Sebastian arqueia a sobrancelha, irredutível, e solta suas palavras sérias e cheia de significado e poder. Conforme ele falava, os juízes laterais trocaram olhares e fitaram o central várias vezes. Às vezes, quando a voz de Sebastian era mais poderosa, eles concordavam com o que ele dizia, sem perceberem. A cada palavra, as mãos do juiz central apertavam-se em volta da borda da arquibancada. A máscara ocultava seu rosto, mas um ruído de dentes apertando-se era ouvido fracamente.

Quando o pequeno finalizou com sua decisão, Adam completou com uma sugestão humilde e Orlando lembrou a todos a existência do acordo proposto por Hades. Nesse momento, o juiz central endireitou-se e parecia estar prestes a falar quando o da esquerda falou primeiro:

- O filho de Tânatos tem razão, voto para que demos aos mensageiros um voto de confiança.

- Eu concordo. – disse o da ponta direita.

O juiz central virou-se para os dois companheiros, suas mãos apertavam com ainda mais força a borda da arquibancada, parecia querer partí-lo.

- Que assim seja! - esbravejou ele, fazendo os outros dois juízes encolherem perante a força feroz e gélida de usa voz.

O líder dos guardas adiantou-se e pediu o pergaminho à Sebastian, que entregou ainda em dúvida. Rapidamente o fantasma passou o item ao juiz central, que rompeu o selo com violência e logo estava lendo, silenciosamente. De algum modo estranho os outros dois juízes pareciam estar lendo também, mesmo que o pergaminho estivesse às vistas apenas do juiz central.

- Isso é uma afronta! – explodiu o juiz central, o pergaminho queimando em suas mãos – Essa oferta é ridícula.

Os outros dois juízes pareciam meio perdidos, trocando olhares. Mas eles concordaram com o central com maneios de cabeça quando ele lhes lançou um olhar forte.

Algo parecia estar errado ali, não perecia muito justo aos olhos dos semideuses.

Sebastian nota a intervenção e força do juiz central, que acabava por sobrepor e intimidar os demais juízes. Ele fala com firmeza e convicção. O ar em volta deles fica pesado e todos sentem um quê de ódio e poder no ar, enquanto a máscara do juiz central parecia tremer. Quando todos os semideuses terminaram, todos olhavam para o juiz central, que parecia que iria explodir a qualquer minuto.

Por fim, o primeiro a fazer algo foi o juiz da direita. Ele retirou sua máscara, revelando um rosto aristocrático e inteligente.

- Sábias palavras, jovem semideus. – era perceptível um sotaque britânico em suas palavras.

- Quando eu redigi a declaração da independência, todos foram ouvidos. – assinalou o juiz da esquerda, também retirando sua máscara.

- Shakespeare... Thomas Jefferson. – disse Adam, suspreso.

- Correto, filho de Deméter. E respondendo à sua pergunta, Minos não é quem manda. – respondeu o escritor inglês, sentado à direita.

- Apenas nos convencera de que o Submundo estaria melhor sob outra direção. – completou o antigo presidente do EUA.

- E eu estou certo! – esbravejou Minos, retirando sua máscara e revelando seu rosto frio.

- Não mais sob o meu ponto de vista. – disse Shakespeare.

- Nem sob o meu. – afirmou Thomas Jefferson.

- Então vocês vão aceitar a proposta ridícula de Hades? – perguntou Minos, seu rosto ainda mais branco e enraivecido.

- Pelo Rio Estige, eu aceito. – disseram os outros dois juízes, juntos.

Os semideuses trocaram olhares vitoriosos.

- Não me resta mais nada então. – grunhiu Minos, olhando friamente para Sebastian como se dissesse “Você me pagará por isso” – Pelo Rio Estige, eu aceito.

Tudo continuava igual, não houve nenhum sinal de que um acordo havia sido selado.

- Agora sumam daqui! – gritou Minos, fazendo sinal para que o líder da guarda os retirasse dali.

Os guardas fantasmas levaram os semideuses para além do pavilhão. Enquanto saíam, eles puderam ver os juízes recolocando suas máscaras e retomando seu serviço. Dessa vez o julgamento demorou mais e, quando a alma foi liberada, pareceu perfeitamente justo.

Quando eles saíram, os guardas os olharam sem saber o que fazer. Para sorte dos semideuses, tudo ficou escuro de repente. Quando eles puderam enxergar novamente, estavam na sala da Casa Grande onde Lady Atena havia lhes passado a missão e onde novamente ela estava.

- Bem vindos de volta, semideuses. – desejei para eles – Estou certa em dizer que o acordo foi selado?

Quíron estava ali também, sentado em sua cadeira de rodas, olhando-os atento.