Dentro do chalé de Hermes, o pequeno Sebastian sentia uma inquietação em seu íntimo, fazendo-o permanecer sentado em sua cama em silêncio. Vários outros indefinidos e os filhos de Hermes presentes conversavam agitados. Contudo, o chalé mergulhou em um silêncio profundo quando uma figura surgiu à porta.

- Procuro por Sebastian Black. – disse Valkiria, caçadora de Ártemis e filha de Atena.

O pequeno arregalou os olhos de espanto e logo dezenas de mãos apontavam para ele. Sob o olhar sério da caçadora, o garoto se levantou e caminhou até ela.

- Venha comigo. – pediu ela, dando um sorriso discreto.

Ele assentiu e logo ela os guiava até a Casa Grande. Eles entraram na construção branca e, depois de passar por alguns corredores, escadas e portas, entraram em uma sala.

Ali, estavam Quíron, em sua cadeira de rodas; Adam, conselheiro de Deméter; Orlando Muller, filho de Tânatos; e uma mulher, de costas para a porta de entrada.

- Aqui está o indefinido, milady. – anunciou Valkiria, fazendo uma reverencia para a desconhecida.

A mulher se virou e seus olhos muito cinzas rapidamente fixaram-se no indefinido, que sentiu-se completamente analisado por aquele olhar sério.

- Obrigada, filha. – disse eu, Atena, voltando meu olhar para Valkiria.

Com um largo sorriso, a caçadora fez outra reverencia e deixou-nos. Com um movimento simples, pedi para que os campistas se sentassem e logo fui atendida.

- Vocês devem estar se perguntando porque eu estou aqui e, principalmente, porque foram chamados. – falei, permanecendo em pé onde estava, continuando depois de olhar para todos os presentes – Há algum tempo, o Senhor do Submundo vem enfrentando conflitos internos e, para seu total desagrado, não conseguiu resolvê-los sozinho. Hoje, ele enviou um pedido de ajuda à mim e ao Senhor do Olimpo.

Os campistas mais velhos arregalaram os olhos. Também Quíron ficou espantado, mas soube disfarçar. Já Sebastian ficou apenas confuso e curioso.

- Com a mudança das eras não apenas nós – os deuses – mudamos, mas também os monstros – como vocês bem sabem – e alguns dos nossos servos. O Senhor do Submundo possui vários destes servos, alguns tão poderosos que são temidos por todas os seres vivos.

Orlando cruzou os braços e deu um sorriso arrogante, captando meu exemplo.

- Dentre estes servos, existem os três juízes. Eles são o conflito interno. – falei, sem mais delongas – Eu vim até aqui para selecionar um grupo para ir até o Submundo e auxiliar seu Senhor a selar um acordo definitivo com os juízes. É por isso que vocês foram chamados.

Logo que terminei de falar, Sebastian fez sua declaração e saiu para se preparar, sendo seguido pelo filho de Tânatos. O conselheiro de Deméter permaneceu, fazendo perguntas relevantes e importantes.

- Vá preparar-se, conselheiro. Explicarei tudo quando estiverem reunidos novamente. – dei-lhe a permissão de se aprontar e ele logo saiu.

Os campistas se equiparam, cada um em seu chalé, e se encontraram novamente à porta da Casa Grande. O indefinido entregou suas poções a Orlando e, juntos de Adam, retornaram para a sala, onde eu e Quíron aguardávamos em silêncio, e se sentaram novamente, fazendo seus equipamentos tilintarem.

- Sabiamente, o conselheiro de Deméter me fez algumas perguntas. O modo como chegarão ao Submundo será de acordo com a vossa escolha. Como sabem, há duas entradas, uma em Los Angeles e outra em Nova York. – deixei que pensassem por alguns segundos nos caminhos que tinham antes de continuar - Quanto à questão da recepção, todos sabem que vivos não são permitidos no Submundo. Assim como outros semideuses que ousaram entrar no Reino dos Mortos, vocês também terão que vencer os desafios que foram impostos. Nenhum deus pode interferir nisto, nem mesmo o Senhor do Submundo.

Não me surpreendi perante as reações dos garotos. Obviamente não era agradável a missão que lhes fora imposta.

- A missão de vocês é de “mensageiros da boa fé” do Senhor do Submundo, que, com meu auxílio, redigiu um acordo para com seus juízes. Vocês devem entrar no Tribunal do Submundo, entregar esse acordo e fazê-lo ser firmado. – acrescentei uma ênfase generosa às ultimas palavras.

Retirei um pequeno rolo de pergaminho negro e com um selo vermelho sangue de dentro do meu blazer e caminhei até a mesa onde os campistas estavam sentados. Olhei para cada um deles e, por fim, virei-me para o pequeno indefinido, estendendo o acordo para ele. Quíron arfou em sua cadeira enquanto os campistas mais velhos me encaravam sem acreditarem no que viam. Sebastian oscilava seu olhar entre mim e o pergaminho, incerto. Por fim, ele pegou o rolo de pergaminho, ainda confuso.

- Milady… - começou Quíron.

- Exigência de meu pai. – cortei-o com segurança, lançando à ele um olhar sério.

Ele coçou a barba, parecendo entender e encostou-se em sua cadeira novamente. Voltei-me para os campistas, estava na hora de partir.

- Vocês escolhem o caminho para percorrer. Sejam sábios e, acima de tudo, confiem um no outro. – aconselhei-os, partindo em seguida.

- Vocês ouviram Lady Atena, como pretendem partir? – perguntou Quíron, aproximando-se da mesa, seus olhos brilhando em expectativa embora seu rosto estivesse levemente preocupado.

Rapidamente Sebastian altera sua postura e modos, decidindo pelo caminho que seguiriam. Sem pedir qualquer auxílio à Quíron, os três campistas saem da Casa Grande e em poucos minutos estavam na beira da estrada. O conselheiro atira sua moeda, que rapidamente desaparece.

Instantes depois surge a carruagem das Irmãs Cinzentas. Os três entram e Adam informa o destino enquanto as irmãs já discutiam pela moeda e pelo olho. Elas pararam apenas quando Orlando terminou sua fala. Um instante de silêncio e elas começaram a rir, divertidas.

A carruagem disparou pela estrada e, algum tempo depois, parou na entrada do Central Park.

- A Entrada de Orfeu, o mais perto que podemos lhes deixar. – disse uma das velhas, um sorriso irônico no rosto feio.

Desgostosos, os garotos descem e logo a carruagem desaparece. A Entrada de Orfeu era no Central Park, mas onde exatamente eles teriam que descobrir.