Charlie se aproxima cautelosamente de seu amigo lobo, que continua abaixado oprimido (?). O filho de Ares chama pelo nome de seu companheiro e percebe que as orelhas dele se levantam em sua direção, reconhecendo-o. O lobo olha pra Chrlie com uma expressão triste, o brilho dos olhos fraco. Agora mais perto, sob a luz de sua espada, Charlie percebe que Ragur está magro, muito magro. Se os campistas estavam achando-o grande agora, se tivessem visto quando estava bem teriam se cagado.

Aos poucos Charlie se aproxima. O lobo parece um pouco assustado com a chama, então o filho de Ares apaga sua espada. Um objeto cai da árvore ao seu lado e começa a brilhar, fornecendo luz. Ele percebe que era um chifre brilhante.

Sob a luz branca do chifre Charlie se ajoelha ao lado de Ragur e acaricia sua cabeça. Aos poucos o lobo se acalma e começa a respirar mais uniformemente. Ele olha Charlie nos olhos, parecendo mais calmo, mais consciente. Então fecha os olhos se concentrando. Névoa se desprende do corpo do lobo. Ele enfia as unhas no chão, parecendo fazer esforço, e então seu corpo começa a encolher e mudar até que um magro semideus está deitado no colo do guarda.

- Charlie...

Ragur dorme. Ou desmaia, talvez. Estava exausto e desnutrido, com olheiras profundas em baixo dos olhos. Definitivamente, algo de errado não estava certo com aquele cara.

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Horas depois o trio estava na enfermaria. Ragur dormia pacificamente sob os cuidados de Enzo, que não gostou de trazerem um estranho pelado pra ele cuidar. Shouto continua na forma de corvo, coçando suas penas e parecendo bastante confortável assim. Ele fala para Charlie que os guardas haviam recuado da floresta e aguardavam em rondas normais em volta do bosque. Bjorn estava coordenando a mudança de turnos. Ele pergunta se Charlie precisaria e mais alguma coisa e se não, estaria partindo para sua missão em New Hampshire.

Três horas depois, com algumas musiquinhas aqui e ali, Ragur desperta. Charlie estava na enfermaria esperando-o acordar, cochilando perto da janela, quando sente algo bater em seu rosto. Quando abre os olhos vê Ragur mirando mais uma bolota de papel nele. Uma sombra do sorriso travesso do filho de Hermes cruza seu rosto magro.

- Cara, finalmente. Você sempre demora assim para atender suas visitas? Tem uma semana que eu rodo essa floresta maldita!

Ragur começa a rir roucamente da resposta de Charlie, e começa a tossir. Charlie fala suas ordens pra Shouto e o corvo o olha assim então bate as asas e some na noite escura.

O filho de Ares se aproxima do menino-lobo que levanta o braço pra baterem o punho amigavelmente. Ele olha em volta caçando um copo d'água, o qual encontra em cima da mesa e logo toma um gole. Suspira...

- Cara, eu nem sei por onde começar. As coisas têm andado muito doidas recentemente.

Ele comenta então como tinha voltado para visitar alguns amigos que também eram lobisomens depois de seu encontro alguns meses antes. Tudo estava bem quando chegou mas as notícias sobre o que tinha ocorrido em seu ultimo encontro não demoraram a acompanhá-lo. Logo todos os lobos daquela metade do continente sabiam sobre a morte de dois dos antigos filhos de Licáon haviam sido mortos por um filho de Ares e um lobisomem que era um Semideus. E logo os lobos começaram a farejá-lo... Alguns para conhecê-lo. Outros para testar sua força... E alguns, os mais chatos, para cobrar que seguisse as tradições... Que assumisse a liderança das antigas matilhas, e guiasse os lobos sob suas presas.

Mas isso era exatamente o que ele não queria. E por um tempo eles apenas o aceitaram como um lobo solitário; não gostavam de sua existência, mas tinham receio demais para ousar um ataque.

