Eu estava sozinho, perdido e sem muita esperança de conseguir ajuda àquele ponto.

Procurei um lugar onde pudesse acampar e fiz uma cabana com as árvores que encontrei como fomos ensinados no acampamento, procurando troncos sólidos para fazer as bases e folhagens volumosas para fazer a cobertura. Quando cheguei ao fim, peguei lenha e a cortei com a espada, quando a fogueira estava pronta eu usei o canivete de 1001 utilidades para acender as chamas. Caso não fosse possível, usaria o | calor solar | em um dos troncos, permitindo que ele se incendiasse com o calor.

Quando finalmente terminasse, me escolheria dentro do abrigo e me aqueceria ao redor da fogueira.

Já havia estado em situações ruins antes, mas nada se comparava aquela.

Meus recursos estavam limitados, especialmente agora sem minha aljava, sobrando apenas a espada que ganhara ao entrar no acampamento. A deixei a mão, pronta para me defender antes de apagar o fogo e me encolher dentro do abrigo precário que eu tinha construído, me fechando dentro da capa encantada com as sombras para me tornar ainda mais difícil de rastrear, mas eu sabia que meu cheiro era o suficiente.

Esperar o dia amanhecer era minha única aposta, de modo que iniciei minha vigília da madrugada.

Provavelmente ficar seria o caminho mais seguro, mas a verdade é que o tédio estava perto de matar e me mover um pouco não faria nenhum mal, especialmente com o frio que estava começando a se abater com a chegada da neve.

A primeira coisa que fiz, antes de me aventurar pela floresta foi chamar os corvos do local para me apoiarem, enquanto me dirigia, o mais silenciosamente possível para onde meus ouvidos me diziam ser a origem do barulho. Ordenei que um dos corvos fosse na frente e me contasse do que se tratava, enquanto me escondia debaixo do manto de minha capa, que se misturava com as sombras da noite.

Nível 7 – Chamado dos Corvos: O filho de Apolo convoca todos os corvos que estiverem nas redondezas para ajudá-lo em narração. Sendo simbolo de Apolo, seus filhos também poderao se comunicar com estes. A habilidade requer 50 pontos de energia e entrará em espera por 4 rodadas.

Eu devia saber que a falta de retorno dos corvos significavam que eles tinham sido mortos, mas minha urgência em conseguir informações, especialmente com a suspeita crescente em meu peito, acabou por me trair.

Minha consciência se esvaiu mais rápido do que imaginei, talvez por causa do cansaço, queda e tudo o mais que envolveu aquela missão desde seu princípio.


Demorei a entender do que se tratava a cena.

Estava no topo de um vale, observando o que parecia ser uma das caçadas de minha irmã, correndo por entre a vegetação como uma corsa, saltitando por entre as árvores com graça e beleza, no encalço de uma criatura cuja a forma eu não conseguia discernir de onde eu estava.

Outras caçadoras pareciam estar na mesma incursão, cercando a criatura pelos flancos, mas era visível que a mesma parecia muito a vontade em meio ao vale, como se fosse sua habitação e armadilhas espalhadas pelo local estavam dando trabalho para a equipe destacada para aquela missão.

- O destino de vocês dois sempre esteve entrelaçado. - Ouvi a voz melodiosa que já ha tanto tempo conhecia. - É uma maldição... - Dava pra sentir o pesar do oráculo. Já conhecia a história, mas havíamos sobrevivido até aquele ponto não tinha porque se preocupar mais...Bom...Não tanto quanto seria normal para um semideus...


Ainda com o sonho bem vívido em minha mente confusa e enevoada pelo atendimento, fora despertado pelos malditos solos irrequietos de uma guitarra cheia de efeitos, um baixo ritmado demais e uma bateria num andamento muito desencontrado. Se essa era a forma de me torturar, eles tinham acertado em cheio.

O acampamento dos centauros me pareceu selvagem, com eles dando mais vazão a seu lado equino do que humanóide, o que significava que podia esperar pouca racionalidade da espécie.

Boa notícia? Tinha encontrado os Centauros! Má notícia? Tinha encontrado os Centauros!

Eu me demorei um pouco a absorver os detalhes ao redor, tentando ignorar a semitonação de uma das escalas que o guitarrista da banda cometeu e pareceu me acertar como uma flecha, mas era óbvio que estava diante de dois líderes que ponderavam com a carne do almoço a ser servido, a saber, eu.

- Lamento informar, mas tenho me alimentado muito mal ultimamente, pouquíssima carne para dividir com o bando todo. - Consegui falar apesar do desespero, tentando recuperar o controle da situação mesmo amarrado. A menção de comida fez meu estômago roncar e olhei para o céu tentando identificar que horas eram.

- Eu estava procurando por vocês! Soube que estão com problemas aqui no Norte! - Comentei, tentando transparecer segurança e avaliando a expressão das criaturas, já que era impossível mentir para mim, graças ao Broche da Iluminação.

- Meu nome é Aron Tinuviel, sou filho de Apolo! - Me apresentei tão logo tive oportunidade, numa forma de talvez me humanizar. - Qual o nome de vocês? - Inqueri ainda mantendo a calma, ao menos tanto quanto possível.

Não me importei com as ameaças do Pavio Curto, já que era visível que ele não mandava muito no bando, do contrário, eu já estaria morto. A palavra definitiva não vinha dele, mas sua opinião certamente era relevante e eu não queria forçar a mão dele mais do que o necessário.

O Sem Cérebro ganhou maior atenção em meus olhos assim que notei que estava com MINHA ALJAVA. Maldito!!!! Talvez ganhasse com ele numa disputa de palavras, mas se estava no círculo íntimo dos aparentes comandantes, significava que ou tinham relações consanguineas ou...Ele era um guerreiro respeitável. Não fazia sentido mexer com ele.

Já o Caladão obviamente devia ser o cara que raciocinava daquele grupo, provavelmente o líder daquele bando todo, mas não dava pra apostar, eu não conhecia a cultura dos centauros o suficiente para saber o que eles valorizavam.

- Bom...Certamente vocês têm algum problema. Se não aqui, talvez mais ao norte? Pã falou especificamente que precisava da minha ajuda para evitar o colapso da natureza ou coisa do tipo...Os sátiros ficaram tremendo nos cascos mas eu não entendi muito bem o quão grave seria, mesmo sem saberem do que se tratava...Mas eles disseram que os sábios Centauros saberiam dizer com certeza...Se que se referiam a outros? - Existia um quê de provocação em meu tom, embora velado, apenas para alfinetar e esperar que eles soltem mais alguma informação.

O fato dos corvos não avançaram em meu socorro estava me fazendo sentir um cheiro ruim naquilo tudo e eu tentei tocar a mente deles e lhes inquérirem o porque de sua passividade, mas já estava feliz em saber que estava praticamente no limite da fronteira com o Canadá...De lá, para o Polo Norte, seria mais rápido...