Henry escreveu:Bom, eu quero saber o que você fez e como fez com os monstros e com o aquele garoto para que eles ficassem sob seu controle, o que há nesses malditos cristais, mas acima de tudo, o seu objetivo. Se Gabe era já um experimento, o que você quer que seja o produto final?

-Eu... eu sou... eu sou uma alquimista. Os cristais não são meus, eles são resultado da pesquisa de outros... eles são apenas catalizadores. Eu os uso para gravar o medo no cerne de uma criatura viva, mantendo um elo físico com um par que guardo em meu laboratório para rastrear meus brin- meus experimentos. Gabe nunca foi um experimento, ele sempre foi uma mera ferramena incom- - as sombras a apertam censurando sua voz por um instante - O produto final Hehe... o produto final é a queda do Olimpo, aqueles deuses irão cair... nosso mestre e irmão trará a ruína àqueles desgraçados... em nome dos Althamyr, minha morte não mudará nada. Viva sua vidinha pacata enquanto pode pobre crian- outro aperto das sombras censurando as palavras da garota que ri maniacamente.

Henry segue para a cabana, com os gritos impiedosos da filha de Phobos compondo uma uma melodia grotesca que ecoava pelas Bahamas.

Ninguém pode nem fumar a porra de um cigarro em paz., reclamo com ninguém específico em minha mente dormente. O corpo queimava de uma forma indescritível, como se algo tentasse mover meus músculos por mim, usar meus nervos em meu lugar. Uma energia sombria vibrava de meus ossos e, no fundo de meu próprio corpo, podia sentir a presença de Hades... E o odiei por isso.

Dormente definia bem meu estado. É isso que acontecia quando se forçava demais um músculo... O cansaço, a dormência causada pelo ácido lático liberado pelos músculos em atividade. Eu sentia que minha mente estava passando por algo semelhante, embora eu lutasse contra esta sensação com toda a força. Mas... A impressão que eu tinha era que havia gente demais falando em minha cabeça, me eimpedindo de ouvir a mim mesmo.

Calem a boca, peço com raiva e com dor. Se fosse tentar explicar, seria como se Hades me furasse com barras de ferro congelado feitos de puro ódio. Verônica me sufocava em uma piscina de medo e hesitação. Henry me amarrava em correntes fumegantes e me esticava para onde bem entendesse. Eu estava cansado daquilo... Estava cansado de todos eles. Calem a desgraça da boca, falo com mais força em minha mente, a irritação já passando do ponto. Começo a forçar todos aqueles elos. Forçar o mar de medo, forçar as barras de ódio, as correntes de controle. Percebo que eu também me feria com agulhas de ódio. Percebo que também estava cansado de mim.

Olho para Verônica. Era tudo culpa daquela puta. Puta. Puta puta puta puta. Sinto o rosto tremer de raiva enquanto torço as sombras em volta de suas mão e de seus pés como serpentes, esmagando seus dedos, seus tornozelos, lentamente enroscando-os como se faz com um prego duro; calma e constantemente. Àquela altura, eu já nem ligava do motivo para estar ali. Eu só queria acabar com aquilo e me livrar de todas aquelas vozes de vez. Eu já estava farto de gente em minha cabeça. Até mesmo aquela força violenta dada por Hades estava me cansando. O êxtase do poder transbordando já havia passado, deixando uma ressaca terrível do esforço de manter aquela força, de manter minha mente no lugar.

Eu já posso, não é, Gabe?, imploro para o corvo ao meu lado, onde podia sentir a alma de Gabe de alguma forma vinculada. Eu não sabia o que ele tinha feito e não ligava. Eu só queria que ele dissesse Sim.

E assim que ele disser, eu sorrio aliviado. Deixo os ombros caírem enquanto vazo os sentimentos para as sombras e para as almas. Controlo ambos, reunindo-os em volta de Verônica. Olho-a nos olhos enquanto cubro seu corpo com escuridão, e decido dar-lhe uma prova do próprio veneno.

- Adeus, Verônica. Eu a visitarei, um dia. Não perca sua mente até lá.

