- Eu acho que você não entendeu muito bem o que falei...Sou filho de Apolo, não de Hermes. - Apesar da situação em que me encontrava, sabia que fraquejar diante de uma ameaça só me faria parecer mais culpado. Mantive meu semblante firme e confiante. Eu não era um nitroso, nunca fui. Irônico? Só quando via necessidade. Debochado? Pra defender alguém, talvez. Mentiroso? Nunca! Ladrão muito menos! Eu era um talento de Saint Agnes! Um gênio do piano! Um artista. - O Conselho do Casco Fendido me deu essas moedas em reconhecimento da missão que Pã me dera. Eu estava seguindo em direção ao norte no meu Pégaso quando fui atacado por um bando de abutres, eles derrubaram a minha aljava, que é a mesma que o tal Barth está usando, caí de cima de um cavalo à quatro metros de altura, tive que fazer um acampamento sem nenhum recurso e vim até aqui porque ouvi o barulho dos cascos de vocês, certo que me ajudariam a ajudar Pã, mas pelo visto estão mais preocupados em assar um enviado do seu patrono do que realmente ajudá-lo. - Cuspi cada palavra com a ira de um filho de Ares depois de ser atingido.

Era claro que minha situação era desvantajosa, mas era necessário que eu fizesse eles acreditarem em cada palavra que eu dissesse, por isso os encarei de frente, mesmo estando preso e com uma lâmina no meu pescoço.

Já havia enfrentado coisas piores em todos aqueles anos, já havia, inclusive , descido ao Hades a pedido de Circe. Porque temeria um bando de quase homens.

- Eu garanto que não estou! - Esbravejei, mas sabia que ficar irritado aquele ponto não levaria a lugar algum... - O que preciso fazer prara que você acredite que estou falando a verdade?

- Juro pelo Rio Estige que estou falando a verdade. Pã solicitou ajuda e o Conselho de Cascos Fendidos me deu essas moedas em reconhecimento pela missão. — Falei sem pestanejar. — Agora...Se as coisas estiverem tão ruins como o semblante de assombro estampado nos Sátiros quando eu deixei o acampamento, logo, logo vocês saberão do que estou falando. Segundo a profecia, o mundo irá queimar e quando isso acontecer vocês vão se lembrar que EU tentei fazer alguma coisa...A culpa vai ser todinha de vocês. — Esbravejei, mas não sabia se adiantaria.

Os centauros eram a minha melhor aposta para descobrir pra onde eu deveria ir, mas com a sua relutância em me ajudar eu não sabia o que fazer.

"Pã bem que poderia me dar uma mãozinha agora, não é?"

Tentei procurar dentro da minha mente, alguma cantiga de adoração ao deus que já tivesse ouvido no acampamento. Um guardião ou talvez um sátiro. Será que conseguiria invocá-lo com a cantiga?

Minha vida estava por um fio, mas conseguiraser salvo por uma linda donzela! Parece que o conto de fadas ta ao contrário.

Gostaria muito de dizer que meu orgulho estava ferido, mas não consegui conter o sorriso ao ver alguém acreditando no que eu estava dizendo, mesmo sendo verdade.

- Olá! Acredito que tenha ouvido, mas meu nome é Aron. Qual o seu? - Inqueri com um sorriso no rosto que ao mesmo tempo esbanjava alívio e simpatia. - Você sabe alguma coisa do que está acontecendo? Esperava que os escoteiros aí me dessem alguma informação do porque Pã me chamou para o Norte, mas aparentemente eles só são bons em dar nós - Indiquei minha situação, que a própria ninfa se mostrara descontente.

Finalmente as coisas pareciam começar a andar para um rumo mais civilizado.

— Atrasado? — Eu não tinha dito quanto tempo eu tinha até que alguma coisa desse errado, na verdade, nem eu sabia quanto tempo eu tinha pra chegar ao Norte, muito menos o caminho que tinha que percorrer, mas a dríade parecia extremamente íntima com todas aquelas informações, especialmente para quem dizia não saber de nada. — Bom...Meu plano era trocar uma dessas moedas pela cooperação dos Centauros, além de conseguir indicações de pra onde eu devo ir. Não sei de muita coisa e admito que sou um semideus com pouca experiência comparado aos demais, mas se Pã me escolheu para a tarefa, significa que sou responsável pela conclusão dela. Não sou do tipo que deixa as incumbências de lado, especialmente quando qualquer coisa que afete a Natureza vai afetar o mundo inteiro... — Falei.

No conservatório, sempre tínhamos concertos sobre conscientização ambiental e, apesar da maioria tratar o assunto com banalidade, sempre assisti os discursos e palestras com certa atenção, embora não soubesse o quão significativa eram as forças que mantinham esse planeta ainda estável e Pã é um valioso aliado para manter as coisas em seu rumo. Se tem uma coisa que ser semideus me ensinou é que o que quer que afete a Natureza, afetará completamente todos, inclusive a mim e minha irmã. Precisávamos fazer alguma coisa para que tudo entrasse em seu eixo.

— Mas agradeço se me der qualquer informação que possua, mesmo. Pã não me deixou nenhuma pista se quer de por onde começar. — Disse, com certo pesar.