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Herois do Olimpo RPG

Fórum de Mitologia Grega baseado em Percy Jackson e os Olimpianos e Os Heróis do Olimpo!


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We Can Be Heroes Empty We Can Be Heroes

por Zeus 11/01/16, 06:56 pm

Zeus

Zeus
Deus Olimpiano
Deus Olimpiano
Guerra é fácil.

Haja luz. E houve guerra. Luz contra escuridão. E então seres rastejantes que competiam contra os que eram parecido consigo somente para tomar um posto mais elevado na cadeia alimentar. E filhotes desses seres, separados por milhões de anos, conseguiam ficar de pé sobre duas patas. Primeiro utilizavam o próprio corpo. Seus punhos, dentes, pernas. E então um osso, uma pedra, um galho. E o seu colega de tribo que o irritara estava morto.

E eles nunca mais pararam.

Adagas. Lanças. Espadas. Canhões. Mosquetes. Bombas. Revólveres. Rifles. Armas Nucleares.

Palavras.

Guerra é fácil. Hannah Arendt defendia que a violência não era natural e só se manifestava quando a autoridade falhava. Mas alguém como Nora sabia que a violência era intrínseca em todo e cada um dos seres humanos. Era por isso que ela, com quinze anos, era uma atiradora de elite. Era por isso que variações da mesma fé lutavam milenarmente por pouca coisa. Ou quase nada.

Radma Al-Rashid era uma mulher respeitada. Talvez não respeitada o suficiente para ser colocada a um posto de comando, mas ela também não gostaria disso. Sabia que pertencia ao campo de batalha. Com a adrenalina correndo em suas veias como gasolina. E uma simples faísca traria o maior incêndio que eles já viram.

Nada disso importava.

Pois o Estado Islâmico batia, como bárbaros aos portões de Roma.

Talvez seja o fim.
Talvez seja o fim de toda Síria.
Talvez seja o fim do oriente médio.

Talvez.

E todos esses talvezes fazia Radma temer pelo seu único tesouro em toda Terra. Sua filha.

Era por isso que Nora foi chamada pelo alto comando da resistência. E ele tinha uma missão especial para ela. "Você deverá ir atrás das linhas inimigas, Nora",  um homem com uma barba longa e pontiaguda instruiu, "E retornar quando tiver informações relevantes".

A jovem Al-Rashid não precisava de muito para saber que aquilo era mentira. Tudo o que ela podia se perguntar era o tipo de coisa que a sua mãe teve que se sujeitar para conseguir isso. Um passaporte e documentos falsos foram dados para ela, juntamente com passagens de avião para Israel.

Foi praticamente enxotada da sala, e, no corredor, pôde enxergar a sua mãe. Seus olhos tinham lágrimas e o nariz estava vermelho, de chorar.

Porque a guerra é fácil.

Mas o amor...

Amor é difícil.



Última edição por Zeus em 11/01/16, 08:23 pm, editado 1 vez(es)

#1

We Can Be Heroes Empty Re: We Can Be Heroes

por Nora Al-Rashid 11/01/16, 07:47 pm

Nora Al-Rashid

Nora Al-Rashid
Filho(a) de Febo
Filho(a) de Febo


Aquele dia era como todos os outros.

Mas era diferente.

Tudo começou como todas as minhas manhãs, ao som de balas e explosões. Levantei-me cedo aquele dia. Enquanto ouvia o som de dezenas de morteiros explodindo acima de minha cabeça, ajoelhava-me em direção ao sul. Mecca, minha casa, casa do profeta, casa de todos nós. Realizei minha oração matinal, agradecendo mais uma vez a vida que meu criador havia me concedido.

Mesmo eu sendo mulher.

A maioria dos  países no oriente médio podiam abominar uma mulher carregando um rifle, mas não ali. Entre a maioria dos meus companheiros rebeldes, eu não era uma mulher, era apenas um soldado. Meus cabelos como sempre estavam presos na minha Hijab, enquanto o restante do meu corpo era coberto pela farda, colete e outros equipamentos militares. Carregava meus fieis companheiros: M21 e binóculos.

Aquele dia era como todos os outros.

Subi na torre de vigia e por ali fiquei durante horas e horas. Ouvia sons de bomba o tempo inteiro, e dali podia ver a guerra acontecer milhas de distancia com meus óculos. Às vezes eu podia atirar, e apenas um tiro era suficiente para estourar a cabeça dos homens de preto. Almoçava e jantava uma ração militar nojenta. Com o tempo você se acostuma.  No fim da tarde parava para rezar mais uma vez, assim como no fim da noite.