Então acendo meus olhos em vermelho e Amedronto-a com todo o meu ódio, com toda a força dada por Hades, com toda a malícia que vazavam daquelas almas à nossa volta. Veríamos quanto medo uma filha de Phobos pode suportar em seu leito de morte. Cubro-a com sombras e torço seu corpo, destruindo-o e engolindo-o com a escuridão, torcendo-a como um novelo de lã, e sugando os restos como merda para o vazio. Quando sua alma se desprender da poça de gordura sangrenta, eu olho para cima, fitando a verdadeira procissão de fantasmas à nossa volta.

- Está feito. É com vocês.

E então, apenas assisto até que a arrastem para o inferno pelo mesmo buraco de onde tinham saído, como uma serpente arrastando sua presa para sua toca. Rio comigo mesmo, sem acreditar que estava feito, que estava livre. Ou quase. Olho para Henry, que se afastava ao longe. Forço minha mente, sentindo nosso elo, e cubro-o com sombras. Eu estava cansado dele, também, e do poder que tinha sobre mim. E agora, cheio do poder do Hades, era a hora perfeita para me livrar disso. Então forço nosso elo com a mente, usando a força temporária emprestada a mim para romper com aquele elo e todos os outros, inclusive com o próprio Hades, cuja ajuda eu agradecia mas preferia que tivesse se contido em usar meu corpo daquela forma. Forço todo o medo, o controle e o ódio para fora, usando a força de Hades pra banir a todos inclusive ele mesmo. Eu iria ouvir apenas a mim mesmo por um bom, bom tempo a partir de agora.

Se conseguir, ajoelho-me no chão, sentindo-me fraco, débil mas muito, muito satisfeito. E aliviado... Olho pro corvo no ombro e confiro se Habe ainda estava ali. Se sim, dou-lhe um sorriso e encosto suavemente em sua mente com a minha, como faria com uma alma ou um corvo;

- Obrigado, Gabe. Acho que você foi o único a me ajudar, aqui. Você irá ficar? - Pergunto-lhe.

Nível 1 – Umbracinese: Os filhos de Hades possuem a habilidade de controlar as sombras de acordo com a sua WIS vezes 1,5. Podem moldá-las ou desgrudá-las das superfícies, usando-as para erguer pequenos objetos até moldar as sombras em objetos sólidos, aprisionar alguns inimigos dentre outros. O uso dessa habilidade consome pelo menos 20 pontos de energia à 100 e podem acrescidos de acordo com a quantidade de elemento controlado, a decisão ficando ao encargo do narrador. Essa habilidade poderá ficar ativa por mais de uma rodada, como por exemplo para fazer uma pequena segurar um objeto, caso isso ocorra o custo por rodada será igual ou semelhante ao custo inicial, tudo definido pelo narrador.

Nível 11 - Amedrontar: O personagem cria uma ilusão com os maiores medos de seu inimigo, fazendo-o ficar paralisado e aterrorizado por 2 rodada. Requer contato visual com o alvo para se ativar esta habilidade. Essa Habilidade consome 60 pontos de energia. A habilidade entrará em espera durante 3 rodadas. O narrador decide os efeitos específicos desse poder.

Nível 13 – Devorasombras: O garoto possui um elo enigmático com sua sombra, a qual possui as próprias propriedades peculiares mesmo dentre os filhos de Hades. Assim como o diamante das almas absorve as almas e o ferro estígio a essência dos corpos dos mosntros mortos, o semideus consegue absorver suas sombras para a sua própria, fortalecendo-a. A cada sombra devorada (requer contado sombra-com-sombra após a morte) o semideus recebe 1 Stack. Cada 5 Stacks fornecem 1% de WIS bônus ao utilizar a própria sombra. Cada Stack fornece 1 WIS base que pode ser utilizado por rodada para ser utilizada com habilidades/umbracinese usando a sombra do garoto, sem consumir sua energia para tal (ou seja, com 50 stacks poderia usar umbracinese equivalente a 50 WIS sem gasto de energia, ou utilizar sua habilidade Chamado da Noite para invocar a quantidade equivalente de corvos de sua sombra sem gasto de energia, etc).

