Ele era bem poderoso, talvez recuar seja sábio, ou talvez isso apenas aumente a dificuldade, visto que ele só vai me encurralar mais e mais. Eu tinha que achar algum equilíbrio entre a defesa e o ataque.

Ele era mais forte que o Lester, mas com certeza tinha suas falhas, suas aberturas e pontos fracos. Além de tudo, ele tinha uma aparência humana, então provavelmente seus pontos fracos são similares ao de humanos também. Sabendo disso, eu sigo mais na defensiva por alguns segundos, esperando sua abertura. Espero ele realmente avançar com muita velocidade contra mim, tento me esquivar para o lado de fora de seu ataque, mirando a minha espada no seu abdômen para realizar um grande corte.

Eu quero mata-lo o mais rápido o possível, mas mirar na sua cabeça é muito óbvio e ele provavelmente se esquivaria e me atacaria. Suas costelas devem ser mais duras que as costelas humanas, o que já torna difícil de causar um dano significativo, mas o seu abdômen, seu abdômen não é protegido por ossos, a sua velocidade somada com a minha devem ser suficientes para que a espada cause um grande corte e talvez até mesmo afete os seus órgãos internos.

- E qual é o gosto do seu sangue? - Digo após atacar.

Se não dar certo, não me deixo recuar, continuo tentando rebater os seus ataques e talvez acertar o seu pulso. Também me aproveito das suas garras que só crescem e tento fazer ele atingir as arvores e paredes para prender suas garras ou ao menos desacelerar os seus ataques.

Eu sabia que fisicamente a criatura tinha uma certa superioridade sob mim, mas não pensei que fosse tanta a ponto de conseguir atingi-lo e meu ataque não causar nenhum dano. Quando ele me pegou, o desespero já chega a ser visível em meu rosto. Eu ia morrer sem sequer matar esse desgraçado. Ele era para ser apenas um empecilho na minha jornada e acabou sendo que pois um fim precoce a ela

Eu me debato com todas a minhas forças tentando fugir de seus tentáculos ou sei lá, ao menos garantir que ele iria morrer comigo, mas tudo era inútil, ainda mais quando eu comecei a me sentir fraco, a sentir a força e energia saindo de meu corpo e o meu ódio só crescendo. Estava com tanto ódio que continuo tentando, pensando "por que o meu corpo não se mexe?! Por que eu não consigo?!!" e fico tentando até perder todas as minhas forças.

Quando ouço uma voz e caio no chão, vendo a cabeça do demônio cair do meu lado, eu esboço sorriso de canto antes de cair nos braços de Morfeu, ou de Tânatos.

Dessa vez não tenho nenhum sonho.

Pensava que tinha morrido, caído no limbo e pensando na minha fraqueza, mas não, alguém tinha algum plano para mim. Acordo ainda com o gosto amargo do sangue em minha boca e o desconforto em minha garganta, por um momento me pergunto se aquilo foi real, mas ao me levantar com a espada em mãos e andar até a saída, vejo o homem que me salvou fazendo um velório digno para o Steven.

Eu não precisava perguntar que era o homem. Apenas deixo a minha espada encostada na parede, vou até ele e me agacho como um cavalheiro.

- Obrigado por matar o demônio e me vingar, mestre Shigure.

Esboço uma pequena decepção ao saber que aquela pessoa não era de fato quem eu estava procurando, mas me contento com o fato de ser uma pessoa forte e também fico satisfeito por ela ter me salvado.

Pode não ser o Shigure, mas por usar a máscara vermelha, com certeza é algum aprendiz do mestre Shigure, ou é próximo de alguma outra forma.

- Isso não vai me fazer dar meia volta. - Digo olhando para o fundo de seus olhos determinado.

Então mais um dia começou. De certa forma eu poderia dizer que ele começou bem, eu estava vivo, logo capaz de seguir com a minha jornada, e havia encontrado alguém que poderia me levar até o Shigure, digo, não por vontade própria, pelo menos por enquanto.

Eu apenas sigo o garoto, dando o meu máximo para não perde-lo de vista. Se ele começar a correr demais, eu começo a contar os meus motivos para ver se ele se interessava em algum deles.

- Olha, eu sinceramente não estou ligando mais para o que me aguarda nesse caminho. Só preciso me aprimorar um pouco para proteger pessoas que eu não conheço, é a única coisa que eu tenho que fazer no momento.

Continuo seguindo ele se ele não se importar, me sinto muito desconfortável, mas me abro mais ainda.

- O demônio que você matou tinha matado a minha mãe no início da jornada. Eu só queria ir até o mestre Shigure porque um guarda me recomendou e eu pensei que assim eu ia poder protege-la, mas agora nada disso faz sentido.

Eu coloco a mão na minha cabeça tentando pensar no demônio que matou os dois e chego a conclusão de que eram dois demônios.

- Ah... Aquele deu nenhuma risada...- Digo para mim, depois me volto para o garoto - O demônio que matou os dois era um quadrupede, ele dava risadas e fazia eu ter sonhos em que ele me perseguia.

Vejo se isso vai chamar a sua atenção, e se não chamar, continuo andando atrás dele.