Aquele dia ere como todos os outros.

Sabíamos que o Daesh marchava em nossa direção, e por isso o contingente importante da base já tinha se movimentado para longe, deixando apenas o necessário para os residentes combaterem e se defenderem. Nós sabíamos que não tínhamos chance. Mas ainda assim eu ficava ali dia após dia, estourando cabeças e lendo a guerra com meus binóculos da mesma forma que um professor lê um livro.

Aquele era um dia como todos os outros.

Quando o céu se pós-laranja com o crepúsculo no horizonte do deserto, dando lugar ao frio da noite, eu pude descer da minha torre. Desmontei meu rifle peça por peça, colocando novamente em sua caixa e me dirigindo para o quartel aonde eu poderia descansar. Um dos tenentes que comandava o posto me interditou, levando-me ate um dos oficias superiores do exercito livre sírio.

Bati continência e ouvi tudo atentamente mostrando o máximo de respeito por aquele homem. Assim como eu, ele lutava por um ideal e motivava homens que possuíam o coração nobre que os ligava diretamente ao criador. No entanto, ao receber a missão eu soube imediatamente que ia partir. Deixei a sala e logo vi minha mãe no corredor. Meu coração palpitou e eu corri para abraça-la.

Aquele não era um dia como todos os outros.


--COMO ASSIM MÃE? – Disse enfurecida. Com um movimento que descontava toda minha raiva e indignação, soquei a barriga da minha mãe.

--Você me ensinou tudo que eu sei, me ensinou que devemos lutar pelo que acreditamos independente do nosso sexo e jamais abaixar a cabeça. Eu estou aqui lutando pelo que acredito, lutando por uma síria melhor. – Meus olhos se enchiam de lagrima, assim como os da minha mãe. Soquei sua barriga mais duas vezes, antes de desabar como uma criança  e me lançar aos seus braços maternais. Conforto. Era isso que eu sentia agora.

--Por favor...Eu não posso partir. Meu lugar é aqui, eu prefiro morrer defendendo os meus ideias do que fugir e deixar que meus aliados sejam mortos pelo Daesh. - Limpava as lagrimas de meus olhos.

--Me permite ficar. Eu prometo que enviarei cada um daqueles filhos do satanás de volta ao inferno. [/color]

#2

We Can Be Heroes Empty Re: We Can Be Heroes

por Zeus 11/01/16, 08:40 pm

Zeus

Zeus
Deus Olimpiano
Deus Olimpiano
Talvez judeus e muçulmanos nunca fizessem as pazes. Eram ramificações de Ismael e Isaque, mas todos filhos de Abraão.

E como filhos de Abraão concordavam em uma coisa. Algo bom. Agradável. Talvez até perfeito:

-
Se alguém matar uma pessoa seria como se ele matasse toda a humanidade, e se alguém salvar uma vida, seria como se ele salvasse a vida de toda a humanidade. - Recitou a mãe de Nora, em inglês, com a voz trêmula e os olhos afogados.

Não precisava dizer mais nada. Radma havia matado mais pessoas do que poderia contar. E só conseguia dormir a noite por duas coisas: tentando convencer-se que matou todos eles por um bem melhor, e a imagem de sua filha. Matar era fácil. Matar era guerra. Mas salvar era difícil. Salvar era amor. E aquela era a sua tentativa de salvar toda a humanidade.

Todo o mundo.

Pelo menos, o seu mundo.

Abraçou a sua filha, e repousou o rosto sobre os seus cabelos. Sentiu o cheiro de vida emanando da cabeça de Nora e chorou mais. A menina podia sentir o calor das lágrimas da mãe. Os soluços que tentava disfarçar eram as únicas palavras.

Parecia ser o suficiente.

#3

We Can Be Heroes Empty Re: We Can Be Heroes

por Nora Al-Rashid 11/01/16, 10:21 pm

Nora Al-Rashid

Nora Al-Rashid
Filho(a) de Febo
Filho(a) de Febo

Eu não queria partir.