Mas, há cerca de cinco semanas, algo tinha mudado. Primeiro começou com os animais da floresta. As caças agora não fugiam, mas revidavam mais, guiadas por um impulso antinatural. Os lobos começaram a atacarem-no... Até mesmo os lobos comuns, que viviam nas florestas e nunca questionavam lobisomens. Agora o desafiavam num ímpeto selvagem que ele nunca vira antes. Os animais estavam enlouquecendo... E logo os Lobisomens foram afetados também. Ele foi atacado seguidas vezes, e recuou em direção ao Acampamento visando pedir-lhe ajuda. Mas não esperava que no meio do caminho seria atacado por Macednus, o fundador da Macedônia... Quem era também um dos 51 filhos de Licáon, e o queria em sua alcateia. O que ele esperava menos aindaera que conseguiria não só resistir ao controle de Macednus mas também derrotá-lo em uma luta completa. Isso o rendeu uma semana de paz, mas apenas isso... Logo a sombra de mais um dos 51 lobisomens originais mortos repousava sob a luz de sua fama. E ali estava ele, viajando por duas semanas sem parar depois disso, atacado por lobos remanescentes das três famílias e outros renegados, que queriam matá-lo ou obrigarem-no a o adotar.

Mas não era este o problema. O problema era que tudo daquilo estava muito violento. Muito mais do que seria normalmente antigamente, todos os lobos pareciam estar loucos, selvagens, cheios de vontade de matar. Eles eram uma espécie selvagem, sim, mas... Não sabia explicar. O brilho no fundo dos olhos dos lobos não parecia mais prateado, e sim vermelho.

- Eu estou na sua floresta há um tempo... Não sei bem quanto. E... Recentemente comecei a me sentir estranho, também... Caçava mesmo quando não sentia mais fome, e sinto uma forte voz em minha cabeça, como um instinto... Me dizendo para ir para o Norte, para migrar... Mas isso não faz sentido! Não é época, e tampouco iria para o norte. Tenho me transformado em lobo mesmo sem querer às vezes, e sei que isso também está acontecendo com outros lobos por aí há mais tempo ainda. Eu... Eu pensei que você talvez tivesse notícias do motivo por aqui, ou ideia de alguém que pudesse saber.


Charlie sabia que toda aquela treta dos animais da floresta, e também sabia que muitas missões estavam sendo dadas para examinar... Animais. Como comandante dos guardas estava a par das missões que eram dadas e agora ouvindo Ragur falando se deu conta do quão estranho isso era.

- Ah... E... Eu descobri mais uma coisa durante a viagem. Foi quando passei em New Hampshire...

Então discorreu sobre como Pallas, outro rei antigo da mitologia e também filho do grande Licáon, estava na cidade... E recrutando lobos. Na verdade, ele fazia parte da matilha de seu irmãos Macednus, mas depois da morte deste assumiu o comando quando Ragur sumiu e agora estava fazendo algo que achou interessante... Estava capturando semideuses e transformando-os, obrigando-os a preencher suas fileiras, acreditando que a mistura da maldição com o sangue dos deuses nos tornaria mais fortes. Era bem verdade que os lobos semideuses eram mais fortes, mas eles nunca chegaram a adotar uma medida dessas com medo de serem superados pela geração mais forte, e também de despertarem a ira dos deuses. Mas Pallas não era muito esperto e agora, estava louco como muitos outros.

- E, aaaaagh! Não sei mais o que fazer. Eu só queria ficar de boa! Correr pelos campos, comer uns veados, fumar umas ervas, conhecer uns lobos e lobas legais... É pedir muito!?

Nesta hora Shouto, o Corvo, entra pela janela de um rasante e pousa em forma humana dentro do quarto. Ragur olha aquilo com esta cara: e permanece em silêncio enquanto o filho de Hades tira de dentro da o colete de giz uma bandeja de metal, uma jarra de suco, um copo, e então ergue as mãos em concha sobre a bandeja e despeja um bife inteiro sobre ela. Então coloca umas torradas e um cigarrinho do lado. Ele coloca a bandeja nos pés da cama de Ragur, presta uma continência desleixada pra Charlie só de zoas e sai novamente pela janela como um corvo.

- - Mas que porra foi essa? - pergunta o cara que virava um lobo gigante.

Shouto que estava saindo pela janela revira os olhos de corvo com a nova ordem de ir atrás dos filhos de Hefesto e se manda batendo as asas.

Ragur fala que em dois ou três dias estaria quase que como novo. Devido à instabilidade mental e ao longo período correndo como lobo ele se sentia fraco e desnutrido, mas se pudesse comer bem durante estes dias iria se recuperar rapidamente das semanas sofridas que se passaram.