Shoto libera as barragens da represa de emoções múltiplas, cada um de uma fonte. O carnaval de vozes em sua mente quase que o faz esquecer quem ele era. Não ligando para isso no entendo, ele descarrega tudo que tinha contra Verônica e grita estridentemente de dor e agonia. A medida que seu contrato com seu pai e as almas ali fora cumprido, a sombras de Hades deixam o corpo do garoto deixando-o absurdamente exausto. Antes que perdesse a consciência no entanto, ele vê a sombrar imitarem a forma de seu Pai sugando para dentro de suas vestes incorpóreas todas aquelas almas junto com a garota agora morta.

Tudo concentrou-se num único ponto até que um pico de energia implodiu deixando nada além de vísceras e carcaça despejadas no local. Shoto não consegue mais se manter consciente, e abraça a exaustão como uma velha amiga, desmaiando.

Henry sobe a colina enquanto escutava os gritos de dor e agonia, imaginando o que Shoto poderia estar fazendo. Até que toda a gritaria cessa subitamente e ele sente uma presença esmagadora, sabia que havia um deus alí, muito provável que fosse Hades. Sua aura então se comprimiu e implodiu deixando somente a memória do ocorrido vagar pela ilha. Ao chegar na pequena cabana no topo da colina, Henry vê na porta o símbolo de Phobos. Ele sente uma energia de medo sutil mas constante envolvendo a estrutura, mas sua mente já estava blindada para aquela situação, ainda mais depois da morte de Verônica. Ele abre a porta e uma cama, duas mesas e uma estante. A cama era pouco importante já que era algo comum. Na estante no entanto ele percebe uma variedade abundante de amostras de monstros conservados numa espécie de formol. Sobre uma das mesas, se encontravam manchas de sangue e carcaças de monstros retalhadas demais para ser considerado espólios. Na outra mesa havia anotações e dois livros, um aberto e um fechado. Também havia um cristal no centro de um suporte desenhado de runas. No entanto não podia sentir nada vindo daquilo, estava completamente oco. Nas anotações constavam o resultados de seus experimentos: aves de estinfália, harpias, pequenas serpentes marinhas, cães das sombras, grandes escorpiões de cristal e por último o polifemo.

No livro aberto ele acha uma espécie de anotações científicas como um diário, detalhando ferramentas e técnicas de dissecação utilizadas nos experimentos. No livro fechado ele encontra aquilo que procurava: o cristal era um recipiente de energia cujo quando assimilado a um de seus experimentos transformava-os em marionetes controladas pela energia de medo imbuída no cristal. Um segundo cristal se ligaria ao que fosse assimilado para monitoramento e manipulação a distância, tendo o alcance de até 2km. O cristal uma vez assimilado envenenava a mente do alvo com energia horripilante induzindo o mesmo num estado de choque causado por um medo profundo e selvagem. Henry pensa então se aquilo funcionaria com seus poderes de charme e persuasão. Um tanto decepcionado por não achar o que buscava inicialmente, um controle tão forte e resistente que transcendia até a morte, mas satisfeito com o que achou. Ao descer a colina ele vê seu companheiro desmaiado e um corvo de sombras deitado ao seu lado. Ao se aproximar o corvo diz:

-Obrigado por me libertar, serei eternamente grato. Embora eu esteja preso a essa forma de sombras manipuladas, eu encaro isso como uma segunda chance... muito obrigado mesmo. - diz o corvo com uma voz "grasnada" como quem se acostumasse com ela

Henry fica de có có có com o corvo interage brevemente com Gabe, agora reencarnado num corvo de sombras. Da uma olhada ao redor e percebe um olho e um cristal dando sopa e aproveita para colocá-los em sua mochila. Ele pega o colega guarda nas costas e segue até o aeroporto. No meio do caminho Shoto acorda no taxi, ainda meio zonzo, com a memória em frangalhos, tentando se lembrar do que tinha acontecido na ilha.

Abro meus olhos.

Fito Henry. Depois Gabe.

Sorrio e volto a fechar os olhos, que doíam demais pra ficarem abertos.