Minhas mãos estavam tão acostumadas a disparar com o rifle, eu certamente levaria dias a me desacostumar em não deixar as mãos em posição de disparo. Eu levaria meses para desacostumar a olhar o horizonte em espera de inimigos. Eu levaria anos pra esquecer minha rotina. Mas eu nunca esqueceria as mortes que eu causei, da felicidade que se formava na minha face ao derrubar um membro do Daesh.

Abracei minha mãe mais uma vez, beijando suas bochechas suadas seguindo a um beijo nas costas de suas mãos tão usadas. Meu desejo era ficar ali e lutar ate a morte. Saberia pelo menos, que estava fazendo isso por um bom motivo. No entanto, não poderia apenas rejeitar o desejo de minha progenitora e ignorar todo o esforço que ela fez por mim. Não, eu deveria ignorar meus desejos suicidas e atender aos pedidos de minha mãe. Só existia uma pessoa que eu respeitava e amava tanto quanto Allah. Minha mãe.

Após a despedida envolta em lagrimas e silencio, afastei-me de minha mãe. Rezava a Allah para que eu pudesse encontra-la novamente, tudo que eu mais queria agora era que ela continuasse viva. Peguei minha bolsa com meus equipamentos e me dirigi ao arsenal.

Estava na hora de mais uma despedida.

Tirei meu fiel companheiro da bolsa militar, meu rifle. O M21 já estava gasto, mas continuava poderoso e capaz de destruir inimigos. Desmontei-o lentamente pela ultima vez, deixando cair lagrima em cima daquele que foi meu melhor amigo por muito tempo. Guardei também meus binóculos, seguindo de minha face de combate. Pensei em levar ela comigo, mas percebi que a segurança de Israel não permitiria de forma alguma entrar em seu país com qualquer tipo de armamento. Eu precisava me livrar de tudo.
Devolvi ao arsenal também minhas duas pistolas, meu cantil, minhas munições e meu kit de primeiros socorros. Agora só faltava uma coisa: A farda.

Essa era a pior parte.

Tirei os coturnos militares, prosseguindo com as calças, colete e então com a parte de cima do uniforme rebelde. Fazia muito tempo que eu não via meu corpo, ele era sem duvidas belo. Em qualquer outro lugar do oriente médio eu seria apenas uma garotinha esperando por um marido. No entanto, ali eu era uma guerreira. Não acredito que estou abandonando isso.
Troquei minha farda por um vestido azul, e minha Hijab negra por uma também azul. Coloquei minha mochila com o necessário para a viagem e segurei o meu alcorão nas mãos. Estava pronta.

Saio dali e vou em busca de minha carona que me levaria ao aeroporto de Damasco.

#4

We Can Be Heroes Empty Re: We Can Be Heroes

por Zeus 12/01/16, 03:08 pm

Zeus

Zeus
Deus Olimpiano
Deus Olimpiano
Depois de tanto tempo, sua farda e arma eram quase como parte do seu corpo.

Eram parte de sua alma que agora, deixou para trás. Assim como havia deixado a sua mãe, momentos atrás. Quando para de carregar coisas, os movimentos se tornam mais leves, não? Por que, por todos os deuses e Alá, ela se sentia tão pesada, então?

Deixou a sua pele de verdade lá. Quase toda a sua noção de identidade.

E teve de vestir outra, para embarcar num avião rumo à Israel.

O aeroporto estava um caos, pessoas implorando para saírem do país e uma inspeção rigorosa a cada um que estivesse dentro dos conformes. Um guarda engraçadinho tentou tocar Nora quando foi revistá-la. Apesar dos dissabores, a menina conseguiu entrar no avião.

Seu assento dava para a janela, e ela podia ver a gigante lata de metal escapando do solo e o seu país ficando para trás. A Síria, a sua ideologia, sua mãe e todos que conheciam ficava cada vez mais pequenos em seus olhos. Mas maiores em seu coração.

Desembarcou em Jerusalém, após horas de viagem.

Era uma garota de quinze anos, muçulmana, sozinha e sem dinheiro, num país judeu desconhecido.

Spoiler:

#5

We Can Be Heroes Empty Re: We Can Be Heroes

por Nora Al-Rashid 13/01/16, 01:38 pm

Nora Al-Rashid

Nora Al-Rashid
Filho(a) de Febo
Filho(a) de Febo

Eu juro que se ainda tivesse minha faca aquele homem não teria mais a cabeça.