- Ah... Eu tinha medo que fossemos ter de ir para lá. Não há por aí nenhum grupo de Caçadoras de bobeira, há? Tive esperanças de dar a sorte de encontrar uma que não fosse me matar antes de eu poder dizer "Filhotinho". Elas são porra louca... A maior parte dos lobisomens só corre quando sabe que elas estão pelas áreas.

Ragur suspira, cansado. Ele expressa que esperava não ter de lutar contra um grande líder de matilha tão cedo novamente. Afinal, queria paz. Viajara por paz, lutara por paz, matara dois dos lobos originais por paz. Mas agora, tudo tinha saído pela culatra.

- Acho que eu deveria ter aceitado seu convite para vir pro acampamento quando pude, afinal - fala ele em tom triste.

A noite seguiu com mais um ou outro papo, e então Enzo brotou expulsando Charlie pois seu paciente precisava descansar. Enquanto o filho de Apolo reclamava algo sobre não ser veterinário, Charlie se despede de Ragur e se manda pra seu chalé.

A manhã seguinte vem e com ela a movimentação matinal do Acampamento. Filhos de Deméter e Dionísio já faziam os morangos crescerem nas plantações. Alguns escalavam o muro de lava e outros praticavam com espadas. Na quadra, normalmente dominada pelos filhos de Apolo, agora uma movimentação incomum se acumulava. Charlie se aproxima e vê Ragur dando um olé atrás do outro nos orgulhosos semideuses do chalé 6, que não parecem nada felizes.

Ele olha pra Charlie como se sentisse sua presença - ou cheiro - , sorri e joga a bola de costas acertando a rede em cheio e correndo em sua direção.

- Au! Digo, Oi! Foi uma ótima noite. Cara, há semanas eu não sabia o que era uma cama.

Eles se juntam para ir até o refeitório comer um café da manhã e bater papo. Algumas pessoas olhavam torto estranhando o semideus novo sentado com Chalie na mesa de Ares. Logo olham mais ainda quando Roran e Shouto chegam e sentam, como se pouco se importassem com o acampamento ou Ares.

- Fala, Charlie. Oi Shouto. E você, deve ser o Mogli - Fala ele dando um sorriso radiante, fitando o Menino Lobo de cima a baixo - Hmmm tamanho cinco. Quarenta e sete centímetros de ombros, quarenta e três de cintura, um e setenta e oito de altura... Sessenta e dois quilos? Não, sessenta e cinco... Tá. Tá. Certo. Tchau!

Ragur olha pra Charlie e Shouto, que dá de ombros e pega uma generosa xícara de café com açúcar. Um corvo pula do bolso de sua jaqueta e começa a enfiar torradas em baixo das asas enquanto desvia de porradas de filhos de Ares insatisfeitos.

- Craa! Já solicitei as armas de prata que pediu. Não há muita à disposição, mas estão derretendo as maiores para forjar mais. Devemos -creck - conseguir armar ao menos um esquadrão. - Anuncia o corvo enquanto rouba as torradas do prato de Charlie - E ainda não conseguimos contato com Musashi. Quando partiremos?

Olhando de perto Charlie percebe que o garoto à sua frente ainda estava muito magro, mas claramente melhor que na noite anterior. Um pouco de cor havia voltado ao seu rosto, e ele agora respirava com dificuldade apenas por ter feito exercício jogando basquete. Ele sabia que quando estivesse bem Ragur não arfaria mesmo depois de cinco partidas inteiras contra profissionais, mas ele ainda estava debilitado apesar de melhor.

Uma filha de Atena da primeira divisão de aproxima deles, pede licença e entrega a Charlie uma folha de papel. Nesta uma lista de semideuses que estavam dispostos a cooperar na missão, e esta não era muito grande. Três filhos de Ares, um filho de Apolo, um filho de Hécate e uma filha de Hermes haviam se candidatado a ir até New Hampshire com eles. Fora isso, Charlie sabia que havia dois Turtur, três Áquila e Legit e Shouto à sua disposição, que eram dois dos três únicos membros da Corvus que continuavam no Acampamento.

