suposições, mas talvez as suas possam me clarear melhor.   

Não acreditava em mais nenhuma coisa que achava que sabia, então apenas espero o meu irmão gesticular para me explicar o que ele pensava.

O discurso de Charlie levanta um pouco a minha moral. Estava contente por ter sido o responsável por chamar os guardas para nos salvarem, mas não o suficiente para ter uma melhora significativa na forma que estava. Minha expressão de sofrimento é suavizada com toda a situação e a proposta, estava atento às suas palavras, levando em consideração cada coisa que falaram.

Ainda continuava muito triste com toda a situação, mas estranhamente esses dois conseguiam criar uma atmosfera mais leve, mais acolhedora. Havia sido conselheiro do meu chalé por pouco tempo e não conhecia a personalidade de seus poucos habitantes, estava um pouco envergonhado, mas além disto, estava levemente feliz com a forma que agia. Havia agido sozinho ou com pessoas não muito positivas por um grande período de tempo desde a minha ultima missão com o Martin, e ter um quebra gelo com certeza era muito bom para mim.

— Eu gostaria de saber se vocês estão interessados em nos ajudar a entender o que aconteceu. Por mais que tenhamos resgatado Alex e Ben, eles agora parecem dois bebês que precisam de cuidados o tempo inteiro. Não é como se nossa missão tivesse acabado.

Enquanto Charlie fala, percebo que Jason estava trancando as portas e já penso que provavelmente o assunto ficará mais sério ou algo assim, então já me preparo para o que eles irão falar.

— Caso queiram, podem se juntar aos guardas e trabalhar comigo. Eu vi por altos as habilidades de vocês e apesar de dizer que hoje, vocês tem muito o que melhorar, são talentosos. O que vocês nos dizem?

Essa última proposta muda completamente tudo que estava sentindo, meus olhos se arregalam e uma sensação de euforia preenche meu peito. Trabalhar com os guardas?! Depois de todos os meus erros, ajudá-los era o mínimo que podia fazer, mas muito além disso, sempre quis ajudar o acampamento da melhor forma possível, e talvez não houvesse uma forma melhor para fazer isso do que me juntar ao grupo que justamente existe para seguir esse único propósito. Por mais isso fosse inesperado, agarro a oportunidade imediatamente.

— Eehh.. err... Sim... Claro! Estou mais que disposto a me juntar aos guardas e ajudar da melhor forma que puder! — Falo com uma grande empolgação, tentando superar a minha timidez e surpresa.