Cheguei a mover a mão para o local aonde costumava ficar minha bainha, apenas para me lembrar de que ele não estava ali. Fiz uma cara feia e acertei uma cotovelada no peito do guarda, visando afasta-lo de mim. Havia lido nas escrituras que eu deveria me manter virgem ate o casamento. Não tinha nenhuma pretensão de casar, mas se essa fosse a vontade de Allah, essa seria minha vontade.

Dentro do avião me bate a forte sensação de arrependimento. Não havia mais volta, e agora eu comtemplava a minha escolha de deixar meu povo para trás. Em um ataque de pânico, me levanto com a respiração ofegante da poltrona procurando uma saída. Que idiota, eu era uma árabe desesperada dentro de um avião. Só lembro-me de ter sido contida por algum tipo de disparo e então acordar presa na minha cadeira.

Finalmente estava em Jerusalém.

Tive nojo ao ver a bandeira de Israel hasteada no aeroporto da cidade. Aquela terra era dos palestinos. Ver os judeus se apropriando de terra alheia me dava uma sensação de ódio e descontentamento. Não importa para onde eu voasse, eu sempre encontraria algo pelo que lutar essa era a única maneira que eu conhecia de me sentir viva. E Ali, eu tinha um motivo bem claro para lutar.

Mas antes eu tinha que consultar aquele que sabe tudo.

Dirigi-me ao bairro mulçumano, aonde me sinto mais em casa com todas as mulheres vestida com as roupas típicas. Os mercadinhos, o povo, as famílias. Tudo aquilo me remetia meu lar antes da guerra.

Entrei na mesquita do domo da rocha, nunca havia estado ali. Naquele local Maomé havia subido aos céus e finalmente conseguido seu lugar ao lado do criador. Por isso, aquele era um dos lugares mais importantes para nossa religião. Coloco meu alcorão no chão e me ajoelho totalmente, tocando a testa no solo da mesquita.


--Em Nome de Deus, O Clemente, O Misericordioso Louvado seja Deus, Senhor do Universo O Clemente, O Misericordioso Senhor do Dia do Juízo Só a Ti adoramos, e só de Ti imploramos ajuda Guia-nos à senda reta, À senda dos que agraciastes, Não à dos abominados, e nem à dos extraviados. –Recitava a Suruta de abertura. Como sempre, ela devia ser dita antes de qualquer oração.

--Alá, por favor, me guie nessa nova jornada. Peço com todas as minhas forças que o senhor de todo o universo me auxilie em minha nova fase de vida. Ainda lutarei pela causa do islã, ainda lutarei pela religião, ainda lutarei pelos minhas ideias. Peço que o criador me ilumine. – Como sempre, silencio. Não importa. O Silencio era a certeza de que Allah ouvia minhas preces.

Tudo que decidi fazer foi seguir meu coração. Olhei para cima, em direção ao teto dourado da mesquita. Tudo que nós construíamos era tão lindo. Imaginei então um mundo constituído apenas por islâmicos, quão bom isso seria? Espanto meus devaneios e feliz por ter visitado um dos templos mais importantes da fé. Me afasto da mesquita.

Estava na hora de lutar.

Eu não tinha muitas opções naquele lugar, mas a sociedade palestina em Israel era menos conservadora do que na maioria dos outros países árabes. Isso me permitia garotas de quinze anos se moverem pela cidade sem acompanhante e não serem incomodadas. Meu foco é: Procurar o movimento de liberação da Palestina. Sabia que existiam movimentos jovens que lutavam a favor da Palestina livre, era eles que eu iria procurar.

Adentro nos bairros mulçumanos de Jerusalém e me apresentando com meu nome falso, tento conseguir informações que me levem ao meu objetivo. Enquanto não consigo contato com o movimento jovem de liberação, tento sobreviver como Da. Ofereço-me para trabalhar em lojas, limpar casas, cuidar de crianças. Pedindo muitas das vezes para ser paga em alimento e teto para dormir. Aquela era uma vida miserável e com pouca dignidade. Pelo menos, a comida era melhor do que aquela merda de ração militar.

Quando finalmente entro em contato com a “resistência” Palestina, tento parecer o mais apresentável possível, algo difícil para uma garota que estava a dias migrando de trabalho em trabalho em Jerusalém. No entanto, eu ainda podia ser um soldado em qualquer lugar que fosse.