Quíron havia avisado que esta ocorrência veio em má hora. Com claro sofrimento o centauro lamentou por sua demora em notar o que estava acontecendo, e fez questão de visitar Ragur durante a noite para dar-lhe as boas vindas de volta e um puxão de orelha por não ter retornado ao Acampamento quando teve oportunidade. Apesar de sua preocupação, Quíron avisou de antemão que não havia muitos semideuses no Acampamento com nível para acompanhar Charlie em tal missão, afinal, mandar semideuses despreparados seria somente adicionar números às forças inimigas. Uma boa parte dos campistas estava fora de férias ou em missões pelo mundo. Apesar disso, ele promete ver o que podia fazer para conseguir ajuda.

- Oitenta e oito? Não, cara, Hades o livre! São cinquenta e um. E não tenho o menor interesse neles - fala abanando a mão - De que adianta passar uma vida matando-os se vão apenas reviver depois que eu já estiver velho e caduco? Seria uma grande perda de tempo. Eu só queria que eles me esquecessem...

Ele mordisca a carne mal passada diante de si. Ele ouve o plano de Charlie e dá de ombros, parecendo cansado só de pensar no trabalho diante deles.

- Bom, acho que será o melhor. Eu... Eu sinto muito por todo este trabalho... Lutar contra uma alcateia daquele tamanho não será fácil. - diz ele, encolhendo ligeiramente os ombros.

A tarde passa e o dia também. Ragur come a cada poucas horas e faz alguns exercícios, intercalando com sonecas na enfermaria. Em um momento ou outro Charlie percebeu-o parado de olhos fechados, com a mão na cabeça como se esta estivesse doendo. Nestes momentos tendia a ficar aéreo e irritadiço, mas depois de um pouco de conversa ou tempo, voltava ao normal. Charlie tinha ficado de reunir os semideuses que iriam com eles até o dia seguinte para instruí-los sobre a missão, e a noite já se aproximava.

Durante a noite o comandante de reúne com os pobres coitados que iriam em sua empreitada e distribui ordens e funções. Todos captam rapidamente seus papéis e logo a reunião termina com cada um indo pra seu chalé. O dia seguinte se passa com agito, de todos que iam na missão se reunindo pra treinar com suas respectivas duplas e buscando melhorar a sincronia entre si. No fim da noite Roran apareceu para entregar uma malha feita de elos de metal para Ragur, que a esta altura já estava dormindo no chalé 12 com os irmãos. O lobisco testa a malha e diante dos olhos abobados do restante do chalé se transforma em um enorme lobo. E em baixo de seu pescoço, escondida em meio aos pelos, quem tivesse a infelicidade de vê-lo por baixo poderia notar... Uma coleira com um ossinho e o endereço do Acampamento do lado de trás, com os dizeres "Se encontrar este cão perdido, leve-o para Acampamento Meio-Sangue, Long Island, NY-NH Longdrive". Quando Ragur voltou à sua forma humana a malha ainda cobria seu corpo, e o resto de suas roupas foram mantidas com ela.

Por fim, no terceiro dia, eles estavam prontos para partir. Legit surgiu logo cedo, com cara de quem tinha ficado a noite acordado e disse que recebeu uma ligação de íris estranha. Tinha conseguido ouvir a voz de Musashi, mas tudo estava borrado, como se alguém estivesse embaralhando as cores que formavam a mensagem. Depois de conversar com filhos de Íris e Hécate, chegou à conclusão de que se tratava de alguma magia de interferência e volta da cidade, e o filho de Hécate que iria com eles já estava a par disso. Tratava-se de PEdro Egam, e Legit deixaria shouto sozinho para formar dupla e prestar suporte ao filho de Hécate durante a missão, pois suspeitavam que houvesse algum feiticeiro poderoso nas linhas inimigas.

Quíron reserva a Van do Acampamento para uso dos semideuses; 12 voluntários, contando com Legit, Shouto e a Turtur Amanda, mais Charlie e Ragur. Alvelin do chalé de Hefesto apareceu trazendo um total de doze espadas de Prata e uma aljava com flechas de Prata para o filho de Apolo que iria com eles. Também trouxe uma caixa cheia de balas de prata, dizendo que Roran as tinha mandado para Charlie, junto a três esferas que Alvelin explocou serem bombas de fumaça com Prata infundida.

Nove horas da manhã. Dia claro e frio. Previsão de chuva com geada para a noite.