- Pode me chamar de Ingvi. - Ela se apresentou, colocando uma toalha quente sobre a testa de Leonardo. - Eu quem tratei de você na última semana, junto desse carinha aí. - Ela acariciou o rosto de Orion.


Leonardo pôde perceber que tinha runas tatuadas sobre seu corpo também, por baixo das faixas. Não as conseguiu reconhecer, pois a grande maioria estava coberta, mas sabia que estava se mantendo vivo por magia nórdica.


Olhou ao redor, e percebeu que era de fato um celeiro, mas haviam algumas prateleiras com livros velhos e algumas misturas estranhas. Sua mochila estava em um canto a uns 5 metros de distância, assim como alguns de seus equipamentos.

O filho de Atena fez diversas perguntas, e viu que algumas ela demorou um pouco para processar, enquanto outras foram respondidas de imediato. Foi uma conversa relativamente longa, e Leonardo escutou atentamente aos detalhes, apesar da dor de cabeça ainda tinha uma mente afiada como uma flecha. A garota disse que aquela era sua casa, ainda ao norte, e que depois de uma tempestade de raios que devastou a cidade vizinha, que ela chamou de "Nova Valhalla", uma nevasca horrível caiu e tomou conta do norte por três dias sem cessar.


Ela o viu, num desses dias, sendo carregado por Orion logo a frente de sua casa, estava ensanguentado, congelando e quase morto. Decidiu ajudar, e apesar dos tratamentos o garoto havia ficado desacordado por cerca de 7 dias.


- Eu conheço um pouco de runas. Meu pai era um mestre, sabe? - A runa nas costas de sua mão ardeu, enquanto ele se lembrou do trato feito em New York. - E então usei alguns dos tratamentos que conheço pra te manter vivo, seu corpo se regenerou muito rápido. - Ela parecia impressionada. - Pelos ferimentos que tinha, eu poderia jurar que você não iria acordar. Ao menos, não tão cedo.


Ela pareceu estranhar à menção de ópio e romã. Mas pegou a mochila do filho de Atena, e abriu-a diante dele. Lá ele encontrou o medalhão que havia recuperado no torneio, bem como todos os seus itens em segurança.

O ópio fez com que suas energias fossem restauradas, e a romã livrou seu corpo das dores. Ainda demorariam alguns minutos para se recuperar por completo, mas o filho de Atena tinha a certeza de que logo estaria de pé, revitalizado. Os poderes de sua matrona foram-lhe tão benéficos que por um momento, sentiu-se também melhor humorado, como se estivesse sentindo um sabor familiar, algo que o lembrava de casa, e era extremamente aconchegante.


Estudando momentaneamente a respeito dos desenhos feitos em seu corpo, ele percebeu que era a mesma runa, desenhada em cada membro ferido com o sangue de alguma criatura. Bode. Afirmou a garota ao notar a curiosidade do filho de Atena. A runa era conhecida como SOWILO:




Representava o sol. Lembrou-se de Apolo, e compreendeu a simbologia curativa daquelas runas. Percebeu também, que havia alguma magia não conhecida por ele, imbuída no sangue daquele bode. Fruto de sacrifício, talvez? Ele só saberia se perguntasse.


- Meu pai... - A feição de Ingvi foi banhada em melancolia. - Bem, ele está desaparecido há alguns dias. - Ela não manteve segredo, talvez ter cuidado de Leonardo por tanto tempo a fez se sentir próxima dele, mesmo que o garoto não sentisse o mesmo. - Saiu numa expedição, em busca de uma jóia para o Jarl de Nova Valhalla, e não retornou.

- Não sei se pode... - Ela olhou para o filho de Atena. - Digo, você tem armas e armaduras mas não parece ser nórdico. Um andarilho não conseguiria enfrentar os gigantes...


Ela fechou o rosto, como se a ideia de enfrentar gigantes também a assustasse. Leonardo não lia mentes, mas teve quase certeza de que o rosto da garota dizia: "Nem meu pai conseguiria". A jovem era sincera, disso ele sabia, e também pouco escondia do semideus.


Orion acordou, o cavalo assoprou com as grandes narinas e começou a se mover tentando colocar-se de pé no celeiro, jogando o corpo de Leonardo para o lado, fazendo-o perceber que a cura já havia sido completada.


- Nossa! Como você conseguiu? Eu demorei dias pra simplesmente conseguir consertar alguns dos seus ossos.

O filho de Atena sabia ser imponente, e foi. Pôs-se de pé como se nunca tivesse sido ferido, e viu admiração nos olhos da garota. A cabeça raspada não foi capaz de esconder o arrepio que ela sentiu pelo corpo, o semideus tinha uma aura verdadeiramente heroica, algo que não parecia ser frequente nos nórdicos daquela região. Ela relutou, mas o garoto insistiu o suficiente para que ela dissesse:


- Então... me deixe ir com você! - Havia uma determinação penetrante no seu olhar, algo que rebateria qualquer "não" dado como resposta. - Eu conheço as terras, posso lhe ajudar.


Como se o grego já tivesse aceitado, ela correu para um dos cantos daquele celeiro e pegou um mapa, era pequeno e parecia ser feito a mão. Leonardo conhecia amplamente a cartografia - assim como qualquer outra ciência - e não precisou de muitos esforços para reconhecer um desenho mal feito da Groenlândia, foi onde teve a certeza absoluta de que alguma coisa estava errada.


Sua mãe havia dito Alasca, não Groenlândia. A Deusa da Sabedoria se enganar, não era uma hipótese. E se ele estava em um território diferente do objetivo da sua missão, era evidente que ela não tinha acabado. Enquanto se perguntava sobre isso, o semideus percebeu que Ingvi agora estava extremamente motivada para sair em busca de seu pai.


- Ele foi nas terras ao norte, onde ficam os gigantes de gelo, entretanto não sei com precisão a direção que ele seguiu antes de desaparecer.


Como se indicado pelos Deuses a fazê-lo, Leonardo tocou o medalhão de gelo que havia recuperado do Jarl, e passou a compreender de imediato um dos seus poderes, quando este apontou como uma bússola dentro da cabeça do filho de Atena, a exata direção para onde o pai da garota havia ido.


Olhou bem para o medalhão, e viu inscrições pequenas no gelo. "A espada indica o caminho".