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We Can Be Heroes - Página 4 Empty Re: We Can Be Heroes

por Zeus 16/01/16, 06:21 pm

Zeus

Zeus
Deus Olimpiano
Deus Olimpiano
O homem sorriu, à luz do Sol.

E os raios solares pareciam não existir se não para os seus dentes. E brilhavam. Como farol para naufragados.

- Sou o que sou. - Repetiu, e ponderou nas palavras. - Isso não resolve o conflito filosófico milenar de Heráclito e Parmênides? Ele é. Nós estamos.

A forma em que as palavras se formavam em sua língua e eram sopradas pela sua boca era tão tranquila que traria paz ao olho de um furacão. Nora sabia disso. Pois estava vivendo exatamente ali. E seu coração se sentia tranquilo ao estar próximo daquele homem simples, que estava sentado ao meio fio, e falando de coisas como se a conhecesse há tanto tempo.

- Seu pai, ele mora no céu.

#31

We Can Be Heroes - Página 4 Empty Re: We Can Be Heroes

por Nora Al-Rashid 17/01/16, 01:22 am

Nora Al-Rashid

Nora Al-Rashid
Filho(a) de Febo
Filho(a) de Febo
--Meu pai. – Ponderei.

Coloquei a cabeça para baixo, analisando aquelas palavras que foram ditas. Coloquei a mão em minha barriga, sentindo um vazio que existia desde meu nascimento e nunca fora preenchido, a falta de um pai. Minha mãe havia feito um excelente trabalho de criação, me dando uma excelente criação e me ensinando a ser tudo que eu era hoje. No entanto, eu nunca havia tido uma figura paterna a não ser o próprio Allah.

Por isso respondo:

---Meu pai vive no céu, mas ele também é seu pai. Meu me criou, e também criou todos. – Olho pro céu. Meus olhos se fecharam, como se a benção do criador caísse em minha face.

–- Meu pai, é o único pai.

#32

We Can Be Heroes - Página 4 Empty Re: We Can Be Heroes

por Zeus 17/01/16, 02:06 pm

Zeus

Zeus
Deus Olimpiano
Deus Olimpiano
Desta vez ele olhou para o próprio Sol.

E o Sol já não brilhava mais pra ele. Brilhava para Nora também. Não do mesmo jeito que nasceu todos os dias, para todas as pessoas da Terra. Os raios dourados traziam conforto em meio àquela situação ruim. Era quase como se ganhassem corpo, e a abraçassem.

- Vê? Ele está tentando falar. - Mas o que a refugiada escutava era só o silêncio.

E o silêncio ela já conhecia bem o suficiente.

- O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. - Terminou de recita a tríplice de livros sagrados para as três religiões abraâmicas. - Talvez Ele seja o seu pai, de espírito. Mas você ainda é carne. E o seu pai que lhe fez em carne zela por você. Do alto. Sabe, esse solo em que pisamos é o lugar da Terra mais próximo do que é eterno.

#33

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por Nora Al-Rashid 17/01/16, 11:57 pm

Nora Al-Rashid

Nora Al-Rashid
Filho(a) de Febo
Filho(a) de Febo


--Estamos no local em que o profeta subiu aos céus. – Respondi.

Pensei na morte, em como minha mãe deveria estar e no meu passado. Ela havia me dito que havia conhecido meu pai durante a guerra do golfo. Não é hilário? Os países árabes haviam se juntado com o oriente para lutar contra outro país árabe. No fim, aquilo tudo só levou a formação do grupo que tirou minha mãe de mim, tirou minha família de mim.

Tudo sempre levava a um destino ruim.

Tudo levava a planos solitários.

“Ele trabalha de forma misteriosa”, se repete por varias religiões, mas quais eram os verdadeiros planos do Criador? Não saberia jamais responder. Eu sabia que alguns tinham sido feitos para reinar, e outros para servir. Minha função no mundo era servi-lo.

Mas eu não sabia nem mesmo como o fazer.

--Meu pai era um soldado – Permaneço incrédula.

Lembro então da carta que minha mãe havia ordenado mandar, a carta sem resposta. Aquilo havia sido apenas uma perda de tempo, já que agora eu estava aqui. No entanto, eu ainda buscava por respostas que nunca haviam chego.

Aquele homem trouxe consigo a minha maior pista.

