Laura dá um grito ao passo que uma chuva de garrafas parte na direção do homem. O líquido impulsionou-as para frente. Não era rápido ou forte o suficiente para causar-lhes danos sérios, mas certamente havia o atrapalhado. O rapaz movimenta a marreta, quebrando-as as que se dirigiam a sua cabeça e sentindo as demais se chocarem contra seu peito e membros. O vidro se quebrou deixando-o molhado de uma mistura de vinho, whisky e diversas outras bebidas de teor alcoolico. Contudo, o vidro pareceu não lhe causar nada além de leves arranhões.

A menina havia se protegido dos estilhaços de vidro junto ao rapaz e, ao se aproximar da sacola, sentiu o calor emanando dali. O cheiro era maravilhoso, como se fosse alguma comida de massa quente. Foi aí que ela percebeu o que o p queria dizer. Pastel.

Ela ficou tentada a abrir, mas não houve tempo algum. A marreta desceu, amassando o balcão com facilidade. O homem agora estava logo a sua frente, preparando-se para afundar seu rosto com a marreta. Ele parou alguns instantes, sentindo o cheiro da sacola e se voltando para a semideusa.


- Me dá o pastel e eu te deixo viver -

O rapaz dá um sorriso, estendendo uma das mãos para pegar a sacola e sendo surpreendido por uma forte enxaqueca. A dor o fez recuar alguns passos e segura a marreta com mais propriedade, estranhando aquilo e lançando alguns xingamentos em grego antigo. Mesmo que não tenha baixado a guarda, a semideusa opta por tentar desarmá-lo estocando na direção da suas mãos. O gerente movimenta os braços para baixo, usando o cabo da arma para aparar a estocada e levantar o braço da criança.

Laura só tem tempo de receber um chute em seu peitoral, voando contra a estante de bebidas agora vazia e sentindo uma forte dor nas costas. Não havia sido tão forte quanto ele tinha sido até o instante, certamente fruto do incômodo causado pela enxaqueca. Ele estava a 2m, se preparando para avançar mais uma vez. Mesmo que prejudicado devido ao poder da menina, ele ainda era um oponente superior.

Laura estimula o rapaz que estava deitado, dando-lhe um de seus sabres e focando no seu oponente. Ela sabia da desvantagem que possuía e talvez em maior número pudessem contornar isso. A filha de Dionísio tenta então realizar uma finta. Embora não estivesse com o florete a sua agilidade e o estado debilitado do seu oponente favoreceram para que conseguisse. O bronze celestial cortou os olhos colossais do gerente, fazendo-o dar um grito que certamente não era humano. A voz era múltipla e grave, forte o bastante para estremecer as próprias paredes. A menina tentou se afastar, mas não houve tempo. O rapaz segurou-a pelo pescoço, erguendo-a do solo com facilidade. Não conseguia enxergar, mas sequer precisava. Em um mero aperto, já não haveria mais chance de sobrevivência. A meio-sangue olhou para as mesas mais a frente, já sentindo que não havia o que fazer. Sentado na mesa mais próxima a entrada estavam três velhas tecendo um fio.

A da extremidade aproximou uma grande tesoura e no momento do corte, a garota sentiu que aquilo fora o gatilho para que o homem a matasse. Como se aquele fio... fosse sua própria existência. Sua visão escureceu pouco a pouco, mais um segundo e ela teria desmaiado.


- ARRRRGH - Gritou o gerente, afrouxando os dedos e permitindo que Laura pudesse puxar o ar outra vez. Naquele instante percebia o quanto estava sendo sufocada. No peito do homem, uma arma dourada se projetava. Mais atrás, Sir Elieser dava um sorriso macabro, como se estivesse em êxtase.


- O pastel? - Perguntou, estendendo a mão. A filha de Dionísio estremeceu. A forma do homem era a de um velho de jaleco, mas a energia que emanava era diferente. Semelhante a que sentira quando estava no telefone. Sentiu seu estômago embrulhar e de prontidão, deu-lhe o item. Aquela altura, ela já sabia de quem se tratava. Hades fechou a boca, dando-lhe uma expressão de frieza e jogando a comida ao chão. A sacola afundou na sua própria sombra, como se fosse um saco de viagens.


- Você foi leal a missão que foi dada. Cumpriu seu dever, como eu deixei claro. Não cabe a mim explicar o porquẽ disso tudo e também não cabe a você questionar. Meu respeito não vale mais que migalhas no Olimpo, como já deixaram claro, mas saiba que você o tem, criança. - Ele estalou os dedos e a sombra de Laura se pôs a sua frente, estendendo uma sacola idêntica a que ela tinha entregue ao deus, mas com uma energia diferente, um pouco mais fraca. Sem se prolongar, Hades começou a brilhar em uma luz dourada. Instintivamente, a garota se virou, tentando não olhar diretamente para a luz. Fechou os olhos por alguns segundos e de maneira estranha, sentiu uma forte brisa invadir-lhe a pele. Quando os abriu novamente, estava encima da mesa do refeitório. Ao redor, a maioria dos campistas estava com o almoço em mãos, provavelmente se aprumando para fazer a oferenda aos deuses. Havia muito o que se explicar, mas, naquele instante, Laura sentiu que havia acabado sua tarefa.