Apresento-me com o novo nome, dizendo que era uma jovem que havia perdido os pais no conflito da faixa de Gaza. Após isso, os israelenses teriam me levado feriada para um dos hospitais da cidade, do qual eu consegui fugir após ficar boa. Disse também que não queria depender daqueles malditos judeus, por isso decidi me virar sozinha. Digo que por ter vivido na faixa de gaza, eu saberia me virar muito bem em vários assuntos, deixando assim subtendido que eu era boa de briga.

Caso eles aceitem me integrar no movimento, peço por um local para dormir e por um chuveiro. Era só isso que eu precisava agora.

#6

We Can Be Heroes Empty Re: We Can Be Heroes

por Zeus 13/01/16, 07:43 pm

Zeus

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Deus Olimpiano
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Israel parecia ser um universo inteiramente diferente.

A começar que quase todos usavam preto. Haviam muitos judeus ortodoxos que, de fato, pareciam muitíssimo com o esteriótipo pintado pela maioria. Nariz grande, barba e costeletas longas, roupas negras e o quipá. Aos olhos de uma muçulmana rebelde de quinze anos, eles pareciam nojentos. Os judeus já foram comparados à baratas, ratos e coisas piores.

A maioria dos judeus diria que Israel era sua por direito. Que os muçulmanos não podiam tomar de volta uma terra que nunca foi deles. Que eles morreriam como homens velhos, em barracas num campo de batalha, esperando pela Palestina.

Os islâmicos, entretanto, responderiam que teriam filhos. E os seus filhos teriam filhos. E que esperariam para todo o sempre, se necessário. E se fosse preciso, tornariam o mundo inteiro perigoso para os judeus.

Aquela era uma batalha que parecia nunca acabar. E, se voltassem ao início, veriam que era irmão matando irmão.

Como Caim e Abel.

Apenas que não havia um bom e o outro mau. Não havia um certo e outro errado. Um inocente e outro carrasco. A dicotomia era uma farsa.

Seja como fosse, não havia um ponto de retorno dali. Só uma opção: seguir em frente.

Mergulhou no mundo judeu e se sentiu afogada. Os bairros periféricos muçulmanos eram como oásis quebrados em meio de um deserto sem fim. Trabalhando e conhecendo as pessoas ali, não reconheceu muitos com o sentimento de revanchismo tão intenso quanto o seu.

A maioria estava presa ao conformismo.

Na primeira semana, entretanto, alguém a introduziu ao movimento jovem pró-Palestina. Contudo, não era nem um pouco o que esperava. Na Síria, os rebeldes lutavam a cada dia para sobreviver. Comiam o que podiam, dormiam mal e no chão, cheio de poeira. Uma garota de quinze anos, como ela, era treinada para matar inimigos. Ali eram jovens bem criados, a maioria em idade universitária. Intelectuais com muita teoria e nenhum prática.

Discutiam por horas a fio. Mas nada faziam.

Talvez sua vontade fosse desistir e sair daquele lugar. Abandonar aqueles que falavam tanto e não faziam nada. Mas se fosse rejeitada pelos muçulmanos num país judeu, por quem seria acolhida?

E então os dias passaram. Tornaram-se semanas. E semanas formaram um mês inteiro.

Trinta dias sem ver a sua mãe. Sem o peso da arma. Sem o fardo de seu uniforme.

No trigésimo terceiro dia, entretanto, algo aconteceu.

Estava servindo de babá para uma família e brincava com a criança na rua. A inocência imaculada infantil quase a fazia ter um gosto de normalidade. Quase. A energia jovial da criança, e as suas atitudes de como se o mundo não fosse um lugar ruim. Como se os conflitos não pudessem alcançá-la.

Era bom.

Bom como viver numa bolha.

Parecia ser um dia agradável. Até que uma senhora idosa apareceu. Estava a pé e usava preto. Sua pele era branca e escondia os olhos por baixo de óculos de sol. Aparentava ter um tanto mais de cinquenta anos. Nora não precisava de muito para saber. Era uma judia.

A mulher se aproximou da menina síria e perguntou, simplesmente:

-
Você viu o meu filho?



Última edição por Zeus em 13/01/16, 11:51 pm, editado 1 vez(es)

#7

We Can Be Heroes Empty Re: We Can Be Heroes

por Nora Al-Rashid 13/01/16, 11:36 pm

Nora Al-Rashid

Nora Al-Rashid
Filho(a) de Febo
Filho(a) de Febo

Eu já estava de saco cheio daquilo.