Por isso olho o céu, em direção ao sol. Não fechos os olhos, apenas permito que a luz do grande astro me irritem as retinas, banhando meu corpo com seu calor.

--Me dê um sinal – Digo.

Não sabia para quem estava dizendo isso, apenas disse.

#34

We Can Be Heroes - Página 4 Empty Re: We Can Be Heroes

por Zeus 18/01/16, 12:16 am

Zeus

Zeus
Deus Olimpiano
Deus Olimpiano
As mãos de Nora eram ásperas e duras.

Talvez fosse o calor e as areias do tempo, talvez o seu trabalho manual. O dedo que puxava o gatilho parecia ter criado uma segunda ou terceira pele. Era tão grossa que parecia ser impossível de se penetrar. O homem sentado ao seu lado, também tinha mãos calejadas. E assim eram todos os que haviam conhecido.

De onde estava, a menina podia imaginar que o próprio Criador tinha mãos calejadas.

Já que toda vez que parecia acariciada, era como se se ralasse. Como se o carinho também fosse uma espécie de lembrança de que a sua vida era dura. Não era como a vida dos universitários burgueses pró-Palestina de Jerusalém. Não era como a vida dos ocidentais que exploravam países mais pobres para viver confortavelmente.

Sua vida era dura.

Mas quando olhou para o Sol, seus olhos não arderam. Não sentiu a dureza da vida. Sentiu dedos gentis tocando o seu rosto.

Antes, o seu coração parecia envolto de uma lixa. Cada vez que batia, arranhava o peito e, devagar, cortava até tornar o seu interior calejado.

Agora o coração era como o de todo mundo.

Batia, e trazia vida. E não dor.

- Há tanto tempo que te amo. - Confessou, uma voz que soava como o calor necessário para aquecer o mundo inteiro.

#35

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por Nora Al-Rashid 18/01/16, 01:11 am

Nora Al-Rashid

Nora Al-Rashid
Filho(a) de Febo
Filho(a) de Febo
Por um momento, eu neguei aquilo.

Não podia acreditar, que após tanto tempo na solidão toda a dor ia embora com o surgimento do calor. O calor, eu conhecia bem. No entanto, aquele calor era diferente de tudo que eu havia sentido em minha vida. Feroz, destruidor, esse era o calor do deserto. Aconchegante, familiar, assim era esse calor.

Lembrei-me de todas as vezes que o sol refletia em meus inimigos, me dando sua exata localização, seguido do som de cabeças estourando. Eu e o calor, eu e o sol, sempre fomos tão íntimos.

Na ausência de uma figura paterna, o criador sempre havia sido meu pai.
Mas o sol era meu companheiro, meu protetor.

Tentei esticar as mãos para abraçar a origem daquela voz, mas mesmo quando o amor era oferecido a mim, eu não conseguia retribuir. Sentia-me pequena, me sentia incapaz de chegar aos braços do grande astro que me trazia tanto aconchego.

--Por favor, eu só quero que isso tudo acabe. – Implorei.

Nora Al-Rashid, a durona e poderosa atiradora de elite do exercito livre sírio.
Nora Al-Rashid, a solitária garotinha sem pai que chorava por desconhecer amor.

#36

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por Zeus 18/01/16, 01:27 am

Zeus

Zeus
Deus Olimpiano
Deus Olimpiano
A pele castigada pelo Sol de Nora não era coincidência.

Era o seu pai, de lá de cima, tentando tocá-la. Os deuses greco-romanos estavam presos ao centro do mundo ocidental. Nora fora concebida numa remota viagem de sua mãe aos Estados Unidos. E a sua mãe sequer saberia dizer como foi concebida.

O que importava era que ele não tinha poder na Síria.

Mas ainda era o deus do Sol. E tocava o rosto de sua filha, toda vez que era possível. Beijava-a com seus lábios quentes e iluminava o seu caminho, na medida do possível. Entretanto, agora podia falar. E falou. E suas palavras foram escolhidas haviam muito tempo. Moldadas um milhão de vezes. Repetidas em frente ao reflexo.

E Apolo parecia estar feliz com o resultado, pois o Sol brilhava confortavelmente em toda a Israel. E além.

Nora havia chorado poucas vezes na vida. Mas aquele estranho ao seu lado já testemunhara a segunda vez que ela o fazia. Ela sentiu um novo tipo de calor, quando ele repouso suavemente o mão sobre o seu braço.

