Desconfiada como estava, a serpente acabou cometendo o ledo engano de olhar para baixo, para as gramas que se revolviam com intensidade, quase como se estivessem ensandecidas. Com tantos truques que a semideusa vinha produzindo, a serpente-quadrúpede viu-se na necessidade de verificar qual era o próximo, tendo sua cabeça empalada pelo arremesso da semideusa, que rapidamente atravessou seu crânio e a matou.

Ao seu redor, as restrições pareceram ceder, liberando o caminho, mais a frente ela viu, pela segunda vez, um raio crepitar no céu e atingir o chão. Parecia ser na clareira onde tinha ganho sua pulseira.

Ao chegar na clareira, as flores há muito haviam murchado e a dríade das flores se encontrava desmaiada num canto, com uma expressão doente, uma mancha negra se espalhava pelo seu abdômen.

No centro, uma espécie de árvore podre meio humanoide estava agora queimada pelo raio que caíra em sua cabeça e queimara suas folhagens, marcas de cortes acompanhavam todo o seu tronco. O filho de Zeus estava flutuando fracamente, arfando pela batalha que havia ocorrido.

— Kate, que bom que está a salvo! Porque ficou para trás? Não sabe que é perigoso sair correndo por aí? Tem muitos monstros nesse parque! — Falou meio numa bronca, meio despreocupado, enquanto olhava preocupado para o Oeste. — A coisa tá feia demais...Se a Dalhia estivesse aqui seria um pouquinho mais fácil pra mim, mas vamos...Ainda temos que cuidar do grandão que tá nos esperando onde estava o carvalho!

Disse, pousando ao lado da garota e guiando-a para a colina onde havia ganho seu primeiro presente.

Quando finalmente conseguiram chegar no fim do bosque, a garota quase preferiu voltar e encarar uma segunda serpente.

A criatura tinha seis metros e seus traços eram difíceis de discernir, especialmente por causa das sombras que a formavam, mas era evidente que podia ser considerado a fonte da corrupção que vinha acometendo todo o parque, tornando o solo negro e bolorento, como se tudo estivesse em decomposição.



— Eu vou ter que invocar mais de um raio dessa vez! Vou chamar a atenção dele, tente não morrer! — Disse, antes de começar a voar.

O Peter Pan voava de um lado para o outro, cortando sempre que tinha a oportunidade os braços da coisa, mas era visível que tratava-se de ferimentos superficiais.

A semideusa percebeu que, apesar de grande, o monstro tinha uma mobilidade muito letárgica, característica que Kyle vinha explorando com seus vôos. Em dado momento, o rapaz emitiu um flash contra os olhos do gigante, que recuou trôpego, arranhando o vazio onde Kyle já não estava.

— Pegue as pernas dele! — Gritou, enquanto sua espada se transformava em um chicote e envolvia completamente o ombro do monstro, abrindo um ferimento profundo quando o garoto puxou o instrumento eletrificado.

A semideusa resolve fazer as plantas se atarem aos pés do gigante, o que não o prendeu de fato, mas devido a cegueira fez com que o desequilibrasse um pouco para trás, oportunidade que Kyle aproveitou para agarrar sua espada que se expandiu até virar um chicote e laminado todo eletrizado que se fechou no pescoço do monstro. Em vôo, o rapaz mergulhou, usando a inrécia do movimento para levar o monstro ao chão, onde fora acertado por um novo raio, chamuscando a criatura, que pareceu parar de se mexer e diluir-se em lodo e decomposição.

Parecia tudo tranquilo, mas do meio da poça negra, uma forma ainda desconhecida apareceu, olhando para a semideusa com profunda ira, mas o garoto voador pareceu espantá-la, pois no momento em que ele se aproximou, a coisa desapareceu, deixando a inscrição em meio ao lodo "Eu voltarei"

— Droga, ela fugiu...Bjorn vai ficar uma fera. — Disse, revirando os olhos, mas pegou o celular na mochila e digitou algumas coisas. — Aparentemente essa coisa aí estava tentando se erguer, usando a energia vital das dríades do local. Com nossa intervenção ela não está com a corda toda, mas as dríades tiveram que sofrer pra isso...Não se preocupe, quando a Dalhia chegar ela dá um jeito nessa bagunça. — Encerrou sua afirmação dando de ombros. — Olha...Isso não vai ser nada agradável na primeira vez, mas estará segura pra onde vamos... — Ele disse, um pouco antes de uma poça negra envolvê-los e o mundo inteiro girar até ela estar dentro do que parecia ser um vale.

Haviam sido teleportados para o acampamento meio-sangue e uma fênix negra pousava no ombro de um garoto gigantesco, segurando um celular com suas mãos grandes, parecia que a qualquer momento, se ele se descuidasse, esmagaria o aparelho.

— Bom...Esse é o acampamento Meio-Sangue, nós fazemos o tour depois, agora precisamos falar com o Conselheiro de Atena... —Falou e a puxou para a cabana.