Na verdade, tudo doía... Apesar disso eu sentia uma estranha satisfação em meu âmago, e agarrava-me a ela em busca de conforto para meu espírito, que estava confuso e despedaçado. Eu tinha uma vaga noção do que tinha acontecido, e usava isso como base para ir colando como um quebra cabeça os fragmentos de memória que me vinham à mente. Aos poucos a imagem geral começava a se formar, embora ainda houvessem vários pontos cegos.

Cutuco Henry e olho-o tentando perguntar silenciosamente se ele conseguiu o que queria, fosse o que fosse. Se ele responder positivamente eu aceno, satisfeito, e volto a me encolher para dormir. Olho para o corvinho pousado em meu ombro e encaro-o por um momento.

Você vai conhecer nossos irmãos. Não se preocupe; nenhum deles é normal.

De fato. Ele ser um corvo provavelmente não seria lá muito alvoroço em nosso chalé, visto que eu mesmo já passava metade do tempo como um, e ainda sabia que havia outro antes de mim que fazia o mesmo, anos antes de eu chegar ao Acampamento. Eu me perguntava quem era o tal filho de Hades a usar corvos além de mim.

Penso comigo mesmo que, na verdade, era um tanto surpreendente o que tínhamos feito. Em meu tempo no Acampamento eu já tinha ouvido falar de semideuses em missão que operaram cenas miraculosas e dignas de histórias. Pela primeira vez eu sentia que tinha feito algo grande, ou significativo. Não achar um semideus perdido, ou matar um minotauro come lixo na floresta. Eu sentia que tinhamos vencido algo como... Um inimigo de nossa raça. A perspectiva era animadora. Olho para Henry me perguntando como ele estaria se sentindo sobre aquilo. Era sempre uma incógnita o que se passava em sua cabeça. De alguma forma eu me sentia atraído por ele, porém também sentia que iria me arrepender se me aproximasse demais. Como um sol, ele iluminava meu dia, mas queimava minha pele.

Na verdade, acho que me faria bem um tempo longe do filho de Afrodite. Afinal, se ele decidisse me beijar de novo eu provavelmente precisaria de um esquadrão de psicólogos, levando em conta o estado mental que já estava.

O que acha de passearmos por Manhattan depois que estivermos descansados dessa aventura toda?, pergunto a Gabe. O cara provavelmente nunca teve a chance de andar por aí em paz, sendo protegido por outra pessoa e não fugindo. Eu iria ensinar ele sobre a vida de um corvo, e como bater carteiras e roubar torradas sem jamais ser notado.

Cochilo algumas vezes durante o restante da viagem, acordando vez ou outra para questionar Henry sobre algumas lembranças. Também lembro-me dos diamantes e dele ter ido investigar a cabana de Verônica e questiono-o acerca do que faziam aqueles cristais, e do que ele havia encontrado na toca da filha de Phobos.

Os jovens seguem de volta para o acampamento depois de muitos acontecimentos nada ortodoxos. Shoto deixa o relatório nas mãos de Henry enquanto se recupera das sequelas momentâneas que enevoavam suas memórias. O garoto tirou um tempo para se recuperar bem como conversar e apresentar o local a seu irmão, agora reencarnado num corvo de sombras.

Henry então esconde seus achados no chalé e segue até os escritórios de Quíron para dar o relatório da missão realizada. Disse ao centauro praticamente tudo do que descobrira no local, deixando de lado os conteúdos da pesquisa de Verônica. Após ouvir atentamente todas as palavras do filho de Afrodite o chefe do acampamento então lhe disse:

-Vocês cumpriram com primor a missão de vocês, embora estivesse preocupado com o envolvimento da filha de Phobos. Não sabemos exatamente quem são eles e como eles planejam agir daqui pra frente, mas estaremos vigilantes. Peço que não torne essa informação pública ainda, não queremos que os filhos de Phobos que estão sob nossa tutela sejam rechaçados pelas ações de outros. Quanto a esse cristal, irei pedir para feiticeiros discretos o analisarem com maior detalhe e visão crítica. Obrigado pelos seus serviços, agora aproveite seu merecido descanso.