- Ele sentiu. Tudo. O seu desespero e a sua solidão. Sentiu o seu amor, também. Esse amor escondido em seu coração, que você tem tanto medo. Liberte-o. Deixe esse sentimento te abraçar e envolver o mundo inteiro. Você estará perto do seu pai. E também do Pai.

#37

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por Nora Al-Rashid 18/01/16, 01:48 am

Nora Al-Rashid

Nora Al-Rashid
Filho(a) de Febo
Filho(a) de Febo

As magoas foram embora.
A tristeza foi embora.

Tudo que restava era o amor, o amor que tanto tempo eu busquei.

Abracei o vento, como se abraçasse o sol. Sentia seus raios solares em volta de mim, como se ele mesmo me abraçasse. Sorri e me vi como uma criança, um pequeno ser que abraçava seu tão majestoso pai.

Era uma sensação nova e inacreditável.

No entanto, não entendia ainda o que era aquilo. Meu pai era o sol, mas o que meu pai era? Ele não podia ser um deus, só havia um deus.

Existiam tantas perguntas, e possivelmente nem tantas respostas.
--O que devo fazer agora? – Perguntei aquele homem.

#38

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por Zeus 18/01/16, 02:03 am

Zeus

Zeus
Deus Olimpiano
Deus Olimpiano

O Sol tomou-a como sua.

E Nora nunca mais estaria sozinha. Mesmo se o céu se escurecer e as estrelas brilharem, ela saberia que o seu pai estaria do outro lado da Terra, esperando para vê-la novamente. E ele viria. E viria. E viria outra vez.

O homem ao seu lado sorriu, e havia algo na forma em que mostrou os dentes.

Uma mistura estranha de satisfação e melancolia. Era estranho, agora que ela parou para perceber. Estava tão cheia de sua própria dor e ocupada com suas descobertas que não teve tempo para notar a profunda tristeza que aquele homem sentado ao meio fio carregava.

Era como se carregasse um peso maior do que poderia.

- Siga o caminho. O Criador tem muitos nomes, mas é apenas um. - E então levantou-se.

Deu as costas para a recém reclamada filha de Apolo e caminhou com passos apressados, ganhando distância.

Estava exatamente no meio da rua, quando se virou para ela. Sorriu.

Sua mão desceu até a própria cintura e retirou uma arma de fogo. Apontou para a cabeça, e disparou.

O baque surdo.

Nora havia vivido e matado o suficiente para saber que mortes dramáticas são raras, ou não existem. Apenas o corpo caindo ao chão, e o sangue a escorrer. E o mesmo Criador que deu a vida, toma.

E Ele toma, e Ele toma, e Ele toma.

#39

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por Nora Al-Rashid 18/01/16, 11:36 pm

Nora Al-Rashid

Nora Al-Rashid
Filho(a) de Febo
Filho(a) de Febo


A luz do sou envolveu-me da mesma forma que um pai abraça uma filha que a muito não vê. Senti então, o calor tomando conta do meu corpo e levando consigo a tristeza, a solidão e a magoa. Tudo que um dia me tornara triste, deixava meu corpo de forma esplendorosa.

Eu me sentia única.

Eu me sentia viva.

Sorri para o homem, agradecendo por sua ajuda. Enquanto olhava o sol, eu tive a noção de família completa de verdade, pai, mãe e filha.

Era difícil não ter uma família dentro de uma sociedade machista.

Mas naquele momento, eu soube aonde eu deveria ir, soube onde era meu verdadeiro lar. E por mais irônico que parecesse, eu deveria ir em direção ao ocidente, ao mesmo local que eu enviei a tal carta.

Todos os meus pensamentos de contentamento foram interrompidos pela som da arma.

Corri e me lancei ao corpo morto de meu mais novo amigo, tentando inutilmente traze-lo de volta a vida. Seu destino fora selado, Alah havia levado sua vida da mesma forma que havia dado.

Pois esse era o plano do senhor.

Pego sua arma e munição, escondendo dentro da mochila. Pego mais algo que seja útil, enquanto realizo as ultimas preces do homem encaminhando sua alma de volta pro criador.

Após isso, volto a seguir meu caminho.

Eu deveria ir para o ocidente, mas não tinha a mínima ideia de como.

#40

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