Para que tantas reuniões para discutir aquilo? Tantas reuniões falando de algo que era simples de se resolver.  Sempre entravamos em um tema, e debatíamos por hora algo irrelevante que não levava a lugar nenhum, ou então simplesmente não entravamos em um consenso jamais. Não demorei muito para perceber que nada de útil sairia daqueles jovens. Pobre Palestina.

No entanto, eu não tinha mais para onde ir. Algumas vezes, eu concordava com a cabeça com coisas que eu discordava, apenas para que as pessoas por ali me achassem mais simpática e me permitissem fica. Aquilo doía em mim, era como se eu estivesse traindo minhas ideias, e principalmente traindo o esforço da minha mãe.

Na minha vida toda eu lutei por liberdade, e agora eu estava mais acorrentada do que nunca.

Felizmente aquelas reuniões regadas por ideologia fracas e ervas não era o tempo inteiro, eu tinha tempo de sentir o ar puro sem o odor de pólvora. Era algo entusiasmante, não importa o numero de vezes que eu o fizesse. Tinha uma pequena afinidade por aquela criança. Gostaria que ela crescesse em um mundo diferente do meu, um mundo em que seu povo fosse livre e idealista de verdade.

Aquele pequeno ser humano arrancara os  únicos sorrisos que eu havia dado em toda minha estadia em Jerusalém.
Ao perceber a aproximação da velha Judia, me levantei ficando entre ela e o bebé. Não permitiria de forma alguma que uma ladra de terras se aproximasse do meu protegido. Que porra essa? Além de roubar as terras agora eles começariam a roubar as crianças?


--Não vi seu filho Senhora. – Respondi simplesmente.

#8

We Can Be Heroes Empty Re: We Can Be Heroes

por Zeus 14/01/16, 12:07 am

Zeus

Zeus
Deus Olimpiano
Deus Olimpiano
A mulher percebeu a reação da garota. Sua expressão transformou-se num misto de tristeza e desprezo. Sua boca se abre uma ou duas vezes e nenhum som é emitido. Como se ela repensasse em suas falas.

-
Por favor, se você o ver, diga-o para voltar para casa.

A mulher vai embora, talvez importunar mais pessoas e Nora perde-a de vista.

O menino que ela estava de babá brincou mais um pouco na rua e então pediu por comida. Era sua obrigação alimentá-lo, e, por isso, foi até a cozinha da casa simples que os pais dele tinham. Nos últimos três dias, aquela construção serviu de abrigo à ela também. O pai da família tentou alguns avanços e estava louco para ver o que Nora guardava por baixo do véu.

Perdendo-se nestes pensamentos, e no seu descontentamento em estar naquele lugar, Nora só voltou à realidade quando ouviu um barulho alto. Algo caindo, no quinta da casa, aos fundos.

#9

We Can Be Heroes Empty Re: We Can Be Heroes

por Nora Al-Rashid 14/01/16, 12:22 am

Nora Al-Rashid

Nora Al-Rashid
Filho(a) de Febo
Filho(a) de Febo
Quando a velha esta se afastando, levanto a mão rapidamente como se pedisse para ela parar. Em minha garganta nasce alguma frase, mas ela morre antes mesmo de sair de minha boca. Alguma parte de mim pediu para ajudar, mas essa parte teve sua cabeça estourada pela parte que carrega um rifle de precisão.

Porem, em todos os lugares, fés e culturas a dor era uma só não? Aquela mulher agora deveria estar sentindo o mesmo que minha mãe sentirá a me ver partindo. Senti uma pontada em meu coração. Estranho, nunca havia sentido isso ao atirar na cabeça de um inimigo.

Tento afastar esses pensamentos da cabeça.

Assim que ouço a criança, pego em sua mão e retorno com ela para dentro de casa. Ligo a televisão e a coloco no sofá, dizendo que logo traria o alimento. Na cozinha me entretenho por alguns segundos com o facão, relembrando os movimentos que eu realizava com minha faca de combate, imaginando o pai da criança como alvo. Eu sabia como lidar com homens tentando arrancar o que me tornava pura. Aquele nojento não seria um problema.

Ouço um som forte nos fundos da casa. Com a reação de um soldado que passou anos ouvindo sons de bombas, olhei imediatamente na direção do local erguendo minha faca. Escondo o facão de cozinha em baixo do vestido, me esgueirando em direção ao quintal para averiguar a origem do som.

#10

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#11

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