Paro alguns instantes, olhando o meu outro eu. Pisquei os olhos, ainda mais confuso do que antes. Vi minhas mãos tremerem com medo de mim mesmo e aproximei as mãos do espelho, tentando tocar meu rosto. Suas palavras afundaram em mim e pouco a pouco eu já não conseguia mais pensar na mulher ou no bebê. Apenas em mim. Como eu poderia ser algo como aquilo? Cerrei os olhos.

- Não sou um demônio - Afirmo tentando achar confiança na expressão - Sou um meio-sangue... um herói - Vejo seu sorriso maquiavélico. Estava de frente para mim mesmo, mas... não podia ser. Não queria acreditar que fosse. Lembrei-me do bebê de pele vermelha e olhos pulsantes, com uma maldade transbordando em seu semblante. Senti o mesmo ao fitar meu reflexo . - Nunca vou ser você -

Vi o clone duvidar das minhas palavras e parei diante da prisão novamente. Lá estava a mulher ainda no sono. Podia sentir a energia emanando de seu corpo, me chamando para adentrar em seus pensamentos. Ao meu lado, o Thales malicioso se tornou um lanceiro, preparando-se para acertar mais um alvo. Minha mente foi guiada pelo instinto e não houve tempo para pensar. Tentei jogar-me a frente da parte laminada, de maneira que permitisse que a prisioneira continuasse a dormir.

Vi a dor que ela passara e a agonia que estava desde o momento que a conhecera. Estava em seu momento de paz. Já havia sido maltratada além do limite e, por mais que eu não entendesse com clareza o que se passava ali, com certeza ela não merecia uma lança em seu tronco. Caso não conseguisse interceptar a lança com meu próprio corpo, iria puxar o cabo, correndo se necessário e a girando, direcionando sua ponta para mim. Feito isso, tentaria não grunhir muito alto, contendo a dor de maneira a preservar seu sono. Não haveria forças pra tentar sair a busca do bebê demônio, então apenas me permitiria sofrer um pouco, fazendo isso quantas vezes forem necessárias e com seja lá quantas lanças forem jogadas.